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Dialeto baixo-alemão, as palavras esticadas

Simone Mello19 de julho de 2016

Alemão do norte (Norddeutsch) e baixo-alemão (Plattdeutsch) são designações bastante genéricas para os dialetos falados em diversas regiões do norte da Alemanha.

Wörter der Woche | Symbolbild Zweisamkeit
Foto: picture-alliance/dpa/H.-C. Dittrich

Na região de Mecklemburgo, as pessoas precisam de um bom tempo para completar as frases. Mesmo falando nessa velocidade, eles ainda conseguem ser bem pouco nítidos na articulação. As vogais são prolongaaaaadas, viram até ditongo: em vez de wohnen ("morar"), diz-se wounen; em vez de Kuh ("vaca"), diz-se Kou e às vezes até Kau (como no inglês).

Quem fala este dialeto parece ser mesmo do contra. Em todo lugar que um falante da língua padrão presumiria um ditongo, os falantes de baixo-alemão o ignoram: Haus ("casa") vira Huus, Schwein ("porco") vira Swien.

O dialeto do norte da Alemanha tem uma predileção por orações relativas. Ninguém diria, por exemplo, die einfahrenden Schiffe (os navios chegando), mas sim De Schäpen, die rinkomm (os barcos que entram). Apesar de uma parte do vocabulário do baixo-alemão ter sido incorporado à língua padrão falada no litoral, há muitos termos que ninguém entende, a não ser os falantes nativos do norte.

Língua ou dialeto?

O baixo-alemão não é propriamente um dialeto. É uma variante linguística com gramática e vocabulário próprios. Embora o baixo-alemão do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, por exemplo, mal seja falado ativamente pelas gerações mais jovens, o dialeto influencia quase todo mundo. Termos próprios e a típica melodia do baixo-alemão se infiltraram na língua padrão da região.

O baixo-alemão se desenvolveu de uma mistura de todas as línguas faladas no Báltico. Paralelos com sueco, inglês e até com as línguas bálticas não podem ser ignorados. A semelhança com o inglês é reforçada pelo fato de que o baixo-alemão não passou pela chamada Segunda Mutação Consonântica (Zweite Lautverschiebung) do alemão.

Sendo assim, no baixo-alemão as consoantes P, T e K permaneceram iguais ao alemão antigo, em vez de mutarem como no alto-alemão (alemão do sul e central, que acabou se tornando a língua padrão): Pfeife (cachimbo) ficou Piepe (inglês: pipe), Apfel (maçã) ficou Appel (inglês: apple) e erzählen (narrar) ficou vertellen (inglês: to tell).

Por volta de 1500, o alemão escrito foi padronizado de acordo com a variante falada no centro e no sul do país, o alto-alemão. Com isso, o baixo-alemão se tornou um dialeto apenas falado, o que facilitou que se diversificasse em variantes regionais com o passar do tempo, na ausência de uma norma escrita unificadora. Hoje, o baixo-alemão da Baixa Saxônia se diferencia do hamburguês e do dialeto de Mecklemburgo.

O dialeto é falado espontaneamente por tão pouca gente no cotidiano, que a associação de cultivo do falar local em Mecklemburgo se autodenomina Associação de Baixo-Alemão e Folclore. Para o fundador da associação, Uwe Süssmilch, o dialeto dificilmente pode ser separado das tradições locais, como as festas de colheita e dos vilarejos locais.

Placa na cidade de Jever solicita o uso de máscara em alemão e em baixo-alemãoFoto: Hauke-Christian Dittrich/dpa/picture alliance

Era do latte macchiato

O interior de Mecklemburgo e da Pomerânia Ocidental, em parte bastante idílico, nunca foi densamente povoado, pois a grande força econômica estava no litoral, voltada para o comércio marítimo. Rostock, a cidade mais populosa e o motor econômico do estado, vive exclusivamente de seu porto. Nas ruas de Rostock, com seus suntuosos casarões de patrícios e a típica arquitetura gótica em tijolo exposto, ainda se nota a riqueza da antiga cidade hanseática.

A universidade atrai para Rostock muitos jovens e garante à paisagem urbana um charme internacional. Nessa cidade de 200 mil habitantes, o mecklemburguês já não é mais aquele: em vez de sentar calado, com sua boina típica, encarando a cerveja à sua frente, ele passou a carregar os óculos de sol nos cabelos e tomar latte macchiato.

Veja um exemplo de como soa o baixo-alemão:

Diálogo entre mãe e filho

Em baixo-alemão:

Lütt Jöking kümmt zu Mudding rin und sächt: "Du Mudding, weißt du, wat Tante Amalie mi sächt hät?" "Nee, wat hät se die denn sächt, mien lütt Schieting?" "Sie hät sächt ick sull biem Schlapen nich immer upn Rückn liegen." "Und warüm nich?" "Na, sie sächt, dann gahn mie do am Achterkopp die Hoar ut – Du, Mudding, säch ma, hätt Opa immer Koppstaan im Bett?"

Em alemão:

Der kleine Junge kommt zu seiner Mutter und fragt: "Sag mal, weißt du was Tante Amalie mir gesagt hat?" "Nein, was hat sie denn gesagt, mein Kleiner?" "Sie hat gesagt, ich soll beim Schlafen nicht immer auf dem Rücken liegen." "Und warum nicht?" "Sie sagt, mir gehen dann am Hinterkopf die Haare aus – Du Mutti, hat Opa immer Kopf gestanden im Bett?"

Tradução:

O menino vira para a mãe e pergunta:

– Sabe o que a tia Amália me disse?

– Não. O que foi que ela disse, menino?

– Ela disse que eu não devia deitar sempre de costas para dormir.

– E por que não?

– Ela disse que eu ia começar a perder os cabelos na parte de trás da cabeça. Ô, mãe, será que o vovô dorme plantando bananeira?