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Dez perguntas e respostas sobre a crise no Iraque

Andreas Gorzewski (cn)13 de junho de 2014

Grupo EIIL tomou importantes cidades no norte e oeste do país. Cresce o receio de que de uma guerra civil violenta estoure no Iraque. Especialistas respondem questões centrais sobre o conflito.

Foto: picture-alliance/dpa

1. O que é o EIIL?

O grupo sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) se desenvolveu a partir de diversas organizações extremistas. Esses grupos lutaram contra a ocupação do Iraque pelos Estados Unidos e também contra o governo de Bagdá. Embora seja considerado um braço da Al Qaeda, em 2013, o EIIL, controlado por Abu Bakr al-Baghdadi, se opôs às ordens dessa organização.

O EIIL controla regiões, em meio à guerra civil da Síria e também no norte e oeste do Iraque. Seu objetivo é criar um Estado regido por uma legislação baseada em um entendimento rigoroso do Islã. Esse Estado compreenderia a região localizada entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Tigre.

2. Por que o Iraque parece ser impotente contra o EIIL?

O governo iraquiano do primeiro-ministro Nuri al-Maliki não conseguiu frear o rápido avanço do EIIL. Segundo Falko Walde, especialista em Iraque da Fundação Friedrich Naumann, há uma série de motivos para isso: Primeiro, o grupo terrorista se beneficia da fronteira permeável da Síria. Assim, a organização, que é ativa nos dois países, pode facilmente movimentar armas e combatentes, acrescenta Walde.

Além disso, há em Bagdá um vácuo de poder, pois desde as eleições parlamentares de abril Maliki ainda tenta formar uma coalizão, diz o especialista e acrescenta que o mais importante é, entretanto, a tensão confessional entre a minoria sunita e a maioria xiita.

Baghdadi é o líder do EIILFoto: Reuters/Rewards For Justice

Muitos sunitas no Iraque se sentem prejudicados. "Esse é o terreno fértil perfeito para que milícias como o EIIL desestabilizem cidades sunitas no Iraque", descreve Walde.

3. Qual é a importância do ataque a Mossul?

Com a tomada de Mossul, os jihadistas controlam, pela primeira vez, uma grande metrópole, importante tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico, pela localização. Esse é um enorme sucesso psicológico, que dá destaque ao EIIL perante outros extremistas sunitas, opina Walde.

A cidade é uma importante rota de exportação de petróleo e um ponto de convergência dos caminhos para a Síria, reforça o especialista. Mas a conquista da metrópole é apenas uma etapa para os extremistas que avançarão a partir dela, finaliza Walde.

4. Como os xiitas estão reagindo?

Os xiitas estão se sentindo ameaçados com o avanço dos sunitas. Segundo Myriam Benraad, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, algumas milícias xiitas, que por enquanto lutam ao lado do presidente da Síria, Bashar al-Assad, poderiam voltar ao Iraque. Além disso, diferentes grupos xiitas podem interferir no conflito para proteger a população xiita, reforça a especialista.

5. Qual a posição dos curdos que vivem no Iraque?

A população curda no norte do Iraque procura não se meter no conflito entre árabes sunitas e xiitas. Segundo Benraad, isso não vai dar certo. Por um lado, o EIIL e seus aliados tentam avançar sobre Kirkuk, cidade com importantes campos de petróleo, reivindicada por árabes e curdos.

Por outro lado, com medo do terror do EIIL, cada vez mais iraquianos estão fugindo para o norte do Curdistão, onde já há muitos refugiados da guerra civil síria.

6. O Iraque pode se dividir?

O governo central de Bagdá ainda controla oficialmente as províncias do país. Mas a divisão do Iraque entre árabes sunitas e xiitas e curdos já está bem avançada. "A divisão do Iraque é um perigo real", afirma Benraad. A especialista teme que o conflito se estenda por muito tempo e seja bem violento.

7. Quais são as implicações do conflito para os países vizinhos do Iraque?

No Iraque, os interesses de muitos Estados da região se chocam. Iraque, Irã, Síria e também o Hisbolá libanês são considerados um eixo xiita. Eles lutam contra os Estados sunitas para conseguir mais influência. Segundo Florence Gaub, especialista em Oriente Médio do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, apesar do governo xiita de Bagdá ter boas relações com o vizinho Irã, ele não é um fantoche de Teerã.

Além disso, há no Iraque muitos grupos sunitas e movimentos com interesses próprios, acrescenta o especialista. Outros países vizinhos, como a Turquia e a Arábia Saudita, são considerados sunitas.

Grupos sunitas passaram a apoiar o EIILFoto: picture-alliance/dpa

Segundo Gaub, no entanto, a situação é mais complicada. Os interesses dos sunitas iraquianos não são os mesmos, apesar de os radicais islâmicos estarem no centro das atenções, diz o especialista. Mas além deles há tribos sunitas, aliados do ex-regime de Baath, antigos militares e outros, completa Gaub, lembrando que apenas uma parte deles é apoiada pela Arábia Saudita.

8. Como a Europa é afetada por esses acontecimentos?

Benraad está convencida que a Europa será afetada diretamente pelo desenvolvimento do conflito no Iraque. Assim como na Síria, o número de jihadistas que voltam das regiões iraquianas em conflito vai aumentar bastante, ressalta.

"Essa é claramente uma ameaça para a segurança nacional na Europa", reforça Benraad, acrescentando que o número de refugiados vindos da região também irá aumentar. Os extremistas sunitas também estão se expandindo em países próximos à Europa. Líbano, Jordânia e talvez Egito podem ser atingidos, opina a especialista.

9. Como os Estados Unidos estão se comportando?

Os Estados Unidos anunciaram no início do ano, quando o EIIL tomou parte da província ocidental de Al-Anbar, o envio de armas para o governo de Maliki. Embora as críticas a Maliki tenham aumentado também nos EUA, o governo americano quer apoiar a luta contra grupos terroristas. Para isso, os Estados Unidos não veem nenhum problema em apoiar um governo que mantém relações estreitas com o Irã.

10. Qual é a saída para a crise no Iraque?

Gaub aponta a tática que ajudou, em 2008, a reprimir grupos terroristas sunitas. Na época, foi possível trazer as milícias sunitas para o lado do governo com concessões políticas. Independentemente de ações militares, esse é o único meio de afastar grupos não islâmicos do EIIL, acredita o especialista. Resta saber se o primeiro-ministro Maliki concordaria.

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