Destroço de iate de Saddam Hussein atrai turistas no Iraque
17 de março de 2023
Embarcação naufragou logo após invasão do país liderada pelos EUA há vinte anos. Hoje, carcaça é ponto de encontro para piqueniques entre pescadores.
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Na confluência dos rios Tigre e Eufrates, no Iraque, uma imagem parece ter sido congelada no tempo: os destroços enferrujados de um iate que naufragou há 20 anos, quando a invasão do país liderada pelos Estados Unidos pôs fim a décadas do regime opressor de Saddam Hussein. Trata-se do Al-Mansur (Vitorioso), que pertenceu ao ex-ditador e hoje virou atração turística e ponto de encontro para piqueniques entre pescadores locais.
Medindo 120 metros de comprimento e pesando mais de 7 mil toneladas, o antigo iate presidencial foi montado na Finlândia e entregue ao Iraque em 1983, segundo o site do designer dinamarquês Knud E. Hansen, responsável pela obra. Hoje, o que um dia foi símbolo da riqueza e megalomania do ex-líder iraquiano jaz caído de lado, meio submerso, nada mais do que um frágil eco das falsas glórias do passado.
"Quando era propriedade do ex-presidente, ninguém chegava perto dele", disse à agência Reuters o pescador Hussein Sabahi, que gosta de terminar um longo dia no rio Shatt al-Arab com uma xícara de chá a bordo dos destroços. "Custo a acreditar que isso pertenceu a Saddam e agora sou eu que transito por aqui", completou.
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Al-Mansur foi bombardeado em março de 2003
No período imediatamente anterior à invasão em 20 de março de 2003, o Al-Mansur estava atracado no Golfo. Algumas semanas depois, porém, Saddam emitiu ordens para que o iate, no qual ele nunca embarcou, deixasse seu ancoradouro em Umm Qasr.
A embarcação foi então levada até Basra, onde se encontra atualmente, "para protegê-la do bombardeio de aviões americanos", segundo o engenheiro marítimo Ali Mohamed. "Isso foi um fracasso", acrescentou.
De acordo com o ex-chefe de patrimônio de Basra, Qahtan al-Obeid, em março de 2003 "vários ataques" foram lançados no iate ao longo de vários dias. "Ele foi bombardeado pelo menos três vezes, mas nunca afundou", conta.
Em fotos tiradas por um fotógrafo da AFP em 2003, o Al-Mansur ainda pode ser visto flutuando na água, com seus andares superiores carbonizados por um incêndio que começou devido ao bombardeio. Mas em junho daquele ano, o barco já começava a se inclinar. O fator decisivo teria sido quando os motores foram roubados. "Isso criou aberturas e a água entrou, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio", disse Obeid.
No tumulto que se seguiu à queda de Saddam, o iate foi saqueado. Quase tudo foi removido, desde lustres e móveis até partes de sua estrutura de metal. Desde então, ele entrou em decadência. Embora alguns iraquianos defendam a preservação dos destroços, sucessivos governos não conseguiram alocar fundos para recuperá-los.
"Este iate é como uma joia preciosa, como uma obra-prima rara que se guarda em casa", disse Zahi Moussa, capitão naval que atua no ministério iraquiano dos transportes. "Nos entristece que esteja assim."
ip/cn (Reuters/AFP)
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.