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Diego exclusivo

17 de abril de 2009

O meia brasileiro Diego fala sobre a vontade de participar da Copa do Mundo de 2010, o que fazer para jogar futebol de forma inteligente, momentos inesquecíveis da sua carreira e os conselhos que ouviu de Pelé.

Diego: 'Me sinto muito bem na Alemanha desde o início'Foto: AP

Saber o momento certo de dar o passe, no espaço certo e para o jogador certo. Isso é, para o meia brasileiro Diego, jogar futebol de uma forma inteligente.

Eleito o melhor jogador do Campeonato Alemão na temporada 2006/07, Diego é uma das maiores estrelas do futebol na Alemanha e um dos principais responsáveis pela criação de jogadas no Werder Bremen.

Em entrevista à DW-TV, Diego fala de suas experiências na Alemanha e relembra momentos que marcaram a sua carreira. Ele considera o gol que fez do meio do campo, numa partida da Bundesliga, como um instante mágico de sua carreira.

Diego, de 24 anos, diz também que a concorrência na seleção brasileira é muito grande. "A concorrência é forte, mas não impossível. Cada um tem que ter espaço lá dentro", afirma, lembrando que prefere jogar com a camisa 10. "O meu momento de usá-la na seleção também vai chegar."

A mística da camisa 10, a vontade de jogar a Copa do Mundo de 2010 e os conselhos que ouviu do maior camisa 10 da história da seleção brasileira foram alguns dos temas que Diego abordou na entrevista a seguir.

DW-TV: Você está aqui há três anos. Quais foram as suas primeiras impressões quando chegou a Bremen?

Ao lado de Julio Baptista e Robinho, com o troféu da Copa AméricaFoto: AP

Diego: Minhas primeiras impressões foram boas, pela maneira como fui recebido por todos. Sempre tive a impressão de que era uma cidade e um país muito frios. Mas as pessoas me receberam muito bem. Isso fez com que eu me sentisse muito bem desde o primeiro instante.

Muito diferente do que você imaginou?

Não, o que teve de diferente, no começo, é que muitas pessoas me diziam que os alemães eram mais fechados. É claro, não são tão extrovertidos como os brasileiros, mas também não são fechados como me diziam. São pessoas também divertidas e alegres. E isso foi uma surpresa positiva.

Na Bundesliga há, todos os anos, um grande número de jogadores brasileiros.

No ano em que eu cheguei aqui, não havia tantos. Lembro que tinha muitos defensores. Não tinha jogadores do meio para a frente. Com o tempo foi aumentando, acredito que pela disciplina tática que o brasileiro tem aprendido aqui. Isso tem agradado os europeus. O jogador brasileiro tem a fama de só querer jogar com a bola, e com o tempo os brasileiros vão tendo uma disciplina tática maior. Por causa disso está aumentando o mercado brasileiro na Europa.

E sobre a situação do Werder Bremen. O rendimento do time caiu e hoje o Bremen está no meio da tabela da Bundesliga. A que isso se deve?

À irregularidade. Apresentamos em alguns jogos um futebol excelente e, em outros, um futebol muito ruim, sem concentração, sem disciplina. Esse tem sido o nosso erro, que nós temos que corrigir. É por causa dessa irregularidade que estamos nesta situação.

Sair do Porto e vir para o Bremen foi como um renascimento?

Não. Foi uma mudança muito boa na minha vida. Mas no Santos já tive momentos maravilhosos, também na seleção brasileira. No Porto fui campeão mundial interclubes, campeão português, campeão da Taça de Portugal. Enfim, muitas coisas boas aconteceram lá também, não tão boas quanto aqui, mas isso também não foi culpa só minha. Tenho a minha parcela de culpa, o Porto também tem a dele. Mas não considero como um renascimento, considero como uma nova fase na minha vida, na qual aconteceram muito mais coisas boas do que na minha passagem pelo Porto.

Quando criança, quando foi que você descobriu que poderia chegar longe?

Gol de voleio contra o Hertha Berlim, na BundesligaFoto: AP

Sempre gostei muito de futebol, mas sempre como diversão. Vi realmente que o meu sonho de ser um jogador profissional se tornaria realidade quando fiz meu primeiro jogo pela equipe profissional do Santos, com 16 anos. A partir daquele momento, quando eu senti o clima de estar num estádio, com os jogadores profissionais, vi que o meu sonho tinha se tornado realidade.

