Dados atualizados pelo Inpe apontam um aumento de 12,3% em relação ao ano anterior, com 7,3 mil km² desmatados. Destruição é maior em região da Matopiba, área de expansão da soja.
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Depois de uma leve queda em 2019, o desmatamento no Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, segue a tendência da Floresta Amazônica e registrou aumento em 2020. Segundo o monitoramento anual feito pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2019 e julho de 2020 a destruição foi de cerca de 7,3 mil km², um aumento de 12,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Em 2019, o Inpe havia estimado que 6.484 km² haviam sido devastados, número 2,26% menor que o predecessor.
As informações atualizadas no site do Inpe ainda não foram divulgadas oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). "O Inpe está cumprindo o seu papel de tornar a informação pública e transparente. Qualquer um pode acessar e verificar os dados", comenta Claudio Almeida, coordenador do Prodes, sobre as informações atualizadas no site do instituto.
Dos 11 estados que abrigam o bioma, além do Distrito Federal, Maranhão foi o que mais desmatou entre meados de 2019 e meados de 2020, com 1,8 mil km² (quase 25% do total). Tocantins (21%), Bahia (12,5%), Mato Grosso (10%) e Goiás (10%) vêm na sequência.
Desmatamento em alta em unidades de conservação
Seguindo uma tendência de aumento observada desde 2017, a retirada da vegetação em unidades de conservação se manteve em crescimento em 2020, com alta de 13% em relação ao ano passado.
A área de proteção ambiental Ilha do Bananal/Cantão, em Tocantins, foi a mais destruída. A unidade, a maior do estado, faz parte de uma grande região produtora de soja e vive conflitos econômicos, sociais e ambientais. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) apontou que esse cultivo cresceu mais de 1.700% desde 2010 - e cerca de 25% da área plantada são ilegais.
O monitoramento anual da perda do Cerrado, que ocupa uma área de 2 milhões de km², ou cerca de 24% do território brasileiro, passou a ser feito a partir de 2018 pelo Inpe, seguindo os moldes do Prodes Amazônia.
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Desmatamento ligado à soja
"Esse foi um aumento expressivo no desmatamento. A gente saiu de um patamar de 6,5 mil km² para 7,3 mil km²”, comenta Laerte Ferreira, pró-reitor de pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenador da plataforma Cerrado DPAT.
Esse incremento pode estar associado a uma corrida para transformar vegetação nativa em áreas de cultivo antes da possível chegada da moratória da soja ao Cerrado. Esse acordo, em vigor na Amazônia desde 2006, envolve produtores e grandes compradores em torno de um compromisso comum: não comercializar o grão que venha de regiões desmatadas ilegalmente.
"Existe uma expectativa de que a gente possa ter uma moratória da soja no Cerrado. Algumas traders já começaram a recusar soja de áreas que foram suprimidas ilegalmente no Piauí e sul do Maranhão", afirma Ferreira.
Claudia Almeida concorda com essa possibilidade. "Matopiba é uma área que ainda está em expansão. Há muitos produtores abrindo áreas sem pensar nos possíveis impactos ambientais e até boicotes comerciais, como ameaçam grandes compradores como a União Europeia", adiciona.
Mais da metade do Cerrado brasileiro já foi destruída. A plataforma MapBiomas, que mapeia o uso da terra, mostra que 43,7% do bioma foram transformados em áreas usadas pela agropecuária. Pastagens e lavouras de soja são as paisagens predominantes.
Dados do MapBiomas analisados no mesmo período considerado pelo Prodes, de agosto de 2019 e julho de 2020, mostram um alto índice de ilegalidade. Dos 6.721 alertas de desmatamento no Cerrado, 6.375 (95%) vieram de locais que não tinham autorização para supressão da vegetação.
Dez ações contra as mudanças climáticas
Três quartos dos gases estufa são produzidos pela combustão de carvão, petróleo e gás natural; o resto, pela agricultura e desmatamento. Como se podem evitar gases poluentes? Veja dez dicas que qualquer um pode seguir.
