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Destruição de Palmira pode ser reversível

Anne Allmeling (av)7 de outubro de 2015

Gradativamente, "Estado Islâmico" avança em seu trabalho de destruição, demolindo novos monumentos na cidade histórica. Pesquisadores de todo o mundo se empenham para impedir ou ao menos minimizar os danos arqueológicos.

Pátio do Templo de Baal, em Palmira, danificado pelos jihadistas
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid

Com suas colunas imponentes, ruas amplas e ruínas gigantescas, a cidade-oásis de Palmira, na Síria, é um dos mais famosos testemunhos da arte arquitetônica romana. Durante décadas, ela foi ponto de atração tanto para turistas como para pesquisadores.

Hoje em dia, porém, ninguém sabe exatamente o que ainda resta da antiga metrópole comercial, ocupada pela milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI) desde maio deste ano. Claro está que, pouco a pouco, os jihadistas vão destruindo seus templos, arcos de triunfo, mausoléus e outros monumentos.

Essas perdas constituem um tormento para cientistas de todo o mundo. "Palmira é um local único, pois simboliza cosmopolitismo e diversidade cultural, e fazia parte da rota comercial ligando a China ao leste do Mediterrâneo, passando pela Pérsia", explica Markus Hilgert, diretor do Museu do Oriente Médio Antigo de Berlim.

Markus Hilgert, diretor do Museu Oriente Médio, exorta a que já se pense em soluções para PalmiraFoto: Olaf M. Teßmer

"Palmira também é tão importante assim para nós por estar tão espantosamente bem preservada. Por isso, a perda dessas construções tão belas, visíveis de longe, é especialmente dolorosa."

Cientistas pessimistas

Nos últimos meses, o EI já lançou pelos ares os importantes templos de Baal e Baal-Shamin, assim como diversos mausoléus de Palmira. No início de novembro, os extremistas prosseguiram sua campanha destruindo o Arco do Triunfo de quase dois milênios de existência. Construído sob o domínio de Roma, por volta de 200 a.C., ele se situava à entrada das colunatas, na avenida triunfal.

Imagens de satélite divulgadas pela organização American Schools of Oriental Research (Asor) mostram a extensão da devastação. Numa entrevista, o mais destacado arqueólogo da Síria, Mamun Abdulkarim, declarou-se "muito pessimista" quanto ao futuro da cidade histórica.

Markus Hilgert igualmente teme que o EI venha a destruir inteiramente esse inigualável sítio arqueológico. Ainda assim, ele se recusa a dar Palmira por perdida. Como as ruínas foram relativamente bem estudadas e se dispõe de fotos e dados numerosos a respeito, ele considera possível uma reconstrução ou restauração de pelo menos parte das edificações demolidas.

"Um dia se poderá ver com mais clareza quão grave é a destruição, e o que ainda é possível fazer com os fragmentos que agora jazem no local", avalia o diretor do Museu do Oriente Médio Antigo.

Templo Baal-Shamin: vítima recente da cruzada anticultural do EIFoto: picture alliance/Kyodo

Fotos e impressoras 3-D

Para uma reconstituição, existem diferentes alternativas. Podem-se utilizar elementos arquitetônicos originais que tenham sido salvos, mas também é possível um reerguimento integral, como o empreendido no Palácio de Berlim. Hilgert confirma que tais medidas são tecnicamente viáveis, mas a pré-condição é que "a situação política tenha se acalmado" e que se tenha uma visão global da extensão dos danos.

Os cientistas discutem atualmente se, por um processo fotogramétrico, há possibilidade de construir modelos tridimensionais com base nas fotografias convencionais existentes. Considera-se também o emprego de impressoras 3-D.

"Estamos numa fase em que, em princípio, a tecnologia já está disponível", confirma o orientalista Hilgert. "Mas ela ainda precisa ser adequada às necessidades da ciência ou da arqueologia reconstrutiva."

E ele acredita que, no futuro, tais meios tecnológicos poderão ser empregados não só na Europa e nos Estados Unidos, mas também nos países do Oriente Médio em que, no momento, está sendo dizimado um número especialmente elevado de bens culturais.

Mesmo que a extensão da destruição ainda não seja calculável, Hilgert sugere que se comece a pensar desde já nas medidas preventivas ou reconstrutivas a serem tomadas.

"Não estamos indefesos, dispomos de meios, podemos pesquisar e criar infraestruturas", exorta o diretor do museu berlinense. "Acima de tudo, temos um dever moral de agir, pois é também ao intercâmbio com nossos colegas sírios que devemos o nosso saber. Por isso é tão importante nós retribuirmos com o nosso know-how e conhecimentos, e nos engajarmos para que esses tesouros não se percam para sempre."

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