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Dilma e Aécio disputam "nova classe média"

Karina Gomes23 de outubro de 2014

Faixa populacional que ascendeu à classe C nos últimos dez anos representa 56% do eleitorado e se divide entre candidatos, com maior preferência pela petista. Projetos para o futuro da economia contam na decisão.

Foto: AFP/Getty Images

A chamada "nova classe média" tem um peso relevante na briga por votos entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). O extrato social que recebe de dois a cinco salários mínimos e ascendeu à classe C nos últimos anos da gestão petista representa 56% do eleitorado, de acordo com o Instituto Data Popular.

"Até 2010, esse estrato social não se colocava com tanta força. Essa eleição presidencial tem uma característica diferente das outras. O grande desafio das campanhas é compreender os anseios dessa camada que ascendeu socialmente, e convencê-la", diz o cientista político Wagner de Melo Romão, pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp.

Enquanto a intenção de votos para Dilma é maior entre a população de renda mais baixa (classes D e E), a classe média tradicional e os mais ricos apoiam em ampla maioria a candidatura de Aécio. Já entre os brasileiros que compõem a "nova classe média" – trabalhadores, sobretudo, dependentes de serviços públicos – existe uma divisão.

As últimas pesquisas qualitativas feitas pelo Instituto Datafolha mostram que 45% querem que o PSDB volte à Presidência, e 45% defendem a permanência do PT.

"A curva aponta que o tucano está perdendo votos nesse segmento, enquanto Dilma cresce", explica Marcus Ianoni, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF). "Os movimentos de intenção de voto que temos visto nessa eleição são históricos."

Para Romão, a divisão dos votos está relacionada ao quanto esses eleitores compreendem que a gestão petista possa ter interferido num processo de ascensão social de sua família, ampliando o acesso a serviços, educação e emprego.

Um levantamento do Data Popular obtido pelo jornal O Globo mostra que apenas 9% dessa faixa populacional acredita que as melhoras na condição de vida se devem ao Estado; 89% atribuem a ascensão social ao esforço próprio.

"As campanhas têm tentado trabalhar com esses dois aspectos: Dilma tenta mostrar que a situação desse eleitor mudou em relação a 2002, porque houve algum tipo de ação governamental que colaborou nesse processo de ascensão social", diz Romão. "Já Aécio reconhece que houve uma grande ascensão social, mas defende que esse é o momento da mudança, principalmente para melhorar a situação econômica do país."

Dilma quer mostrar que ascensão social se deve aos programas do governo; Aécio critica situação econômicaFoto: Reuters/Nacho Doce

Economia e estratégias eleitorais

A ascensão da "nova classe média" marcou uma expansão nos setores de varejo e construção, no aumento de salários e na diminuição dos lucros, o que tem gerado atritos frente aos investidores domésticos.

"O surgimento dessa camada criou certos constrangimentos para o tecido econômico. A 'nova classe média' é importante como força política. Muitos entendem que a melhora de vida foi impulsionada por programas como o ProUni ou pela ampla rede de auxílio-desemprego", aponta André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

A elevação da renda desses trabalhadores também criou pressões inflacionárias. O processo de investimento do governo federal acabou afetando as contas públicas, ao mesmo tempo em que houve aumento de empréstimo para bancos estatais.

Para Perfeito, apesar de se falar em inflação alta, a maior parte da "nova classe média" está "imune a ela". O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), medido pelo IBGE, acumula alta de 6,75% nos últimos 12 meses.

"O salário está subindo acima da inflação, por isso eles não a sentem de maneira tão forte. Assim como o crescimento econômico está baixo, o nível de desemprego caiu", explica.

Otimismo

Ao mesmo tempo em que as ações da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) apresentam quedas consecutivas diante dos resultados de pesquisas de intenção de voto favoráveis a Dilma, o otimismo do eleitor em relação à economia aumentou.

A última sondagem do Datafolha aponta que o número de pessimistas em relação à inflação caiu 33 pontos percentuais, na comparação com o mês de abril; apenas 31% dos eleitores acreditam que o aumento de preços continuará.

O otimismo também se mantém quanto ao desemprego, ao poder de compra e a situação econômica do país. A explicação, segundo o instituto, é que a maioria dos eleitores de Aécio e de Dilma acredita que seus candidatos vencerão a disputa.

Perfeito considera que os presidenciáveis têm uma margem de manobra pequena, que deve limitá-los a ações no campo microeconômico.

A petista aposta que a confiança empresarial vai voltar e criar espaço para acomodar esse novo estrato social. Já Aécio pretende segurar o incremento dessa faixa populacional e, assim, criar melhores condições para essas pessoas.

O economista vê a disputa acirrada dessas eleições como resultado das transformações econômicas pelas quais o país tem passado. O racha é consequência do novo cenário entre as classes sociais. "São as dores do crescimento do Brasil", conclui.

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