Poucas horas após anúncio de acordo de cessar-fogo, bombardeios matam ao menos 90 pessoas em Aleppo e Idlib. Cessação das hostilidades entra em vigor na segunda-feira, data do feriado muçulmano de Eid al-Adha.
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Poucas horas após o anúncio de um acordo de cessar-fogo intermediado por EUA e Rússia destinado a pôr um fim ao conflito de cinco anos na Síria, novos ataques aéreos mataram ao menos 90 pessoas no país, segundo comunicou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos neste domingo (11/09).
O Exército da Turquia afirmou também que seus caças militares mataram ao menos 20 jihadistas do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) no norte da Síria. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, renovou sua promessa de destruir o EI na Síria e, consequentemente, acabar com a ameaça que os jihaditas representam ao seu país.
O Observatório Sírio para o Direitos Humanos, organização não-governamental com sede no Reino Unido, comunicou que 58 pessoas morreram num ataque aéreo que atingiu o mercado da cidade de Idlib, horas após o anúncio do acordo de cessar-fogo. Também houve bombardeios em outras partes da província de Idlib, e nas imediações da cidade de Yisr al-Shogur, nas áreas de Ain al-Baida e Hambushia, e na cidade de Badama.
Além disso, o Observatório afirmou que outras 32 foram mortas quando aviões de combate bombardearam a província de Aleppo. Estes teriam sido lançados pelo Exército sírio e visaram áreas controladas por rebeldes, numa tentativa de maximizar os ganhos territoriais antes que o cessar-fogo entre em vigor. A cessação dos combates está prevista para o pôr do sol de segunda-feira, para o feriado muçulmano de Eid al-Adha.
O aumento da violência ocorreu pouco depois do anúncio de um acordo de cessar-fogo, negociado entre os EUA e a Rússia, depois de longas conversas em Genebra. Nos termos do acordo, Moscou pressionará o governo sírio para encerrar sua campanha militar contra os rebeldes apoiados pelos EUA. Em troca, os EUA lançarão operações militares conjuntas com a Rússia contra a Frente Fateh al-Sham (ex-Frente Al Nusra) caso o cessar-fogo seja respeitado por um período mínimo de sete dias.
"Isso requer a suspensão de todos os ataques, incluindo bombardeios aéreos, e qualquer tentativa de ganhar territórios adicionais à custa de partes envolvidas na cessação. Requer acesso desimpedido da ajuda humanitária a todas as áreas sitiadas e de difícil alcance, incluindo Aleppo", disse o secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
O governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, não fez nenhum comentário oficial sobre o acordo. Em vez disso, a mídia estatal síria publicou que Damasco ofereceu sua aprovação ao acordo, citando fontes privadas.
O conflito sírio eclodiu em 2011, quando as forças do governo lançaram uma violenta repressão contra manifestantes pró-democráticos que pediam a renúncia de Assad. Em cinco anos, mais de 250 mil pessoas foram mortas e mais da metade da população do país está deslocada, segundo dados da ONU.
PV/rtr/ap/dpa/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.