Mas com 11 anos você foi para um internato. Ficou longe dos pais e da sua família. Para fazer isso, você já tinha que acreditar muito no seu potencial.

Foi uma aposta que eu fiz, mas até ali eu não tinha certeza de nada. Eu estava entrando numa concorrência muito grande. Com 11 anos, são centenas, milhares de jogadores que são concorrentes. E eu era mais um. Com 11 anos, tinha muita coisa a fazer e a provar, mas apostei porque era um sonho que eu tinha. Por isso, com o apoio da minha família e de todos os amigos que jogavam comigo, tive força.

Foi difícil deixar a sua família para ingressar no internato?

Foi muito difícil, talvez o momento mais difícil da minha carreira. Afastar-se dos familiares e de todas as pessoas que eu amava, com apenas 11 anos, para ir lutar por uma coisa que era uma possibilidade. Foi um momento muito difícil para mim, mas que valeu muito a pena e eu acho que nada é por acaso. Você tem sempre que se dedicar, passar por algumas dificuldades, para alcançar o seu sonho.

Dizem que Pelé esteve no internato e conversou com você e com o Robinho.

Sim, o Pelé nos recebeu depois que nós fomos a um torneio nos Estados Unidos e saímos campeões. E o Pelé nos recebeu no estádio para nos parabenizar. Foi um momento bem legal.

O que ele disse?

Ele nos parabenizou por termos sido campeões e nos deu algumas dicas, para a gente se dedicar na escola, para obedecer aos pais, porque na época éramos muito novos, tínhamos 11, 12 anos. Para termos sempre humildade e que nós iríamos alcançar nossos sonhos.

É verdade que ele disse para vocês ficarem agradecidos pelo grande talento que receberam?

Em entrevista à DW-TVFoto: DW-TV

Não nesse dia. Foi num outro momento. Mas ele disse para todos os jogadores da categoria de base do Santos, que nós éramos privilegiados por ter esse dom de jogar futebol. Acho que ele tem razão.

Qual o percentual de dom e qual o de dedicação e treino?

Eu acho que é 50%. Você nasce com o dom e por você nascer com esse dom você passa a se dedicar nessa profissão. A partir daí, é o seu esforço, o seu treinamento para desenvolver esse dom.

Com 16 anos você começou como profissional. O que é mais difícil na profissão?

Tem muitas dificuldades. Primeiro é a concorrência. Talvez o futebol seja um dos trabalhos – senão o trabalho – mais concorrido do mundo. São milhões de jogadores tentando o mesmo objetivo. E depois é manter o nível a partir do momento em que você se torna profissional, porque a pressão é muito grande, a cobrança é muito grande, as expectativas são muito grandes. Manter esse nível é um grande desafio.

Com 17 anos, você já foi campeão e uma vez você falou que é necessário entender os mecanismos do futebol profissional. Quais são os mecanismos e como se pode aguentar a pressão?

Não, no meu caso foi um grande desafio e eu agradeço muito à minha família. Com 17 anos, minha vida mudou completamente. Eu não tinha atingido nem a maioridade ainda. A fama mudou a minha vida. E esse momento é perigoso porque é muita fantasia, é uma ilusão criada por muitas pessoas e você não pode entrar nessa ilusão.

O que é preciso para se jogar de forma inteligente?

O momento certo de dar o passe, no espaço certo e para o jogador certo. Acho que essa é uma inteligência no futebol.

Fala-se que você sempre faz coisas que o adversário não espera. Parece que você sabe o que ele espera para fazer o contrário. Isso pode ser treinado?

Pela Bundesliga, ao marcar um gol contra o StuttgartFoto: picture-alliance/ dpa

Não, isso não tem como treinar. Sexto sentido, né? Você percebe pelo movimento. Você consegue ler a jogada. É um dom, eu acho, um dom do jogador de futebol e que dentro de campo faz a diferença.

Quais foram os momentos mágicos que você viveu no futebol?

Vários. Na final do Campeonato Brasileiro [de 2002], quando eu tinha 17 anos, o passe que eu dei para o gol do nosso atacante na época foi um momento que me marcou. Nós fizemos 1 a 0 com um passe meu, um bonito passe, que acabou terminando em gol. E, aqui no Werder Bremen, aquele gol que fiz do meio do campo. Foi um momento mágico que vai ficar guardado para sempre na minha cabeça.

