DIHK sugere às empresas deixar o país
22 de março de 2004O presidente da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), Ludwig Braun, acusou o governo alemão de ter negligenciado junto à população o esclarecimento sobre a necessidade de reformas. Ao comentar as articulações de alguns membros do Partido Social Democrata (SPD) para fundar um novo partido de esquerda, Braun lembrou:"Quem na oposição até 1998 criticou qualquer mudança como desmantelamento social, não pode se admirar agora se alguns membros do partido ainda não entenderam a realidade do século 21".
A política fracassou ao não conscientizar a população a tempo sobre a necessidade de reformas, disse o presidente da DIHK em entrevista publicada na edição desta segunda-feira (22/03) do jornal Tagesspiegel, de Berlim. Além disso, "os conhecimento básicos do governo sobre economia são errados", acusou Braun.
Aproveitar a ampliação para o Leste
Zelar pela confiança de consumidores e empresários é uma das principais tarefas da política, defende o empresário, para quem a população tem de ter confiança para poder consumir e a iniciativa privada, para investir. "Isto não funciona se há mudanças constantes nas leis e regulamentações", reclama.De forma indireta, Braun sugeriu ao empresariado que aproveite a ampliação da União Européia, em maio, e transfira seus centros de produção para o Leste Europeu.
Esta solução, segundo o presidente da DIHK, não só garantiria o mercado alemão de trabalho, como as ultimamente tão discutidas vagas para aprendizes. "Atualmente, mal se ganha dinheiro na Alemanha. Se os conglomerados apresentassem balanços parciais apenas para a Alemanha, se veria que os lucros geralmente vêm do exterior", ressalta Braun.
O novo secretário-geral do SPD, Klaus-Uwe Benneter, reagiu com indignação às reclamações do presidente da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio. "Os líderes empresariais parecem estar abusando do poder que têm. Esta é uma forma indecente de tratar as nossas possibilidades", reclamou Benneter.
"A transferência da produção para outros países é a última coisa de que precisamos", advertiu o consultor Wolfgang Franz, um dos seis "sábios" da economia alemã, como é chamado o grupo independente que presta assesoria ao governo alemão em temas econômicos. A preferência por países de mão-de-obra barata deixa clara a necessidade de mais reformas, destaca Franz. Ele exorta Berlim a criar condições para baratear a produção no país, em vista dos baixíssimos impostos vigentes no futuros dez novos membros da União Européia.
Redução de custos com mão-de-obra
Muitas empresas alemãs já transferiram seus centros de produção para outros países. A Siemens, por exemplo, está fazendo uma análise de custos em todos os seus departamentos. "Áreas muito caras têm de contar com a transferência para o Leste Europeu e a Ásia", informou Ralf Heckmann, representante das comissões de fábrica da empresa. Detalhes sobre estes planos serão apresentados no próximo dia 30 de março.Também o Deutsche Bank estuda a possibilidade de transferir 250 vagas de Frankfurt para Praga, conforme informações do sindicato Verdi. Um porta-voz do maior banco alemão confirmou o plano, que teria o objetivo de conter custos. Ele entretanto não quis se pronunciar sobre o número de funcionários atingidos.
A sugestão de Berlim de impor uma taxação às empresas que não oferecem vagas para aprendizes encontra forte resistência entre os empresários alemães. O gerente executivo da DIHK, Martin Wansleben, adverte que 16% das firmas alemãs congelaram suas vagas para aprendizes, à espera das condições exatas da taxação. "Com isso sobe o risco de que falte em 2004 o dobro das vagas em relação ao ano passado, quando 35 mil jovens não puderam iniciar uma formação profissional", alerta.