Suicídios de homossexuais diminuem após lei do casamento gay
14 de novembro de 2019
Levantamento na Dinamarca e na Suécia associa legalização do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo à redução de suicídios entre população LGBT. Mas gays ainda se matam mais frequentemente do que heterossexuais.
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A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo reduziu as taxas de suicídio entre homossexuais na Suécia e na Dinamarca, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira (14/11). Entretanto, a pesquisa aponta que gays e lésbicas divorciados, viúvos ou casados ainda são mais propensos ao suicídio do que heterossexuais.
O levantamento, realizado pelo Instituto Dinamarquês de Prevenção do Suicídio e pela Universidade de Estocolmo, comparou taxas de suicídio de cônjuges em casamentos do mesmo sexo e em matrimônios heterossexuais nos períodos de 1989 a 2002 e de 2003 a 2016.
O trabalho, publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, revelou ter ocorrido uma queda de 46% na taxa de suicídios de homossexuais casados, contra 28% na de casais heterossexuais.
Os autores do levantamento acreditam que a redução do estigma entre as minorias sexuais pode ter contribuído para a queda nas mortes. A pesquisa foi baseada em dados oficiais de milhares de casais do mesmo sexo nos dois países, que estão entre os primeiros no mundo a legalizar o matrimônio gay.
"Ser casado protege contra o suicídio", diz a chefe do estudo, Annette Erlangsen, do Instituto Dinamarquês de Pesquisa para Prevenção do Suicídio. "Legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras medidas legislativas podem realmente reduzir o estigma em torno das minorias sexuais."
Entretanto, membros de uniões homossexuais ainda se mataram com frequência mais de duas vezes maior do que os membros de casamentos heterossexuais em ambos os períodos, reforçando pesquisas de outros países, que apontam para uma maior incidência de tentativas de suicídio entre pessoas LGBT.
O estudo analisou dados de mais de 28 mil cidadãos vivendo em uniões do mesmo sexo por uma média de 11 anos. Também constatou-se que lésbicas casadas tinham 2,8 vezes mais chance de se suicidarem do que mulheres em uniões heterossexuais, e ligeiramente mais chance do que homens heterossexuais casados. Já homens heterossexuais com parceiros teriam uma tendência maior de se matarem.
"Ainda existe um grau considerável de homofobia, particularmente contra homossexuais masculinos", ressaltou Morten Frisch, da entidade de pesquisa Instituto Statens Serum da Dinamarca. "Pouco menos de um em cada três homens ainda considera moralmente inaceitável que dois homens façam sexo um com o outro", afirmou, citando uma pesquisa com mais de 62 mil dinamarqueses divulgada em outubro.
Em 1989, a Dinamarca se tornou o primeiro país do mundo a permitir uniões civis do mesmo sexo. A Suécia seguiu o exemplo em 1995. O casamento gay foi legalizado na Suécia em 2009 e na Dinamarca, em 2012. Os dois países são vistos como líderes globais em relação aos direitos LGBT.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal em 27 países, 16 deles na Europa. O Equador se tornou a mais recente nação a entrar nesta lista, em junho. Com a decisão, o país se juntou, na América Latina, a Brasil, Argentina, Costa Rica, Uruguai e Colômbia, que também reconhecem os direitos civis dos homossexuais.
Os jovens LGBT têm pelo menos três vezes mais chances de tentarem suicídio do que jovens heterossexuais, de acordo com 35 estudos de 10 países coletados por pesquisadores em 2018. A legislação que promove os direitos LGBT pode contribuir para redução do risco de suicídio – mesmo para quem ainda não tem idade para se casar.
Tentativas de suicídio de estudantes do ensino médio dos Estados Unidos caíram 7% em estados que permitem o casamento do mesmo sexo – aponta um estudo de 2017 da Universidade de Harvard – e 14% entre os alunos que se identificam como lésbica, gay ou bissexual.
