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Dilma recebe Gauck e pede ajuda alemã para Comissão da Verdade

Renate Krieger, de São Paulo14 de maio de 2013

Em primeira viagem ao país, presidente alemão elogia esforços brasileiros para reparar "injustiças" do passado. Ele abriu Encontro Econômico Brasil-Alemanha e destacou, ao lado de Dilma, longa parceria comercial.

Foto: Reuters

Em visita ao Brasil, o presidente da Alemanha, Joachim Gauck, repetiu nesta segunda-feira (13/05) palavras ditas, dias atrás, na Colômbia, sobre a reconciliação nacional. “Se não é possível reparar todas as injustiças do passado, que pelo menos se use todos os meios possíveis para apurar a verdade, para restabelecer a dignidade das vítimas”, afirmou antes de oficializar, ao lado da presidente Dilma Rousseff, a abertura da 31ª edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA 2013) em São Paulo.

"Uma Comissão da Verdade que tenha apoios sólidos, que seja independente e tenha acesso a todas as fontes do governo tem importância fundamental” na eliminação de injustiças, completou Gauck.

Por sua vez, citando o passado de Gauck à frente da administração da abertura dos arquivos da Stasi (o serviço secreto da antiga Alemanha Oriental), Dilma pediu ao presidente alemão ajuda no acesso a “eventuais arquivos existentes na Alemanha que possam auxiliar no trabalho da Comissão Nacional da Verdade”.

Em viagem pela América do Sul, Gauck foi ao Brasil em virtude do Ano Alemanha + Brasil 2013, que busca intensificar a parceria dos dois países, especialmente nos âmbitos cultural e econômico.

Segundo Dilma, a Alemanha foi o quarto maior parceiro comercial do Brasil em 2012 e o maior parceiro do Brasil na União Europeia. Já o Brasil é o quinto maior investidor na UE, disse a presidente, que afirmou ainda querer “intensificar a parceria estratégica” firmada em 2002 pelos dois países.

Destaque para a economia

Gauck adotou um tom nostálgico no discurso de abertura do EEBA 2013, destacando a participação histórica de imigrantes alemães no desenvolvimento do Brasil, ponto que também foi citado por Dilma. Gauck mencionou a “coragem” dos brasileiros de sair de uma ditadura (1964 – 1985) e, fazendo uma alusão à própria biografia, elogiou o fato de o Brasil estar assumindo um papel de destaque internacional, por exemplo com a missão de paz que enviou ao Haiti.

“O Brasil percebeu que, fazendo o bem a quem precisa, pode receber o bem em troca”, afirmou. Gauck citou “valores comuns” de Brasil e Alemanha, que ainda estão tentando “definir a si mesmos como nações” e descobrindo as “responsabilidades” que têm de assumir.

Ele também se disse feliz pela eleição do brasileiro Roberto Azevêdo à chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC), na semana passada. Já Dilma afirmou que a eleição de Azevêdo fará com que a OMC “seja fortalecida na busca de um acordo multilateral de comércio”, destacando igualmente a importância de um futuro acordo comercial do Mercosul e da União Europeia, que serviria para intensificar a parceria entre Brasil e Alemanha.

O discurso de abertura do EEBA da presidente brasileira deu destaque para a economia, exaltando a consolidação fiscal de seu governo e a “mobilidade social” conseguida pelo Brasil nos últimos anos. Dilma também citou investimentos em infraestrutura como uma oportunidade “acompanhada com interesse” pelas empresas alemãs. O Brasil tem cerca de 50 empresas na Alemanha, ao mesmo tempo em que a Alemanha está representada com 1.200 empresas no Brasil.

O presidente alemão, Joachim Gauck, cumprimenta a presidente Dilma RousseffFoto: picture-alliance/dpa

Comparando as exportações dos dois países, Dilma disse desejar aumentar a venda de produtos brasileiros na Alemanha, mas ampliando o valor agregado dos bens exportados. Em 2012, os principais produtos brasileiros exportados para a Alemanha foram minérios, escórias e cinzas, num total de 17,6% do total exportado. Café, chá, mate e especiarias totalizaram 10,7%. Já a Alemanha exportou principalmente produtos como máquinas e equipamentos, além de veículos, para o Brasil.

No plano político, Dilma criticou as “injeções monetárias” de países ricos, que, segundo ela, “pressionaram pela valorização de moedas de países em desenvolvimento, afetando a competitividade" de produtos brasileiros. A questão já foi centro de atrito entre ela e chanceler federal alemã, Angela Merkel, no passado. Gauck, por sua vez, disse que “é uma boa notícia" que Dilma e Merkel se mostrem atualmente "de coração aberto”.

Pequenas e médias empresas

Para Dilma, o desafio do Brasil é “capacitar pequenas e médias empresas” que, como na Alemanha, formem um “tecido social que resista mais” às oscilações da crise financeira internacional, cujos efeitos, segundo ela, não podem ser apagados com uma cooperação mais intensa, mas sim por um aumento da competitividade.

Dados divulgados durante o EEBA, organizado pela Confederação Nacional das Indústrias do Brasil (CNI), sua homóloga alemã BDI e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) dão conta de um “déficit no saldo comercial brasileiro”, principalmente por causa do tipo de produto nacional comercializado no exterior.

“O déficit no saldo comercial brasileiro atingiu US$ 6,1 bilhões em 2011, o maior já registrado nos últimos anos”, diz documento do EEBA. Por outro lado, segundo os organizadores do encontro econômico, a corrente de comércio retomou em 2010 o patamar de 2008, ultrapassando US$ 20 bilhões. Em 2011, o comércio entre os dois países teria sido de US$ 24,2 bilhões.

“Não acho que as relações comerciais entre Alemanha e Brasil tenham esfriado”, disse Rafael Haddad, do BDI Brazil Group, em entrevista à DW Brasil durante o EEBA. “Nos últimos cinco a sete anos, o volume de negócios dobrou”, citou, lembrando que o Brasil “já tem empresas alemãs consolidadas” e que esse elemento não entra necessariamente no cálculo da balança comercial. Haddad destacou, por isso, a importância da cooperação tecnológica de pequenas e médias empresas dos dois países, “para desenvolver tecnologia em conjunto”.

Haddad lembrou que “o que sustenta a economia alemã é a pequena e média empresa”, que depende do mercado internacional. Ao mesmo tempo, disse, as empresas brasileiras querem se desenvolver tecnologicamente.

Pesquisa, inovação e cultura

Dilma manifestou interesse na parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) com o Instituto alemão Fraunhofer na área de pesquisa. A presidente brasileira também destacou o apoio da Alemanha ao programa Ciência Sem Fronteiras, que acolhe atualmente mais de 2 mil brasileiros em universidades e centros de pesquisa.

“Estamos seguros que, ao voltar ao Brasil, os estudantes vão trazer uma contribuição na inovação, de que vão beneficiar as empresas brasileiras”, afirmou. Até 2014, Dilma espera que mais dez mil vagas estejam disponíveis para estudantes brasileiros em universidades alemãs.

A presidente também citou o Ano Alemanha + Brasil e disse esperar o intercâmbio cultural por meio de eventos como o destaque do Brasil como país convidado da Feira do Livro de Frankfurt, em outubro. Ao mesmo tempo, a Alemanha será destaque da Feira do Livro do Rio de Janeiro.

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