Deutsche Bahn é criticada por batizar trem de Anne Frank
30 de outubro de 2017
Escolha é de mau gosto e insensível, afirmam internautas, que lembram que muitos judeus foram transportados de trem para campos de concentração. Nome Karl Marx também gera polêmica.
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A empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn está sendo duramente criticada por ter escolhido o nome Anne Frank para um de seus novos trens de alta velocidade ICE da série 4.
Os 25 trens, que começarão a circular em dezembro, terão nomes de personalidades da história alemã, como Albert Einstein, Marlene Dietrich, Heinrich Heine, Thomas Mann ou Konrad Adenauer, anunciou a empresa na sexta-feira passada (27/10)
Nas redes sociais, a opção por Anne Frank foi criticada como insensível e de mau gosto. Muitos judeus foram enviados para o extermínio em campos de concentração em trens da Deutsche Reichsbahn, antecessora da Deutsche Bahn.
A Deutsche Bahn defendeu a escolha e afirmou que Anne Frank "representa tolerância e uma convivência pacífica entre diferentes culturas, o que, em tempos como os atuais, é mais importante do que nunca".
A empresa lembrou que o nome foi um dos 2.500 sugeridos por mais de 19 mil pessoas que participaram de uma promoção para o batismo dos novos trens. A partir das sugestões, um júri escolheu os 25 nomes finais.
Nesta segunda-feira, a Fundação Anne Frank divulgou uma nota, em Amsterdã, sobre a escolha. "O batismo leva a controvérsias, o que compreendemos muito bem", afirma a organização, acrescentando que a associação do nome Anne Frank a um trem faz lembrar as deportações.
"Essa relação é dolorosa para pessoas que conviveram com as deportações e causa novas dores naqueles que precisam conviver com as consequências das deportações. Mas entendemos que iniciativas como essa costumam ter boas intenções", ponderou a fundação.
A família de Anne Frank foi deportada para o campo de concentração de Auschiwtz em 1944, e Anne foi morta mais tarde, em Bergen-Belsen, quando ela tinha 15 anos.
Usuários também criticaram a Deutsche Bahn por não ter pagado reparações por trabalho escravo durante o período nazista.
Outro nome que gerou polêmica nas redes sociais foi o do filósofo Karl Marx. Entre as piadas feitas pelos usuários está a pergunta se vai haver divisões por classes no trem que leva o nome do principal teórico do comunismo, no qual a luta de classes é um conceito central.
Estes são os 25 nomes escolhidos pelo júri:
Konrad Adenauer
Irmãos Scholl
Marlene Dietrich
Hildegard Knef
Fritz Walter
Ludwig Erhard
Elisabeth von Thüringen
Erich Kästner
Anne Frank
Adolph Kolping
Dietrich Bonhoeffer
Marie Juchacz
Käthe Kollwitz
Hannah Arendt
Margarete Steiff
Willy Brandt
Heinrich Heine
Thomas Mann
Bertha Benz
Karl Marx
Hedwig Dohm
Vicco von Bülow
Ludwig van Beethoven
Albert Einstein
Alexander von Humboldt
AS/kna/dpa/ots
Quem foi Anne Frank?
Jovem alemã escondeu-se na Holanda durante 25 meses, até que a família foi descoberta e deportada para Auschwitz, em 4 de agosto de 1944. Graças a seu diário, ela ainda é conhecida mundo afora.
Foto: picture-alliance/dpa
Margot, a irmã mais velha
Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Escondidos em Amsterdã
Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.
Foto: Daniel Kalker/picture alliance
O esconderijo
No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome "Albert Dussel". À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.
Foto: DW/H. Mund
Diário como confidente
O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. "O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada", diz um trecho do diário.
Foto: Ade Johnson/picture alliance/dpa
Morte no campo de concentração
Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.
Foto: picture alliance/dpa
Vida interrompida
Em Bergen-Belsen, há uma lápide com os nomes de Margot e Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. "Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte", diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.
Foto: Julian Stratenschulte/picture alliance/dpa
Famosa pelo diário
O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título "Das Hinterhaus"("A casa dos fundos"). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. "Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo", escreveu em 6 de julho de 1944.