Foto: picture-alliance/dpa
Usar menos carvão, petróleo e gás
A maioria dos gases estufa provém das usinas de energia, indústria e transportes. O aquecimento de edifícios é responsável por 6% das emissões globais de gases poluentes. Quem utiliza a energia de forma eficiente e economiza carvão, petróleo e gás também protege o clima.
Foto: picture-alliance/dpa
Produzir a própria energia limpa
Hoje, energia não só vem de usinas termelétricas a carvão, óleo combustível e gás natural. Há alternativas, que atualmente são até mesmo mais econômicas. É possível produzir a própria energia e, muitas vezes, mais do que se consome. Os telhados oferecem bastante espaço para painéis solares, uma tecnologia que já está estabelecida.
Foto: Mobisol
Apoiar boas ideias
Cada vez mais municípios, empresas e cooperativas investem em fontes energéticas renováveis e vendem energia limpa. Este parque solar está situado em Saerbeck, município alemão de 7,2 mil habitantes que produz mais energia do que consome. Na foto, a visita de uma delegação americana à cidade.
Foto: Gemeinde Saerbeck/Ulrich Gunka
Não apoiar empresas poluentes
Um número cada vez maior de cidadãos, companhias de seguro, universidades e cidades evita aplicar seu dinheiro em companhias de combustíveis fósseis. Na Alemanha, Münster é a primeira cidade a aderir ao chamado movimento de desinvestimento. Em nível mundial, essa iniciativa abrange dezenas de cidades. Esse movimento global é dinâmico – todos podem participar.
Foto: 350.org/Linda Choritz
Andar de bicicleta, ônibus e trem
Bicicletas, ônibus e trem economizam bastante CO2. Em comparação com o carro, um ônibus é cinco vezes mais ecológico, e um trem elétrico, até 15 vezes mais. Em Amsterdã, a maior parte da população usa a bicicleta. Por meio de largas ciclovias, a prefeitura da cidade garante o bom funcionamento desse sistema.
Foto: DW/G. Rueter
Melhor não voar
Viajar de avião é extremamente prejudicial ao clima. Os fatos demonstram o dilema: para atender às metas climáticas, cada habitante do planeta deveria produzir, em média, no máximo 5,9 toneladas de CO2 anualmente. No entanto, uma viagem de ida e volta entre Berlim e Nova York ocasiona, por passageiro, já 6,5 toneladas de CO2.
Foto: Getty Images/AFP/P. Huguen
Comer menos carne
Para o clima, também a agricultura é um problema. No plantio do arroz ou nos estômagos de bois, vacas, cabras e ovelhas é produzido o gás metano, que é muito prejudicial ao clima. A criação de gado e o aumento mundial de consumo de carne são críticos também devido à crescente demanda de soja para ração animal. Esse cultivo ocasiona o desmatamento de florestas tropicais.
Foto: Getty Images/J. Sullivan
Comprar alimentos orgânicos
O óxido nitroso é particularmente prejudicial ao clima. Sua contribuição para o efeito estufa global gira em torno de 6%. Ele é produzido em usinas de energia e motores, mas principalmente também através do uso de fertilizantes artificiais no agronegócio. Esse tipo de fertilizante é proibido na agricultura ecológica e, por isso, emite-se menos óxido nitroso, o que ajuda a proteger o clima.
Foto: imago/R. Lueger
Sustentabilidade na construção e no consumo
Na produção de aço e cimento emite-se muito CO2, em contrapartida, ele é retirado da atmosfera no processo de crescimento das plantas. A escolha consciente de materiais de construção ajuda o clima. O mesmo vale para o consumo em geral. Para uma massagem, não se precisa de combustível fóssil, mas para copos plásticos, que todo dia acabam no lixo, necessita-se uma grande quantidade dele.
Foto: Oliver Ristau
Assumir responsabilidades
Como evitar gases estufa, para que, em todo mundo, as crianças e os filhos que elas virão a ter possam viver bem sem uma catástrofe do clima? Esses estudantes estão fascinados com a energia mais limpa e veem uma chance para o seu futuro. Todos podem ajudar para que isso possa acontecer.