Desmatamento no Cerrado cresce 25% e é o maior desde 2015
14 de dezembro de 2022
Foram destruídos 10.688,73 km² de vegetação nativa – equivalente a sete vezes a área da cidade de São Paulo – de agosto de 2021 a julho de 2022, segundo Inpe.
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O desmatamento da vegetação nativa do Cerrado aumentou 25,29% de agosto de 2021 a julho de 2022 em relação aos 12 meses anteriores. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (14/12) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Foram destruídos 10.688,73 km² da vegetação, equivalente a sete vezes a área da cidade de São Paulo. É o terceiro ano consecutivo de alta no desmatamento do bioma e a maior cifra desde 2015. Nos 12 meses anteriores, foram 8.531,44 km² e, em 2020, 7,9 mil km².
O Estado do Maranhão foi o que apresentou a maior área de vegetação nativa suprimida (2.833,92 km²), seguido pelo Tocantins (2.127,52 km²) e pela Bahia (1.427,86 km²).
Cerrado de fora de acordo da UE
A divulgação dos números ocorre apenas oito dias após negociadores do Parlamento Europeu e os Estados-membros da União Europeia (UE) chegarem a um acordo sobre uma lei para proibir a importação de produtos que contribuem para o desmatamento. No entanto, no Brasil, a norma abrange somente a Amazônia, deixando de fora o Cerrado, onde é produzia a maior parte das commodities brasileiras exportadas para UE.
O texto da UE rejeitou uma proposta para incluir outras áreas florestais em seu escopo, o que deixará 74% do Cerrado brasileiro fora da proteção. Entidades de defesa do meio ambiente receiam que esse desenho normativo irá provocar ainda mais pressão sobre o Cerrado e ampliar o seu desmatamento. A preocupação dos ambientalistas é que o bioma seja "sacrificado" em prol da Amazônia.
"Apesar deste cenário de destruição ambiental e do fato da maior pegada de desmatamento da Europa estar associada às exportações de soja do Cerrado, a maior parte do bioma ficou de fora do escopo", destaca Mariana Napolitano, gerente de ciências da ONG WWF-Brasil.
"As florestas cobrem apenas 26% dos remanescentes do bioma Cerrado, deixando 74% do bioma desprotegidos. Isso significa que a pressão de desmatamento nos ecossistemas não florestais do Cerrado deve aumentar", completa.
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Aumento da temperatura no Cerrado
Um estudo liderado por pesquisadores brasileiros e divulgado em julho pela revista Global Change Biology mostrou que, nos últimos 15 anos, o desmatamento no Cerrado fez com que a temperatura média em partes do bioma subisse até 3,5 °C.
Além de mais quente, a região, que abrange nove estados brasileiros e o Distrito Federal, ficou mais seca. Parte da água que retorna para a atmosfera por evaporação da superfície de rios, lagos, solo e transpiração das plantas, a chamada evapotranspiração, desapareceu. A combinação desses efeitos tem um resultado preocupante: redução das chuvas.
le/bl (ots)
As principais florestas do mundo precisam de proteção
Na COP26, 100 países se comprometeram a acabar com o desmatamento e revertê-lo até 2030. Quais são as ameaças às florestas mais importantes do mundo?
Foto: Zoonar/picture alliance
Floresta Amazônica
A floresta amazônica é um importante sumidouro de carbono e um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Mas décadas de exploração intensa e criação de gado dizimaram cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, e menos da metade do que restou está sob proteção. Um estudo recente mostrou que algumas partes da Amazônia agora emitem mais dióxido de carbono do que absorvem.
Foto: Florence Goisnard/AFP/Getty Images
Taiga
Esta floresta subártica nórdica, composta principalmente de coníferas, se estende pela Escandinávia e por grandes partes da Rússia. A conservação da taiga varia de país para país. Na Sibéria Oriental, por exemplo, a rígida proteção da era soviética deixou a paisagem praticamente intacta, mas a crise econômica que se seguiu na Rússia gerou níveis cada vez mais destrutivos de extração madeireira.
Foto: Sergi Reboredo/picture alliance
Floresta Boreal do Canadá
As taigas subárticas da América do Norte são conhecidas como florestas boreais e se estendem do Alasca ao Quebec, cobrindo um terço do Canadá. Cerca de 94% das florestas boreais do Canadá estão em terras públicas controladas pelo governo, mas apenas 8% são protegidas. O país, um dos principais exportadores mundiais de produtos de papel, derruba delas cerca de 4 mil km2 por ano.
Foto: Jon Reaves/robertharding/picture alliance
Floresta Tropical da Bacia do Congo
O Rio Congo nutre uma das florestas tropicais mais antigas e densas do mundo, abrigando alguns dos animais mais icônicos da África, entre os quais gorilas, elefantes e chimpanzés. Mas a região também é rica em petróleo, ouro, diamantes e outros minerais valiosos. A mineração e a caça impulsionaram seu rápido desmatamento. Se não houver mudanças, a mata desaparecerá totalmente até 2100.
Foto: Rebecca Blackwell/AP Photo/picture alliance
Florestas Tropicais de Bornéu
A região ecológica de 140 milhões de anos se expande por Brunei, Indonésia e Malásia e abriga centenas de espécies ameaçadas, como o orangotango vermelho e o rinoceronte de Sumatra. Grandes áreas são degradadas pela exploração de madeira, azeite de dendê, celulose, borracha e minerais. O desmatamento proporcionou acesso a áreas remotas, impulsionando o comércio ilegal de animais selvagens.
Foto: J. Eaton/AGAMI/blickwinkel/picture alliance
Floresta de Primorie
Localizada no extremo leste da Rússia, a floresta de coníferas abriga o tigre siberiano e dezenas de outras espécies ameaçadas de extinção. Por ficar junto ao Oceano Pacífico, a floresta tem condições tropicais no verão e clima ártico no inverno. Sua localização isolada e esforços de preservação a deixaram em grande parte intacta, mas a expansão do corte comercial tornou-se uma ameaça crescente.
Foto: Zaruba Ondrej/dpa/CTK/picture alliance
Floresta temperada valdiviana
A floresta valdiviana cobre uma estreita faixa de terra de Chile e Argentina, na costa do Pacífico. Árvores perenes, de crescimento lento e longa vida, dominam partes da floresta, mas sua extração extensiva ameaça a vegetação endêmica, que está sendo substituída por pinheiros e eucaliptos de rápido crescimento, mas incapazes de sustentar a biodiversidade da região.
Foto: Kevin Schafer/NHPA/photoshot/picture alliance