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Dezenas de artefatos são vandalizados em museus de Berlim

21 de outubro de 2020

Sarcófagos e esculturas foram sujos com substância oleosa. Imprensa alemã aponta que ataque pode ter conexão com propagadores de teorias da conspiração que descrevem museu de maneira delirante como "trono de satanás".

O Altar de Pérgamo, no museu de mesmo nome em Berlim
O Altar de Pérgamo, no museu de mesmo nome. Local é mencionado em narrativas delirantes de teóricos da conspiraçãoFoto: Maurizio Gambarini/picture-alliance/dpa

Dezenas de antigos artefatos foram alvos de um misterioso ato de vandalismo no complexo da Ilha dos Museus, em Berlim. De acordo com o jornal Die Zeit e a rádio Deutschlandfunk, o ataque, que ocorreu no último dia 3 de outubro, afetou pelo menos 70 artefatos, que foram sujos com algum tipo de substância oleosa.

Segundo o Die Zeit, esse foi um dos maiores atos de vandalismo já registrados na Alemanha do pós-guerra.

Entre os artefatos que foram vandalizados estão sarcófagos, esculturas e pinturas do século 19 que estavam expostas no Museu de Pérgamo, na Alte Nationalgalerie e no Neues Museum, que ficam no mesmo complexo na região central da capital alemã.

A chamada Ilha dos Museus é classificada como Patrimônio Mundial pela Unesco e recebeu mais de 3 milhões de visitantes em 2019. Segundo o Die Zeit, a substância aplicada deixou manchas visíveis nos objetos.

As autoridades evitaram divulgar o ato de vandalismo. O episódio só foi confirmado pela polícia e pela Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano – que administra os museus – após questionamentos da imprensa. Os veículos tomaram conhecimento do caso após a polícia tentar contatar todas as pessoas que visitaram os museus no feriado do dia 3 de outubro, o Dia da Unidade Alemã.

De acordo com Die Zeit, as autoridades também não alertaram outros museus sobre potencial risco. Até mesmo autoridades do setor cultural de Berlim reclamaram que não foram informadas sobre o vandalismo.

A motivação do ataque ainda é desconhecida. No entanto, veículos da imprensa alemã levantaram a possibilidade de que o vandalismo esteja ligado ou tenha sido incitado por propagadores de teorias da conspiração.

Em agosto e setembro, o chef Attila Hildmann, uma figura conhecida do meio conspiracionista alemão, publicou várias mensagens delirantes em agosto e setembro em que afirmava que o Museu de Pérgamo é um "trono de Satanás" e um palco da "cena globalista satanista e dos criminosos do coronavírus".

Ele também alegou que o famoso altar grego em exibição no Museu Pérgamo é usado pela chanceler federal Angela Merkel para oferecer crianças em "sacrifício", um delírio em sintonia com as teorias conspiratórias propagadas pelos seguidores do culto QAnon, iniciado nos EUA, que denuncia uma suposta conspiração "satânica-global-pedófila".

Outras figuras do meio conspiracionista alemão também costumam centrar suas atenções no Museu de Pérgamo, especialmente por causa da proximidade do local com a residência de Merkel.

Hildmann, um antigo chef vegano que se tornou teórico da conspiração, também foi um promotor ativo dos protestos negacionistas organizados em Berlim contra as medidas impostas pelo governo alemão para conter a pandemia de coronavírus. Os protestos reuniram milhares de neonazistas, adeptos de práticas esotéricas, hippies e extremistas em geral. Segundo o jornal Tagesspiegel, Hildmann tem mais de 100 mil seguidores no Telegram.

JPS/ots