Para você, usar o número 10 significa algo especial?

Claro. Posso jogar com qualquer camisa, com qualquer número. Mas o número 10 é familiar, me agrada. Se eu pudesse escolher, gostaria de estar sempre com a número 10, porque eu me sinto bem com esse número.

Uma onda para usar esse número existe já há algum tempo.

Já foi mais, principalmente na época do Santos, porque o Pelé tinha usado, então o número 10 passou a ter essa magia diferente. Mas hoje em dia não tem tanto, principalmente na Europa. Tem número 10 que fica no banco de reserva.

Quando criança, qual jogador você admirava?

O Raí, que jogou no São Paulo e depois na seleção brasileira, e o Ronaldo, com a número 9. O Raí como número 10 e o Ronaldo como número 9. É um jogador que eu admiro muito também.

Na seleção brasileira a camisa 10 continua sendo especial.

Sim, na seleção eu já usei várias vezes a número 10, a número 15, a número 20. Na seleção brasileira ainda existe essa magia da camisa 10. As vezes em que a usei foram momentos especiais e muito bons para mim.

Ainda hoje há grande concorrência na seleção brasileira pela camisa de número 10.

Contra a Udinese, pela Copa da UefaFoto: AP

Sim, uma concorrência forte e que eu respeito. É uma hierarquia. Os que chegaram antes têm o mérito de usá-la. O meu momento de usá-la também vai chegar com o tempo.

Concorrendo com o Kaká fica mais difícil ser o camisa 10 da seleção.

Sim, a concorrência é forte, difícil, mas não impossível. Eu acho que cada jogador tem as suas qualidades e isso é muito importante; quem tem a ganhar com isso é a seleção brasileira. O Kaká tem a qualidade dele, eu tenho a minha, o Ronaldinho tem a dele. Cada um tem que ter espaço lá dentro.

Você sabe por que não foi convocado dessa vez para a seleção brasileira?

Não, eu nunca falei com o Dunga sobre isso. Mas a seleção brasileira talvez seja a seleção que tenha mais opções de jogadores. Por vezes, o treinador opta por outro jogador. Eu respeito isso e isso não muda o meu pensamento em relação à seleção brasileira. Tenho o sonho de disputar a Copa do Mundo e acho que tenho grandes chances.

Foi bom vir para cá para mostrar o seu futebol?

Ajudou. O campeonato alemão tem uma repercussão maior do que o campeonato português. Você é lembrado mais vezes no Brasil e isso, sem dúvida, ajuda.

Se você tem ambições de jogar a Copa do Mundo na África do Sul, o fato de o Bremen estar no meio da tabela da Bundesliga não é ruim para você, para a sua carreira na seleção brasileira?

É ruim, mas faz parte do futebol. Nem sempre é possível estar vencendo, mas com certeza a repercussão quando se perde é negativa. Mas o potencial de cada jogador todos conhecem. E o meu potencial o Dunga conhece muito bem.

Qual é a pergunta que mais lhe incomoda?

Depende do momento em que você vive. Agora, neste momento, é sempre a mesma pergunta: se eu vou ou não ficar no Werder Bremen. Essa pergunta passou a ser enjoativa, ouço todos os dias.

É muito difícil manter sempre a disciplina?

Com Klose, na temporada 2006/07Foto: PA/dpa

Não, o jogador de futebol tem sentimentos como qualquer ser humano. É claro que você tem que tomar cuidado porque a repercussão é sempre muito maior do que o acontecimento. Tem que tomar certos cuidados, mas não tem que deixar de ser humano, de ter reações, de ter emoção. Isso faz parte da vida. Se você parar de fazer isso, vai deixar de ser sincero e isso é o que eu nunca pretendo fazer na minha vida.

As pessoas falam que você tem uma cara muito linda e simpática, mas na verdade seria um pit bull. O que você diz sobre isso?

Não, não chega a ser um pit bull, mas também não sou um anjo e nem quero ser. Muito pelo contrário. Como acabei de dizer, vivo as minhas emoções e vou continuar vivendo, respeitando os meus adversários, respeitando todos, mas vivendo da maneira que eu acho que tem que ser.

Autora: Jana Schäfer

Revisão: Roselaine Wandscheer

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