Digitalização é garantia para preservação de filmes antigos
29 de setembro de 2016
O celuloide não resiste ao tempo, e os formatos digitais também não são eternos. Ainda assim, especialistas acreditam que restaurar obras clássicas e convertê-las para as novas mídias é a melhor forma de preservação.
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A primeira edição do festival Film:ReStored_01. Das Filmerbe-Festival, dedicado à herança cinematográfica, bem que poderia carregar um título menos complexo. Durante o evento realizado em Berlim, especialistas de todo o mundo debateram o futuro dos materiais usados para gravar as imagens. A ideia é que filmes antigos sejam "passados" para meios mais modernos e assim garantir que eles possam ser vistos também no futuro.
O risco de que filmes preciosos da história do cinema desapareçam para sempre em algumas décadas é grande. Há muito se sabe que o celuloide não resiste ao tempo. Por isso, pelo menos os filmes mais importantes da história do cinema alemão estão sendo detalhadamente restaurados, entre eles Metrópolis e O Gabinete do Dr. Caligari. As versões recém-restauradas desses clássicos foram exibidas em grande estilo nos últimos anos durante o Festival Internacional de Cinema de Berlim.
No entanto, a simples digitalização não é garantia para a preservação desse patrimônio cultural. Os dados digitais são legíveis apenas por um certo tempo. À medida que software e hardware avançam, eles precisam ser convertidos para formatos mais atuais. Mesmo assim, a conclusão é unânime: o futuro está na digitalização de filmes.
Filmes dão informação sobre o passado
O problema é, portanto, conhecido. E a importância de preservar esse patrimônio também é consensual. "Os filmes são parte da nossa memória cultural, da nossa memória audiovisual. Eles nos dão informações sobre a história, a ciência e a arte de uma época", comenta a historiadora do cinema Anna Bohn.
O problema está no financiamento. Um parecer encomendado pelo Ministério da Cultura da Alemanha sobre os custos da digitalização de filmes no país chegou a uma demanda de recursos no valor de 100 milhões de euros nos próximos dez anos. Uma verba que obviamente não está disponível num orçamento público que prevê em torno de 2 milhões de euros para os próximos dois anos.
Os especialistas reunidos em Berlim não foram apenas para ouvir palestras e participar de workshops, mas também para assistir a alguns filmes já restaurados e preservados para o futuro. Na abertura do evento, esteve presente a ministra alemã da Cultura, Monika Grütters – um sinal de que o assunto tem sua devida importância para o governo.
Fritz Lang faz 125 anos
Na Alemanha, ele marcou época com obras memoráveis como "Metrópolis". Nos EUA, ele codefiniu o gênero cinematográfico noir. Um tributo em imagens ao grande cineasta nascido em 5 de dezembro de 1890.
Foto: Flash-Galerie
O homem do tapa-olho
Fritz Lang (1890-1976) abriu os olhos dos alemães ao mundo do filme. Para numerosos especialistas, o cineasta nascido em Viena há 125 anos é a figura mais importante do cinema de idioma alemão. Que ele tenha sido uma das figuras mais influentes da sétima arte, não há dúvida.
Foto: Flash-Galerie
Dr. Mabuse (1922-33)
Lang rodou suas primeiras produções ainda nos tempos do cinema mudo, quando aprendeu a contar suas histórias somente através do poder das imagens. Alguns analistas são da opinião que ele teria antecipado personagens e acontecimentos do nacional-socialismo, em seus dois filmes sobre o demoníaco criminoso Dr. Mabuse, realizados em 1922 e 1933.
Foto: picture-alliance/dpa/IFTN
Os Nibelungos (1924)
Em seu monumental "Os Nibelungos" – dividido em duas partes, "A morte de Siegfried" e "A vingança de Kriemhild" –, Fritz Lang levou às telas a complexa saga mitológica germânica. Hoje, se diria tratar-se do primeiro filme do gênero fantasia na história do cinema.
Foto: picture alliance/United Archives
Metrópolis (1927)
Possivelmente sua obra mais aclamada foi "Metrópolis". Como pioneiro do gênero ficção científica, o épico serviu como modelo para numerosos filmes futuros, e fonte de inspiração sobretudo para os realizadores de Hollywood. Décadas mais tarde, o original foi meticulosamente restaurado e exibido, por exemplo, diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim.
