Coalas são sacrificados após perderem habitat na Austrália
3 de fevereiro de 2020
Vários animais que viviam em área explorada por madeireira morreram, e cerca de 80 estão sendo tratados por ferimentos e fome. Governo abriu investigação para achar os culpados. Espécie enfrenta risco de extinção.
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Dezenas de coalas tiveram de ser sacrificados, e cerca de 80 estão sendo tratados devido a ferimentos e fome depois que seu habitat foi destruído no estado de Vitória, no sudeste da Austrália. O governo do país abriu, nesta segunda-feira (03/02), uma investigação sobre o ocorrido.
A Secretaria do Meio Ambiente de Vitória afirma que o órgão de conservação do estado investiga um "incidente muito lamentável" ocorrido numa plantação de eucaliptos perto da cidade costeira de Portland, que resultou na morte de dezenas de coalas.
"Se isso for causado por ação humana deliberada, esperamos que o órgão de conservação atue rapidamente contra os responsáveis", afirmou a secretaria.
Os responsáveis podem enfrentar penas pesadas tendo em vista as leis de proteção à vida selvagem na Austrália, como multa de até 8 mil dólares australianos (cerca de 22,8 mil reais) e, ainda, um valor adicional de mais de 800 dólares australianos (cerca de 2,28 mil reais) por animal morto.
A Secretaria do Meio Ambiente afirmou que aproximadamente 80 coalas foram removidos do local da plantação de eucaliptos no fim de semana para receber tratamento médico, enquanto outros tiveram que ser sacrificados.
"A avaliação do bem-estar da vida selvagem continuará com cuidadores e veterinários qualificados", afirmou a secretaria em comunicado. "Estão sendo feitos planos para retirar os animais restantes do local, se eles estiverem suficientemente bem para serem removidos."
Helen Oakley, residente de Portland, foi uma das primeiras a chamar a atenção para o caso ao postar um vídeo no Facebook e afirmar que viu dezenas de coalas mortos no local. "Mães mortas e seus pequenos bebês. A Austrália deveria ter vergonha disso", escreveu.
Anthony Amis, pesquisador de coalas da organização ambiental Friends of the Earth, afirmou que as árvores foram cortadas até novembro passado por uma empresa madeireira chamada Midway e, depois, a área foi repassada a um proprietário de terras local. "Eles devem ter exterminado os coalas durante a remoção dos resíduos de madeira", frisou.
Em nota, a Midway rejeitou as "alegações perturbadoras" de que teria prejudicado os animais e afirmou que deixou "um número apropriado de árvores para a população existente de coalas".
As mortes dos animais vieram à tona após incêndios florestais devastadores destruírem grandes habitats de coalas no sudeste da Austrália e matarem milhares de animais, que estão listados como ameaçados de extinção.
A Associação Australiana de Produtos Florestais afirmou que uma empresa colheu eucaliptos na área em novembro, seguindo regras rígidas de proteção da vida selvagem, e que as árvores restantes foram removidas posteriormente.
"Ainda não está claro quem desmatou as árvores com os coalas aparentemente ainda nelas, mas é absolutamente certo que essa não era uma empresa de silvicultura ou de plantio", afirmou Ross Hampton, executivo-chefe da associação. "Apoiamos aqueles que pedem que toda a lei seja aplicada contra o criminoso."
O lobby da indústria madeireira prometeu realizar sua própria investigação sobre o incidente.
Austrália enfrenta a pior temporada de incêndios florestais de sua história, causando mortes e evacuações em massa. Também biodiversidade vegetal e animal estão ameaçadas.
Foto: AFP/P. Parks
Paredes de chamas
Com mais de 180 focos de incêndios em toda a Austrália, mais de 8 milhões de hectares já foram queimados. O estado de Nova Gales do Sul, na costa leste, é o mais atingido. Os incêndios em bosques e florestas não são incomuns no continente, mas desta vez sua intensidade foi extrema. A temporada de incêndios já começou em setembro e foi agravada por altas temperaturas, acima de 40ºC.
Foto: Reuters/AAP Image/D.
Desespero no campo
Com uma toalha, este garoto tenta abafar as chamas que se alastram pelo campo. Os agricultores lutam para continuar alimentando o gado, pois pastagens e gramados estão queimados. Muitos tiveram que sacrificar os animais devido a queimaduras ou estresse térmico.
