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Dezenas de intelectuais europeus apoiam esquerdista no Chile

16 de dezembro de 2021

Mais de 80 personalidades, como políticos e acadêmicos, divulgaram manifesto em apoio a Gabriel Boric, que disputa o segundo turno das eleições chilenas no domingo contra o ultradireitista José Antonio Kast.

Boric de camisa com mangas remangadas fala. Ele usa óculos e bárcara e está em frente a um painel que diz "Boric presidente".
Foto: Esteban Felix/AP Photo/picture alliance

Mais de 80 políticos, acadêmicos e intelectuais europeus expressaram nesta quinta-feira (16/12), em um manifesto público, o apoio ao candidato chileno Gabriel Boric, um ex-líder estudantil de esquerda, às vésperas das eleições presidenciais do próximo domingo, quando ele enfrentará o candidato de extrema-direita José Antonio Kast no segundo turno.

O texto salienta que a vitória de Kast, ultraconservador anti-imigração e admirador do presidente Jair Bolsonaro, implicaria "um perigo real de involução no Chile".

Apoiando Boric, a carta diz que "o que está em jogo na eleição presidencial no Chile é a possibilidade de caminhar para um verdadeiro estado social e democrático de direito".

O manifesto é assinado por prestigiosos acadêmicos, jornalistas, escritores e políticos como o ex-presidente do Governo da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero; a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; o economista e professor Thomas Piketty; o ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta e o ex-vice-presidente da Comissão Europeia Joaquín Almunia, entre outros.

Direitos e liberdades ameaçados

O texto destaca que tanto no Chile quanto na Europa, "a democracia, os direitos e as liberdades estão seriamente ameaçados pelo ressurgimento de líderes e movimentos de extrema direita com tentações autoritárias".

"Nos Estados Unidos, o movimento liderado por Donald Trump produziu a mais grave crise democrática e institucional de sua história. No Brasil, Jair Bolsonaro ataca as instituições democráticas e promove o discurso de ódio. No Peru, Fujimori deixou graves consequências que ainda persistem na sociedade", diz o texto.

A carta reforça que nestes e em muitos outros países da América Latina em que surgiram correntes ultradireitas, se normalizaram "desigualdades econômicas, sociais e territoriais, o abuso de poder e de força, a violência contra a mulher e diversidade sexual, a impunidade contra a violação de direitos e a criminalização de imigrantes".

Os signatários destacam que, nessas nações, há, ainda, posições negativas em relação ao combate às mudanças climáticas e rejeição à vacinação para combater a pandemia.

"Não podemos ser, nem somos, indiferentes ou neutros. Dizemos NÃO à normalização das políticas de extrema-direita (...) apelamos à comunidade democrática internacional para que apoie a candidatura de Gabriel Boric", afirmam.

Esperança e entusiasmo

O grupo acrescenta que a comunidade internacional observa "com entusiasmo e esperança" o processo social e político que vem ocorrendo no Chile desde as mobilizações em massa pela igualdade em 2019, "exigindo maior justiça e inclusão e uma superação definitiva do legado da ditadura de Pinochet".

Também afirmaram que apoiam o processo constituinte que foi iniciado para amenizar esta crise social e destacaram a composição igualitária do órgão que redigiu o texto, bem como a presença de representantes dos povos indígenas e cidadãos independentes.

Segundo a carta, com Boric, o Chile poderá caminhar para um futuro com "paz e democracia, igualdade e pluralidade".

Kast é pai de nove filhos e tem laços profundos com a ditadura militar de PinochetFoto: Diego Martin/Agencia Uno/dpa/picture alliance

Segundo turno acirrado

A disputa para presidente no Chile será decidida em segundo turno, no domingo, entre o advogado de extrema-direita José Antonio Kast e o deputado de esquerda Gabriel Boric. Eles receberam 27,9% e 25,8% dos votos, respectivamente.

Cerca de 15 milhões de cidadãos, de uma população de 19 milhões, estão aptos a votar. O pleito ocorre num contexto de crise social e política e de um processo constituinte que pretende enterrar os últimos resquícios da ditadura militar de Augusto Pinochet.

A eleição também ocorre num cenário de inflação galopante, um sistema previdenciário descapitalizado e desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19. O país ainda está há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, desde que, em outubro de 2019, eclodiram os maiores protestos populares desde a ditadura.

Quem é Kast

Kast, do Partido Republicano, assumiu a liderança da disputa apostando num forte discurso nacionalista anti-imigração, numa repetição de processos que ocorreram no Brasil e Estados Unidos, que também viram candidatos de extrema direita ascenderem em momentos de desgaste da política tradicional.

A família de Kast, um católico romano fervoroso e pai de nove filhos, tem laços profundos com a ditadura militar de Pinochet, que assumiu o poder no Chile após um golpe em 1973. Miguel Kast, irmão de José Antonio Kast, atuou como presidente do banco central durante a ditadura.

"Se ele estivesse vivo, votaria em mim", afirmou Kast sobre Pinochet durante sua campanha à Presidência em 2017, quando somou apenas 8% dos votos. "Nós tomaríamos chá juntos [no palácio presidencial]", acrescentou o candidato.

O pai alemão de Kast era membro do partido nazista de Adolf Hitler. 

Quem é Boric

Boric tem 35 anos e é o candidato da coalizão de esquerda "Apruebo Dignidad". Se vencer, será o presidente mais jovem da história do Chile. Ele começou a carreira política como líder estudantil e dirigente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh). 

Filho de uma família de classe média alta em Punta Arenas, no extremo sul do país, o candidato está em seu segundo mandato como deputado. Tornou-se conhecido nacionalmente em 2011, em protestos contra as mudanças no sistema educacional introduzidas durante o primeiro governo de Sebastián Piñera. 

Como propostas, pretende realizar profundas mudanças nos sistemas previdenciário, tributário, de saúde e educacional, questões que estiveram entre as principais demandas da população nos protestos de outubro de 2019.

le (efe, ots)