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Bebês de barriga de aluguel ficam presos na Ucrânia

16 de maio de 2020

Impedidos de entrar no país devido à pandemia, pais estrangeiros não conseguem buscar seus filhos. País do Leste Europeu atrai cada vez mais clientes do exterior para procedimento reprodutivo.

Vários recém-nascidos em camas dispostas numa sala e uma enfermeira de azul sentada ao fundo
Dezenas de bebês esperam por seus pais em um hotel em KievFoto: Getty Images/AFP/S. Supinksy

Mais de uma centena de bebês nascidos de barriga de aluguel estão presos na Ucrânia porque seus pais estrangeiros não podem buscá-los devido ao fechamento das fronteiras causado pelo coronavírus.

"Mais de cem bebês estão esperando seus pais em vários centros de medicina de reprodução", disse Liudmyla Denisova, comissária de direitos humanos do Parlamento ucraniano.

"Se o confinamento for prolongado, outras crianças nascerão e seu número poderá chegar a quase mil", disse ela, citando estimativas da Biotexcom, de Kiev, a maior clínica do país especializada em serviços de barriga de aluguel. Atualmente, a clínica hospeda em um hotel 51 bebês de pais estrangeiros nascidos desde o fechamento da fronteira com a Ucrânia, em março.

Apenas 15 deles estão com os pais, que puderam entrar na Ucrânia antes de o país fechar suas fronteiras. "Tudo parece estar indo bem lá, está limpo. Existem câmeras que os funcionários usam para os pais poderem ver seus filhos", disse Denisova, acrescentando que "cada bebê será entregue aos pais" o mais rápido possível.

A Ucrânia possui uma próspera indústria de serviços de barriga de aluguel e é um dos poucos países que permitem o serviço para estrangeiros. A preocupação é alta de que um longo fechamento de fronteira sobrecarregue as clínicas e cause mais aflição aos pais.

Devido à pandemia de coronavírus, os pais estrangeiros precisam de uma autorização especial para entrar na Ucrânia, emitida por Kiev a pedido de seus países de origem. Mas algumas embaixadas "se recusaram" a intervir e "esse problema ainda não está resolvido", segundo Denisova.

De acordo o jornal Le Monde, a maioria dos pais é da França, onde a barriga de aluguel é proibida. Há também pais esperando pela entrega de seus filhos em 11 outros países: China, EUA, Itália, Espanha, Reino Unido, França, Alemanha, Bulgária, Romênia, Áustria, México e Portugal.

A Ucrânia é destino cada vez mais frequente para pessoas que recorrem a serviços de barriga de aluguel para se tornarem pais, especialmente pelo preço relativamente baixo: cerca de 28 mil euros (perto de 177 mil reais).

Sob a lei ucraniana, apenas casais heterossexuais reconhecidos e inférteis podem se beneficiar do procedimento.

O assunto atraiu grande atenção após a Biotexcom divulgar um vídeo mostrando dezenas de bebês em berços dispostos em fileiras apertadas em dois grandes quartos de um hotel normalmente usado pela clínica para hospedar seus clientes.

O vídeo tem como objetivo mostrar aos pais ausentes que seus filhos pequenos estão sendo bem tratados. "As crianças são alimentadas, um número suficiente de funcionários toma conta delas, mas não há substituto para o cuidado dos próprios pais", afirma Denis Herman, advogado da Biotexcom. "Tentamos enviar fotos das crianças para os pais, tentamos fazer videoconferências, mas isso não pode substituir a comunicação no contato direto", ressalta.

Cerca de 50 clínicas que oferecem serviços de barriga de aluguel operam na Ucrânia. As dificuldades econômicas do país levam muitas ucranianas a se tornarem mães de aluguel.

MD/afp/ap/rtr

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