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Despreparada, a CPI da Pandemia vira um fiasco

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
26 de maio de 2021

Comissão do Senado deveria reunir provas da responsabilidade de Bolsonaro no trágico curso da pandemia no Brasil. Mas parece que o governo está sendo poupado, escreve Alexander Busch.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

É um grande circo político o que está ocorrendo em Brasília neste momento - mas com um pano de fundo sério demais para ser visto com diversão. Há exatamente um mês, uma comissão de investigação se reúne no Senado para documentar sistematicamente as falhas do governo na pandemia. Muitos na imprensa disseram que não havia necessidade da CPI. O argumento dos críticos é de que seria do conhecimento geral que o governo do negacionista pandêmico Jair Bolsonaro fracassou em todas as frentes, com 450 mil mortes até agora.

E de fato, com suas tiradas ofensivas diárias e aglomerações dominicais, o presidente continua a não deixar dúvidas de que não está nem aí para vacinação, uso de máscara ou isolamento social, e de que o destino de seus compatriotas lhe é bastante indiferente.

Mas depois de um mês, pode-se dizer: a CPI também é um fiasco. Ela não conseguiu atingir seu objetivo. Os resultados são vergonhosamente escassos. Após quatro semanas, o governo pode se vangloriar de ter lidado bem com uma situação arriscada. Depoentes aliados ao governo mentem sem restrições. Eles passam horas apresentando sua versão da realidade. Mas isso é de se esperar. Réus fazem isso para salvar suas peles.

O surpreendente, porém, é como aparecem os senadores e senadoras, despreparados e sem criatividade. Parece que eles não têm interesse real em reunir fatos que provem em detalhes que o governo está fracassando na pandemia. Por que eles não convocam representantes dos produtores de oxigênio para provar que o governo não se preocupou em fornecer tanques de oxigênio? Por que eles não entrevistam técnicos dos ministérios que podem fornecer provas detalhadas de que a encomenda de vacinas dos fabricantes foi boicotada a partir do topo? Esta lista de perguntas não respondidas poderia ser alongada o quanto se quiser.

Os senadores da "oposição" concentram-se na convocação dos representantes mais conhecidos e polêmicos do governo, que só fizeram uma coisa antes no cargo: mentir, seguir ordens e manter a boca fechada diante dos absurdos que o presidente e seus confidentes dizem diariamente.

Os senadores e as senadoras utilizam a CPI e a imprensa principalmente para a autopromoção. Muitas vezes, não fazem perguntas, e sim apelos vãos para si mesmos e para sua base - e concluem no final com uma pergunta simbólica. Perguntas rápidas rebatendo, contrainterrogatório de testemunhas, confronto com fatos? Isso não existe na comissão.

Parece que foi feito um acordo amigável nos bastidores para os participantes da CPI esquecerem sua ferocidade e tenacidade. Afinal de contas, as senhoras e senhores do Senado, de outra forma, provam quase diariamente nas lutas políticas internas no Congresso que podem ser astuciosos quando querem ser. Mas 2022 é ano de eleições, e eles precisam de fundos e projetos para seus bastiões eleitorais.

Tudo isso é um triste espetáculo. Especialmente quando se considera o que poderia ser feito. O Congresso é uma das câmaras legislativas mais caras do mundo. Cada um dos 81 senadores tem uma equipe média de 37 pessoas. Renan Calheiros, o relator da CPI, sozinho tem 51 assistentes e funcionários. Será que eles não poderiam pensar em nada para se perguntar na comissão?

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.