Milhares de refugiados barrados na fronteira sírio-turca
6 de fevereiro de 2016
Cerca de 20 mil sírios em fuga da ofensiva militar de Damasco são impedidos de atravessar à Turquia. No começo da semana, a UE tinha aprovado fundo para ajudar Ancara em troca de contenção do fluxo migratório.
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Cerca de 20 mil sírios em fuga da ofensiva das forças do presidente da Síria, Bashar al-Assad, na província de Aleppo estavam impedidos de prosseguir do lado sírio da fronteira com a Turquia, nesta sexta-feira (05/02), agravando o drama humanitário de um conflito que se prolonga há cinco anos.
"Cerca de 20 mil pessoas estão concentradas perto do posto fronteiriço de Bab al-Salama, e entre 5 mil e 10 mil estão deslocadas na cidade de Azaz", comunicou o porta-voz do gabinete dos assuntos humanitários da ONU (OCHA).
O Exército da Sìria, apoiado por ataques aéreos russos – cerca de mil desde o início da ofensiva na segunda-feira –, retomou dos rebeldes duas novas localidades, Raytan e Mayer, e apertou o cerco em torno da cidade de Aleppo, no norte do país.
No sul, e também apoiada por incursões aéreas russas, e ainda pelo Hisbolá libanês, as forças governamentais sírias também de apoderaram da cidade estratégica de Atman, na província de Daraa.
Na sequência dos últimos sucessos do regime, os rebeldes se encontram na sua pior situação desde o início do conflito. A província de Aleppo tem sido um dos principais bastiões dos insurgentes, num país dividido entre regime, rebeldes e jihadistas do grupo "Estado Islâmico" (EI).
"Os rebeldes batem em retirada por todo o lado, não existe uma frente significativa onde não estejam em retirada", afirmou Emile Hokayem, do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS), citado pela agência de notícias AFP.
No atual cenário, a situação humanitária, que já era catastrófica, acabou por se agravar. Na província de Aleppo, calcula-se que 40 mil habitantes optaram pelo êxodo em direção à fronteira turca após as ofensivas militares do regime.
Na quarta-feira, a União Europeia (EU) chegou a um acordo sobre a forma de financiar os 3 bilhões de euros prometidos à Turquia, para que esta, em troca, barre o fluxo migratória em direção à Europa.
Enquanto isso, a ONU disse em comunicado que o acesso às pessoas afetadas na Síria estava se tornando cada vez mais difícil devido aos combates. Na quinta-feira, potências mundiais prometeram cerca de 10 bilhões de euros em ajuda humanitária aos sírios.
PV/lusa/afp/dpa
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.