Dia D foi "frente ampla" contra nazistas e decisivo para vitória aliada
6 de junho de 2014No Dia D, que prenunciou o fim da Segunda Guerra Mundial, a libertação chegou pelo ar. Pouco antes da meia-noite de 6 de junho de 1944, os primeiros soldados aliados desembarcaram na Normandia: 24 mil paraquedistas em planadores militares de precisão.
Eles tinham como missão ganhar o controle sobre pontes e outros nós de tráfego importantes, além de instalar sinais luminosos para as tropas aéreas – ainda antes que, ao nascer do sol, começasse a operação de desembarque marítimo.
O plano só funcionou em parte, já que o forte vento levou os paraquedistas para longe, em direção ao interior francês, e apenas um décimo deles chegou a tempo à região do front. Ainda assim, a Operação Overlord – codinome da Batalha da Normandia – pegou os militares nazistas de surpresa.
Ainda às 2h, os generais alemães na Muralha do Atlântico avaliavam a situação militar como "não ameaçadora". Em comunicado telefônico a Berlim, informaram que as notícias de um desembarque aéreo seriam "exageradas" e que tudo estava calmo.
Empreendimento universal
Essa impressão logo mudaria: no litoral da Inglaterra uma gigantesca armada se pusera em movimento, ao entardecer do dia 5 de junho. A maior força de combate marinho e aéreo já reunida na história das guerras movia-se na escuridão da noite, em direção à costa atlântica da França.
"O Dia D foi um empreendimento internacional, não puramente americano. Também britânicos, canadenses e contingentes menores de noruegueses, belgas, tchecos e eslovacos estavam presentes", lembra o historiador militar Peter Lieb.
"Depois chegaram os poloneses e havia navios gregos, além de um pequeno contingente de franceses libertos [dos ocupadores nazistas]." Australianos e neozelandeses – aliados pertencentes à Commonwealth britânica – reforçavam a tropa internacional.
"É claro que havia dois grandes protagonistas: os americanos e os ingleses", relata Lieb à DW. "Ambos definiram o roteiro estratégico. Mas eles estavam cientes de que se tratava de uma guerra de coalizão e que também era preciso contar com as nações menores, para mostrar ao mundo que lutar contra a Alemanha de Hitler era um empreendimento universal."
Dia da decisão
Às 6h30, pouco antes do alvorecer de 6 de junho, despontaram diante da costa normanda os primeiros navios de guerra americanos. Em seus setores de desembarque e ataque, apelidados "Praia Utah" e "Praia Omaha", eles logo abriram fogo pesado sobre as fortificações alemãs.
Uma hora mais tarde seguiam-se as unidades britânicas, canadenses e francesas, nas praias "Gold", "Juno" e "Sword". Com o apoio do navio polonês Dragon, entre outros, atacaram numa área costeira de cerca de 80 quilômetros de extensão, que um pouco tempo se transformaria num campo de batalha sangrento, repleto de mortos.
Ao todo, 4.200 lanchas de desembarque, 1.200 navios de combate e 155.892 soldados de 14 países foram mobilizados na ofensiva do Dia D. As nações menores foram agrupadas em tropas de ataque mistas.
A maior parte das lanchas de desembarque provinha da Marinha Real britânica – embora as poucas fotos e filmagens feitas no dia da invasão sugiram o contrário, retifica o historiógrafo Lieb. Isso se deve ao fato de os americanos terem colocando repórteres e cameramen nas lanchas. "Por isso temos muito mais fotos dos americanos do que dos ingleses ou canadenses."
Caos fatal
Entretanto a Operação Overlord não correu de acordo com os planos, e o caos resultante custou a vida de milhares de soldados aliados. Muitos se afogaram em seus pesados uniformes, pois as rampas de desembarque das lanchas se abriram antes da hora. Tanques afundaram no mar antes de alcançar o litoral para reforçar as tropas de infantaria.
O avanço americano na "Omaha Beach" ameaçava terminar em fracasso. Muitos dos homens ficaram mareados e, portanto, incapacitados para a luta e indefesos contra o fogo dos nazistas. Nessa fase, a invasão quase fracassou: milhares de soldados tombaram somente nas primeiras horas. "De todos os dias da Segunda Guerra, o Dia D é aquele em que americanos e canadenses tiveram as maiores perdas", resume Lieb.
Por volta do meio-dia, começou a faltar munição para os alemães, permitindo às tropas de desembarque vencer facilmente a resistência principal nas casamatas. Contudo não vingaram os esquemas estratégicos do comandante supremo, o futuro presidente dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower, e do general inglês Bernard Montgomery, aponta o historiador.
"A Muralha do Atlântico pôde ser conquistada com relativa rapidez: em poucas horas tudo estava em mãos aliadas. Porém o subsequente avanço para o interior da França ocorreu muito, muito devagar, pois os alemães se atocaiaram lá, onde estavam aptos a se defender com ferocidade."
Terreno difícil para os Aliados
No interior, não era possível seguir com o esbanjamento de meios da operação militar de desembarque. O terreno era difícil de sondar e entrecortado por muros de pedra, trincheiras e arbustos, fornecendo abrigo ideal para os atiradores alemães.
As divisões aliadas avançavam a duras penas. Só no fim de junho a cidade portuária de Cherbourg pôde ser tomada, passando a servir como base para o abastecimento de provisões, de importância decisiva para a guerra.
Em 25 de julho de 1944 iniciou-se a Operação Cobra: a partir do ar, bombardeiros e caças aliados respaldavam as divisões de tanques blindados, os quais cortavam amplas trilhas pelo meio das sebes, assim abrindo o caminho para as tropas de infantaria.
No fim do mês, os poloneses desembarcaram com uma divisão blindada de 20 mil homens, imediatamente mobilizados para o reforço militar no assim chamado "Bolsão de Falaise". Lá as divisões blindadas do Exército nazista haviam se entrincheirado. Mas no início de agosto a resistência alemã estava praticamente esmagada, e se abria o caminho para a libertação da França da ocupação nazista – e, com ela, toda a Europa.
De Gaulle, o libertador
Porém a coalizão bélica não durou muito tempo. Os americanos – que pretendiam impor um governo militar em toda a França – haviam feito seus planos sem contar com o general Charles de Gaulle, ressalta Lieb.
"Ele foi saudado efusivamente, como grande libertador da França. E aí os Aliados compreenderam: 'De Gaulle tem grande respaldo por parte da população francesa e vai ser impossível nós levarmos a cabo os nossos planos de uma administração militar. Vamos ter que devolver o mais rápido possível o país aos franceses.'"
Em 25 de agosto, o futuro presidente De Gaulle adentrou Paris com a divisão blindada das Forças Armadas francesas livres. Do ponto de vista militar, as tropas aliadas deveriam ter libertado a capital, porém deram a primazia aos franceses. "Os americanos reconheceram: 'A longo prazo, é melhor nós termos os franceses como aliados do que arriscar rupturas dentro da coalizão de guerra.'"
Assim – finalmente – a Batalha da Normandia chegava a uma conclusão vitoriosa, embora com enormes perdas humanas. Um marco decisivo na história dessa guerra de dois fronts, que também teve que ser decidida nos combates no Leste Europeu.