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Dilma e Aécio travam debate mais agressivo do segundo turno

Marina Estarque, de São Paulo17 de outubro de 2014

Tucano acusa presidente de fazer "campanha mentirosa" e denuncia nepotismo no governo federal. Petista usa Lei Seca para lembrar caso envolvendo rival e liga ex-presidente do PSDB a escândalo da Petrobras.

Foto: picture-alliance/Landov/R. Patrasso

Os candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) se enfrentaram nesta quinta-feira (16/10) no debate mais agressivo do segundo turno.

Dilma usou a Lei Seca para lembrar um caso envolvendo Aécio, e o tucano disse que a petista faz uma "campanha mentirosa". Os candidatos também se confrontaram sobre corrupção e nepotismo, o que também gerou momentos tensos.

Após o debate, a atual presidente se sentiu mal e teve que interromper uma entrevista. Ela disse ter tido uma queda de pressão, pediu água e se sentou. Como já havia alcançado o mesmo tempo de entrevista do adversário, foi impedida pela repórter de continuar. "Se é assim que você quer, assim será", respondeu Dilma.

Lei Seca

Durante o confronto, a petista perguntou a Aécio o que ele pensava sobre a Lei Seca, que pune motoristas flagrados dirigindo alcoolizados.

"Todos os anos, 40 mil pessoas morrem por acidentes de trânsito. Muitos desses acidentes decorrem porque há motoristas dirigindo embriagados ou drogados. O que senhor acha da Lei Seca e se todo cidadão, que for solicitado, deve se dispor a fazer exame de álcool e droga?", questionou Dilma.

Em 2011, o tucano foi parado em uma blitz da Operação Lei Seca, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Aécio se recusou a fazer o teste do bafômetro. Ele argumentou que não fez o teste porque a polícia já havia constatado que sua carteira de habilitação estava vencida.

Quando indagado no debate sobre o incidente, o tucano demonstrou irritação e acusou a petista de fazer “a campanha mais baixa da história”.

"Eu tive um episódio sim, e reconheci, candidata, eu tenho uma capacidade que a senhora não tem. Eu tive um episódio que parei numa Lei Seca porque minha carteira estava vencida e ali naquele momento, inadvertidamente, não fiz o exame e me desculpei disso. Mas a senhora não se arrepende de nada no seu governo", retrucou Aécio.

Ele respondeu ainda que a petista não tinha "coragem" de fazer a pergunta diretamente e que trazer o tema ao debate era "desespero".

Dilma voltou a mencionar escândalos relacionados ao PSDB e afirmou que o partido "engaveta" e "coloca para debaixo do tapete" os casos de corrupçãoFoto: Reuters/P. Whitaker

Nepotismo

Mencionado no ultimo debate pela petista, o tema foi novamente um dos mais intensos do encontro. Novamente, Dilma questionou Aécio sobre "nomeações de parentes para o governo".

Em resposta, o tucano citou a campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Em 1989, ele usou o depoimento de uma ex-namorada de Lula, que acusou o petista de incentivá-la a realizar um aborto. O caso foi desmentido posteriormente.

"Nós tivemos, no passado não muito remoto, um episódio muito triste na política brasileira, quando o candidato Fernando Collor trouxe para o meio do debate político, de forma absolutamente irresponsável, uma parente do ex-presidente Lula. A senhora gosta de falar de parentes", comparou Aécio.

Aécio defendeu que a atuação de sua irmã Andréa Neves – segundo ele, a “neta preferida” do presidente eleito Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse.

"Ela assumiu o serviço de voluntariado do Estado de Minas Gerais, me ajudou a coordenar a área de comunicação sem remuneração, candidata. A senhora não conhece Minas Gerais. Se conhecesse um pouco ia saber o respeito que Minas tem por ela. Nas enchentes, nas catástrofes, era ela quem mobilizava empresários, mobilizava as igrejas para resolver o problema das pessoas mais simples, por isso eu me orgulho muito de a Andréa ser a minha companheira", disse.

Em sua resposta, pela primeira vez, Aécio mencionou o irmão de Dilma, Igor Rousseff, que foi assessor especial do gabinete do prefeito de Belo Horizonte, sob a gestão de Fernando Pimentel (PT). Ele se desligou da prefeitura em 2008.

"Essa é a grande verdade, lamento ter que trazer esse tema aqui. A diferença entre nós é que a minha irmã trabalha muito e não recebe nada, o seu irmão recebe e não trabalha nada. Infelizmente agora nós sabemos por que a senhora disse que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que os seus aliados o fizessem, candidata", atacou o tucano.

Dilma retrucou que, segundo as decisões do STF (Supremo Tribunal Federal), os parentes não podem ser empregados no mesmo governo do político eleito.

"Eles não podem estar no governo que nós estamos. O nepotismo, candidato, eu não criei. O nepotismo é uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Toda sociedade brasileira sabe que dentro do governo federal e dentro do governo do estado de Minas não pode ter um irmão, uma irmã, um tio, três primos e três primas. O senhor tem de dar conta de todos, não só da sua irmã", disse.

Dilma ainda afirmou que a irmã de Aécio era a "responsável pela destinação de verbas para a propaganda". "Ora, a imprensa tem perguntado: Quanto é que vocês colocaram nos três rádios e no jornal que vocês possuem? Essa é uma pergunta que não é minha, candidata, o senhor deve a ela, à imprensa", questionou.

"Eu tive um episódio que parei numa Lei Seca [...], não fiz o exame e me desculpei disso. Mas a senhora não se arrepende de nada no seu governo", atacou AécioFoto: Reuters/P. Whitaker

Corrupção

O tema da corrupção foi mais uma vez largamente explorado por Aécio. O tucano iniciou o debate questionando a petista sobre os escândalos na Petrobras. O embate seguiu a mesma tônica do ultimo encontro entre os dois candidatos.

Dilma repetiu quem em seu governo, os corruptos são investigados e punidos, através da Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário. Assim como da ultima vez, mencionou escândalos relacionados ao PSDB e afirmou que o partido "engaveta" e "coloca para debaixo do tapete" os casos de corrupção.

A petista mencionou uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que acabara de ser publicada, sobre novas delações do ex-diretor da Petrobras. Desta vez, Paulo Roberto Costa, segundo o diário, teria dito ter pagado propina ao PSDB.

"Candidato, há pouco saiu no UOL, o seguinte: que o ex-diretor da Petrobras afirmou ao Ministério Público Federal que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra recebeu propina para esvaziar uma CPI da Petrobras. É muito fácil o senhor ficar fazendo denúncias", argumentou.

Dilma disse ainda que era preciso investigar "doa a quem doer".

A dez dias do segundo turno, os dois candidatos estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto. Nas últimas sondagens divulgadas pelo Ibope e pelo Datafolha, o tucano tem 45%, e a petista, 43%.

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