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“Diários de motocicleta”: road movie sobre miséria humana

(sv)

Filme dirigido por Walter Salles estréia no cinemas alemães e provoca reações na mídia.

As viagens de Che e Alberto Granado sob as lentes de Walter SallesFoto: Constantin Film, München

“A amplitude da Patagônia, as montanhas de gelo do sul chileno, o calor do Deserto de Atacama, a infinitude da selva amazônica – tudo isso, no filme de Walter Salles, aparece não como chamariz turístico, mas como realidade tanto da viagem quanto do pensamento: o chão sobre o qual o movimento de um pensamento utópico se afirma. [...] Raramente um road movie mostrou a miséria humana e belezas naturais tão intimamente ligadas como este; a morte dos pobres e as pedras dos incas, as enfermidades dos leprosos e a luz dos pores-do-sol no Amazonas.”

Frankfurter Allegemeine Zeitung

“Walter Salles se curva à herança do neo-realismo, que buscou as câmeras dos estúdios e levou-as aos rostos nas ruas. O neo-realismo que através do Cinema Novo influenciou sua geração. O filme segue os diários que Che e Alberto escreveriam mais tarde sobre essa viagem que fizeram juntos e as experiências ali vividas. Mas o filme é também, diz Walter Salles, o confronto de uma nova geração com cineastas do mesmo continente, sobre o qual sabem tão pouco. Uma obra coletiva, feita por jovens profissionais argentinos, chilenos, peruanos, mexicanos, brasileiros.”

Süddeutsche Zeitung

“Embora a viagem do jovem Che não preencha as lacunas da história política, Salles consegue esboçar a criação de um conceito político. Um conceito ainda pouco nítido e inconsciente no início, que vai se tornando mais articulado até o fim da viagem: 'nossa' América. O espírito que fala desse 'nosso' sente-se solidário com os camponeses, com os mineiros expropriados, com os trabalhadores comunistas e com os índios, que vêm em grande número ao encontro de Guevara e Granado nas montanhas: apátridas no próprio país.”

die tageszeitung

“Dois filmes, então: um fala de Che, outro sobre os filhos e netos de seu espírito. No primeiro, o encontro com a pobreza e a miséria leva à rebelião. No segundo [Die fetten Jahren sind vorbei - Os melhores anos se foram, de Hans Weingartner], o confronto é com a riqueza e o luxo. Mas enquanto Salles tem às vezes um olhar quase nostálgico sobre a viagem de seu herói, que sai sempre da estrada com sua moto barulhenta e acaba no meio dos pampas, as imagens feitas com câmeras digitais por Weingartner colocam seus protagonistas na parede de forma crua e áspera. Não é de se espantar que os motivos românticos que Salles pode dar a seus heróis não estejam mais à disposição de Weingartner.”

Der Spiegel

“Um road movie com bases sólidas, cheio de tensões, no qual a viagem de descobrimento – por um continente marcado por discrepâncias sociais tão fortes – seja também um espelho do processo de conscientização dos dois protagonistas. Auxiliado pelo câmera Eric Gautier, Salles dá vazão a sua paixão por travellings longos através de paisagens belíssimas. Uma predileção que o diretor, nascido em 1956, já demonstrava em seu primeiro filme, Terra Estrangeira. Em Diários de Motocicleta é o Deserto de Atacama, as tomadas da cidade chilena de Valparaíso ou os arredores da metrópole Iquitos que trazem momentos de uma beleza alucinante.”

Neue Zürcher Zeitung

"A América do Sul de Walter Salles, nestas cenas, não é deste mundo. É uma fantasia pastoril de um continente ainda originário, que tenta ir contra o avanço da nossa civilização. Se não estivessem ali os índios expulsos de suas terras, os mineiros explorados, os trabalhadores brancos sádicos, os latifundiários esbanjadores e os industriais, encontrados pelos viajantes a cada volta, poderia-se ter a América do Sul de Salles como a última arcádia, o palco perfeito para o Ernesto tão inocente e santo de Bernal".

Frankfurter Rundschau

"Mas não se trata aqui de posições, idéias, discussões, interesse verbalizado pelo mundo. Um revolucionário precisa, em primeiro plano, ser bonito. E ele precisar encontrar, para sua revolução, uma bela paisagem. E mulheres bonitas, que o observam. Mas pare: não vai haver movimento em nossos dois heróis? Será que não vejo aí algum sinal de vida?"

Die Zeit

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