1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Desfecho inevitável

2 de março de 2011

Para analistas políticos, a pressão sobre o ex-ministro Guttenberg, acusado de plagiar a tese de mestrado, traria duras conseqüências – como a renúncia ao cargo – em qualquer democracia do mundo. Inclusive no Brasil.

Ministro não resistiu à pressão da opinião públicaFoto: picture-alliance/dpa

Nem mesmo a grande popularidade de Karl-Theodor Guttenberg foi capaz de segurá-lo no cargo de ministro da Defesa da Alemanha. Acusado de ter plagiado pelo menos dois terços de sua tese de doutorado, defendida em 2006 na Universidade de Bayreuth, Guttenberg não resistiu às acusações e renunciou nesta terça-feira (01/03) ao posto que ocupava desde o final de 2009.

Alguns analistas alemães avaliam que a decisão do ex-ministro foi tardia, e acabou desgastando a premiê Ângela Merkel, que tentou segurar Guttenberg na pasta. Boa parte da população alemã, no entanto, aguardava este desfecho para o escândalo – apesar de chegar a lamentar a saída de Guttenberg, que era tido até então como um político de carreira promissora. Em depoimentos dados à mídia local, muitos ressaltaram que erros grandes como este devem, sim, ser punidos.

Consequências em qualquer democracia

O diretor do Instituto Latino-Americano da Universidade de Berlim, Sérgio Costa, acredita que acusações desta gravidade, como plágio, teriam graves consequências em qualquer país do mundo – inclusive no Brasil. Especialmente porque Guttenberg era avaliado pela população como um político honesto e, principalmente, ético.

"Grandes escândalos dificilmente ficam impunes. Quando houve o episódio do mensalão no Brasil, por exemplo, o PT passou por uma grande recomposição para superar a crise", ressalta Costa, lembrando as denúncias de compra de apoio político no Congresso que atingiram em cheio a cúpula do primeiro governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2004.

Para o professor, no entanto, a diferença nas sociedades brasileira e alemã está na maneira como operam as instituições políticas e jurídicas nos dois países. Com uma democracia consolidada há mais tempo e com um sistema político menos suscetível a negociações escusas, a Alemanha apresenta uma maior rigidez institucional, o que ajuda a reduzir as chances de que ações ilícitas fiquem encobertas.

"A dinâmica de funcionamento do espaço público na Alemanha é outra. A relação entre política e meio de comunicação, por exemplo, é distinta nos dois países", afirma o estudioso.

Formação de maioria e pluralidade

Uma das razões seria o sistema de formação da maioria parlamentar em muitos países da Europa e no Brasil. Costa explica que, enquanto na Alemanha os apoios partidários e projetos políticos são definidos antes mesmo do início do governo, no Congresso brasileiro as relações entre Executivo e Legislativo precisam ser renovadas a cada votação. A maior pluralidade de partidos no Brasil também dificulta, para o professor, as negociações de projetos entre o presidente e os parlamentares.

O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, também acredita que o caso emblemático de um político jovem e com grande reconhecimento dentro de seu partido, a União Social Cristã (CSU), mas acusado de plagiar a tese de doutorado, dificilmente passaria impune no Brasil. Mesmo com o grande número de escândalos políticos no cenário nacional dos últimos anos. E a grande pressão, segundo Fleischer, viria da imprensa brasileira. "Já se sabia que a chanceler contava com a popularidade dele para as futuras campanhas políticas na Alemanha", analisa Fleischer.

Durante as duas últimas semanas, Guttenberg vinha sendo bombardeado pelos oposicionistas de Merkel, que assegurava sua permanência no posto, e pela mídia alemã.

Autora: Mariana Santos
Revisão: Augusto Valente

Pular a seção Mais sobre este assunto