Foto: picture-alliance/ dpa
Uma mulher na Lua (1929)
Lang era um realizador extremamente criativo e cheio de imaginação. No set de filmagens, ele e sua equipe experimentavam intensamente com diferentes perspectivas de câmera, com luz e sombra, e mais tarde, naturalmente, também com o som. Na foto, ele roda "Uma mulher na Lua".
Foto: picture-alliance/dpa/kpa
M, o Vampiro de Düsseldorf (1931)
Igualmente consagrado como obra de mestre na carreira do diretor austro-germânico, "M" conta a trajetória de um assassino de crianças. Ao mesmo tempo abjeto e tocante, o ator Peter Lorre fez escola no papel do criminoso. As cenas em que ele é perseguido pela cidade contam entre as mais impressionantes na obra de Lang.
Foto: picture alliance / United Archiv
Fúria (1936)
Filho de mãe judia convertida ao catolicismo, ele percebeu a necessidade de abandonar a Alemanha, após a ascensão dos nazistas ao poder. Primeiro Lang rodou uma película na França, porém não tardaria a fincar pé em Hollywood. "Fúria", estrelado por Spencer Tracy (esq.) e Sylvia Sidney, foi seu primeiro filme nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/dpa/B.Reisfeld
Vive-se só uma vez (1937)
Em sua segunda produção hollywoodiana, o cineasta recém-imigrado narrava a história trágica e simplesmente sem saída de um casal. "Vive-se só uma vez" impressiona por suas fascinantes imagens preto-e-branco, para as quais Lang contou com a colaboração do fotógrafo Leon Shamroy.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
A volta de Frank James (1940)
Perfeitamente adaptado às peculiaridades do sistema americano dos estúdios, a partir de meados dos anos 30 Fritz Lang pôde trabalhar continuamente. Com sucesso, ele tentou a mão nos mais diferentes gêneros, como no faroeste "A volta de Frank James", protagonizado por Henry Fonda (dir.).
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
Os carrascos também morrem (1943)
Também em sua nova pátria, os EUA, o cineasta que escapara dos nacional-socialistas se ocupou da precária situação na Alemanha. "Os carrascos também morrem" relata os acontecimentos em torno do atentado ao "vice-protetor do 'Reich'" em Praga, Reinhard Heydrich.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
Um retrato de mulher (1944)
Fritz Lang é responsável por algumas das mais impressionantes obras do film noir. Do ponto de vista estético, o gênero experimentava com o claro-escuro e com as mais diversas nuances do preto-e-branco, assim como com perspectivas de câmera ousadas. A trama, frequentemente policial, costumava girar em torno de personagens desesperadas, em fuga. Aqui, cena de "Um retrato de mulher".
Foto: picture-alliance/dpa
O segredo da porta fechada (1947)
Enquanto os filmes da fase muda na Alemanha são conhecidos e celebrados, pelo menos entre os cinéfilos, em meio à produção americana do diretor ainda há muito que descobrir. "O segredo da porta fechada" conta entre essas joias ocultas.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
Gardênia Azul (1953)
Outros produtos da fase americana de Lang, por sua vez – como "Gardênia Azul", com Anne Baxter e Richard Conte – são presença constante até mesmo na programação dos canais de TV. O título se refere à canção "Blue Gardenia", interpretada no filme por Nat King Cole.
Foto: picture-alliance/dpa/United Archives/IFTN
Os corruptos (1953)
Entre as obras do mestre subestimadas até hoje, destaca-se "Os corruptos". No entanto, o brutal thriller policial é reconhecido por muitos como um marco do film noir e influenciaria gerações subsequentes de cineastas. No elenco, Glenn Ford (esq.) e Lee Marvin (c.).
Foto: picture-alliance/dpa/Röhnert
O tigre de Bengala (1959)
Em 1956, Fritz Lang retornou à Europa. Na Alemanha, ainda realizaria três películas. Embora longe de possuir a potência e originalidade das obras do início de carreira, essas produções são ainda exibidas por todo o mundo. Como na retrospectiva de 2014 no Brasil, onde se viu "O tigre de Bengala". Hoje, o cineasta nascido na Áustria e atuante na Alemanha e nos EUA é um artigo cultural de exportação.