Foto: AFP/W. West
Destruição
Mais de 1.800 casas foram queimadas, milhares de habitantes foram evacuados, e pelo menos 25 morreram. Segundo as autoridades, só no estado de Victoria, que inclui a cidade de Melbourne, nos últimos dias foram evacuadas 67 mil pessoas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Khan
Trabalho nas chamas
Longe dos grandes centros ou no litoral, a densidade populacional da Austrália é baixa. Lá os bombeiros voluntários são ainda mais importantes. Devido à extraordinariamente violenta temporada de incêndios, este ano eles serão pagos a partir de um fundo especial: quem estiver envolvido no trabalho de extinção do fogo por pelo menos dez dias receberá uma diária equivalente a 190 euros.
Foto: AFP/S. Khan
Ajuda do Exército
As Forças Armadas da Austrália ajudam a evacuar os residentes por via aérea ou de navio. Três mil reservistas foram chamados para ajudar os bombeiros a combaterem incêndios. Helicópteros militares da Nova Zelândia devem chegar nos próximos dias para dar apoio.
Foto: AFP/AUSTRALIAN DEPARTMENT OF DEFENCE/N. Dorrett
Ar poluído
Este homem em frente ao Parlamento australiano em Camberra tem uma mangueira, mas não faz nada contra as chamas. Do ponto de vista de muitos australianos, poderia ser um símbolo das poucas medidas tomadas pelos políticos em relação à dimensão dos incêndios. O ar na capital australiana está tão poluído, que os moradores foram instados a ficar em casa.
Foto: Imago-Images/AAP/L. Coch
Acusações contra Scott Morrison
O primeiro-ministro é alvo de críticas porque, mesmo quando os incêndios já haviam começado, viajou de férias com a família para o Havaí. Hoje, ele não nega mais a influência humana nas mudanças climáticas, mas continua do lado da indústria do carvão. Em fotos nas redes sociais, há muitos se negam a apertar a mão de Scott Morrison, manifestando sua insatisfação com a gestão da crise.
Foto: AFP/J. Ross
Homenagem póstuma
O trabalho dos bombeiros é perigoso. Geoffrey Keaton morreu numa missão. Quando foi enterrado, em 2 de janeiro, seu filho recebeu uma Ordem de Mérito em nome do pai. Três bombeiros já morreram na temporada de incêndios deste ano.
Foto: Reuters/NSW RURAL FIRE SERVICE
Animais são vítimas
Esse coala foi salvo, mas muitos outros animais, não. Para os coalas, os incêndios são particularmente arrasadores porque instintivamente eles se escondem dentro das árvores e fogos rasteiros não os atingem. Mas os atuais incêndios violentos chegam até as copas das árvores e os matam. Numa área em que sua população é monitorada há bastante tempo, dois terços dos coalas morreram.
Foto: Reuters/P. Sudmals
Procura por comida
Os animais selvagens que sobreviveram ao fogo no Parque Nacional Wollemi, em Sydney, saem em busca de comida. Mas muitas vezes as chamas deixam apenas troncos carbonizados, como em Old Bar, Nova Gales do Sul. Os aborígines costumavam queimar a vegetação rasteira para conter incêndios provocados pelas intempéries de verão. Muitos australianos querem agora que essa prática seja revivida.
Foto: Imago Images/AAP/J. Piper
Ajuda a quem perdeu tudo
O governo australiano anunciou a criação de uma agência nacional para ajudar os afetados pela catástrofe. O equivalente a 1,2 bilhão de euros será distribuído ao longo de dois anos para agricultores, pequenas empresas e moradores. Milhares perderam suas casas no incêndio, como este homem de Nabiac, situada 350 quilômetros ao norte de Sydney.
Foto: AFP/W. West
Consequências na América do Sul
Uma cortina de fumaça cobre as regiões em fogo, como estas montanhas em East Gippsland, no estado de Victoria. Uma nuvem de fumaça percorreu mais de 12 mil quilômetros e chegou à América do Sul, sendo vista em 6 de janeiro sobre o Chile e a Argentina, e devendo chegar ao Rio Grande do Sul. Segundo o Departamento Meteorológico de Santiago, a fumaça não oferece risco à saúde da população.