Destruição de áreas florestais superou os 10 mil km² por ano no último triênio, patamar que não era registrado desde 2008, segundo estudo. Diminuição da fiscalização e falta de punição estão entre as principais causas.
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Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) nesta quarta-feira (02/02) apontou que a derrubada de florestas na região amazônica em um período de três anos, de agosto de 2018 a julho de 2021, foi 56,6% maior do que no mesmo período trienal anterior.
No período analisado pela pesquisa, o desmatamento na Amazônia ultrapassou os 10 mil km² por ano, o que não ocorria desde 2008.
Conforme o levantamento, o Pará segue na liderança do ranking dos estados com a maior destruição de áreas florestais desde 2017. No triênio 2019-2021, o Pará concentrou 43% do desmatamento do bioma, seguido por Amazonas (18%), Mato Grosso (16%) e Rondônia (13%).
Outros estados, como Acre (7%), Roraima (2%), Maranhão (1%), Amapá (0,03%) e Tocantins (0,03%), juntos, somaram 11% do total. Em termos proporcionais ao tamanho do território, porém, o Acre foi o que mais perdeu área de floresta, e registrou o segundo maior aumento de área desmatada entre os triênios analisados, de 104%. Nesse quesito, o Acre ficou atrás apenas de Roraima, que registrou aumento de 122% na área desmatada no mesmo período.
O desmatamento em terras indígenas registrou alta de 153% – foram 1.255 km² de floresta derrubados no triênio da pesquisa, comparado com 496 km² no triênio anterior. Já o desmatamento em unidades de conservação cresceu 63,7%, com 3.595 km² derrubados no triênio do estudo, contra 2.195 km² dos três anos anteriores.
Conforme a pesquisa, ao menos 51% do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, sendo 83% delas áreas de domínio federal.
As florestas públicas não destinadas, que não estão submetidas a regras específicas de proteção como as unidades de conservação e as terras indígenas, somaram quase um terço do desmatamento no bioma amazônico no período, com 3.228 km² derrubados por ano no triênio, alta de 85% comparada à média anual do triênio anterior.
Para o IPAM, a alta do desmatamento ficou mais evidente a partir da campanha presidencial de 2018 e da vitória de Jair Bolsonaro. O órgão atribui a devastação da floresta a uma série de causas, entre elas o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização, a redução de ações de combate ao desmatamento e de controle de atividades ilegais em áreas verdes, além da falta de punição a crimes ambientais.
E a tendência, segundo o IPAM, é de que o desmatamento continue em elevação nas áreas pesquisadas.
"Estamos subindo degraus rápido demais quanto à destruição da Amazônia e não podemos nos acostumar com isso. Quando olhamos para os números dos últimos três anos, fica claro o retrocesso daquilo que o Brasil foi um dia. Seguimos um caminho totalmente oposto às atitudes que o planeta precisa, com urgência, neste momento", afirmou a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, principal autora do estudo.
gb/bl (ots)
As principais florestas do mundo precisam de proteção
Na COP26, 100 países se comprometeram a acabar com o desmatamento e revertê-lo até 2030. Quais são as ameaças às florestas mais importantes do mundo?
Foto: Zoonar/picture alliance
Floresta Amazônica
A floresta amazônica é um importante sumidouro de carbono e um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Mas décadas de exploração intensa e criação de gado dizimaram cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, e menos da metade do que restou está sob proteção. Um estudo recente mostrou que algumas partes da Amazônia agora emitem mais dióxido de carbono do que absorvem.
Foto: Florence Goisnard/AFP/Getty Images
Taiga
Esta floresta subártica nórdica, composta principalmente de coníferas, se estende pela Escandinávia e por grandes partes da Rússia. A conservação da taiga varia de país para país. Na Sibéria Oriental, por exemplo, a rígida proteção da era soviética deixou a paisagem praticamente intacta, mas a crise econômica que se seguiu na Rússia gerou níveis cada vez mais destrutivos de extração madeireira.
Foto: Sergi Reboredo/picture alliance
Floresta Boreal do Canadá
As taigas subárticas da América do Norte são conhecidas como florestas boreais e se estendem do Alasca ao Quebec, cobrindo um terço do Canadá. Cerca de 94% das florestas boreais do Canadá estão em terras públicas controladas pelo governo, mas apenas 8% são protegidas. O país, um dos principais exportadores mundiais de produtos de papel, derruba delas cerca de 4 mil km2 por ano.
Foto: Jon Reaves/robertharding/picture alliance
Floresta Tropical da Bacia do Congo
O Rio Congo nutre uma das florestas tropicais mais antigas e densas do mundo, abrigando alguns dos animais mais icônicos da África, entre os quais gorilas, elefantes e chimpanzés. Mas a região também é rica em petróleo, ouro, diamantes e outros minerais valiosos. A mineração e a caça impulsionaram seu rápido desmatamento. Se não houver mudanças, a mata desaparecerá totalmente até 2100.
Foto: Rebecca Blackwell/AP Photo/picture alliance
Florestas Tropicais de Bornéu
A região ecológica de 140 milhões de anos se expande por Brunei, Indonésia e Malásia e abriga centenas de espécies ameaçadas, como o orangotango vermelho e o rinoceronte de Sumatra. Grandes áreas são degradadas pela exploração de madeira, azeite de dendê, celulose, borracha e minerais. O desmatamento proporcionou acesso a áreas remotas, impulsionando o comércio ilegal de animais selvagens.
Foto: J. Eaton/AGAMI/blickwinkel/picture alliance
Floresta de Primorie
Localizada no extremo leste da Rússia, a floresta de coníferas abriga o tigre siberiano e dezenas de outras espécies ameaçadas de extinção. Por ficar junto ao Oceano Pacífico, a floresta tem condições tropicais no verão e clima ártico no inverno. Sua localização isolada e esforços de preservação a deixaram em grande parte intacta, mas a expansão do corte comercial tornou-se uma ameaça crescente.
Foto: Zaruba Ondrej/dpa/CTK/picture alliance
Floresta temperada valdiviana
A floresta valdiviana cobre uma estreita faixa de terra de Chile e Argentina, na costa do Pacífico. Árvores perenes, de crescimento lento e longa vida, dominam partes da floresta, mas sua extração extensiva ameaça a vegetação endêmica, que está sendo substituída por pinheiros e eucaliptos de rápido crescimento, mas incapazes de sustentar a biodiversidade da região.
Foto: Kevin Schafer/NHPA/photoshot/picture alliance