A DW evita noticiar suicídios porque há indícios de que relatos sobre o assunto podem levar a imitar tais ações. Se você enfrenta problemas emocionais e tem pensamentos suicidas, não deixe de procurar ajuda profissional. Você pode buscar ajuda neste site: https://www.befrienders.org/portugese
A Austrália é o país mais recente do mundo a permitir legalmente o casamento de pessoas do mesmo sexo. Conheça alguns países onde a união homoafetiva é garantida por lei.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/O. Messinger
2001, Holanda
A Holanda foi o primeiro país do mundo a permitir o casamento de pessoas do mesmo sexo depois que o Parlamento votou a favor da legalização, em 2000. O prefeito de Amsterdã, Job Cohen, casou os primeiros quatro casais do mesmo sexo à meia-noite do dia 1º de abril de 2001 quando a lei entrou em vigor. A nova norma também introduziu a permissão para que casais homoafetivos adotassem crianças.
Foto: picture-alliance/dpa/ANP/M. Antonisse
2003, Bélgica
A Bélgica seguiu a liderança do país vizinho e, dois anos depois da Holanda, legalizou o casamento de pessoas do mesmo sexo. A lei deu a casais homoafetivos muitos direitos iguais aos dos casais heterossexuais. Mas, ao contrário dos holandeses, os belgas não deixaram que casais gays adotassem. Esse direito foi garantido apenas três anos depois pela aprovação de uma lei no Parlamento.
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2010, Argentina
A Argentina foi o primeiro país da América Latina a legalizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, quando 33 senadores votaram a favor da lei, e 27 contra, em julho de 2010. Assim, a Argentina se tornou o décimo país do mundo a permitir legalmente a união homoafetiva. Em 2010, Portugal e Islândia também aprovaram leis garantindo o direito ao casamento gay.
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2012, Dinamarca
O Parlamento dinamarquês votou a favor da legalização do casamento gay em junho de 2012. O pequeno país escandinavo já havia aparecido nas manchetes da imprensa internacional quando se tornou o primeiro país do mundo a reconhecer uniões civis para casais gays, em 1989. Casais formados por pessoas do mesmo sexo também já podiam adotar crianças desde 2009.
Foto: picture-alliance/CITYPRESS 24/H. Lundquist
2013, Uruguai
O Uruguai aprovou uma lei eliminando a exclusividade de direitos de casamento, adoção e outras prerrogativas legais para casais heterossexuais em abril de 2013, um mês antes de o Brasil regulamentar (mas não legalizar) o casamento gay. Foi o segundo país sul-americano a dar esse passo, depois da Argentina. Na Colômbia e no Brasil, o casamento gay é permitido, mas não foi legalizado pelo Congresso.
Foto: picture-alliance/AP
2013, Nova Zelândia
A Nova Zelândia se tornou o 15º país do mundo e o primeiro da região Ásia-Pacífico a permitir casamentos homoafetivos em 2013. Os primeiros casamentos aconteceram em agosto daquele ano. Lynley Bendall (e.) e Ally Wanik (d.) estavam entre esses casais, com a união civil a bordo de um voo entre Queenstown e Auckland. No mesmo ano, a França também legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/Air New Zealand
2015, Irlanda
A Irlanda chamou atenção internacional em maio de 2015, quando se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o casamento gay com um referendo. Milhares de pessoas comemoraram nas ruas de Dublin quando os resultados foram divulgados, mostrando quase dois terços dos eleitores optando a favor da medida.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/A. Crawley
2015, Estados Unidos
A Casa Branca foi iluminada com as cores da bandeira do arco-íris em 26 de junho de 2015. A votação no Supremo Tribunal dos EUA decidiu por 5 a 4 que a Constituição americana garante igualdade de casamento, um veredito que abriu caminho para casamentos homoafetivos em todo o país. A decisão chegou 12 anos depois que o tribunal decidiu pela inconstitucionalidade de leis criminalizando o sexo gay.
A Alemanha foi o 15º país europeu a legalizar o casamento gay no dia 30 de junho de 2017. A lei foi aprovada por 393 votos a favor e 226 contra no Bundestag (Parlamento alemão). Houve quatro abstenções. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, votou contra, mas abriu caminho para a aprovação quando, alguns dias antes da decisão, disse que seu partido poderia votar livremente a medida.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/O. Messinger
2017-2018, Austrália
Após uma pesquisa mostrando que a maioria dos australianos era a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo, o Parlamento do país legalizou a união homoafetiva em dezembro de 2017. Os casais australianos precisam avisar as autoridades um mês antes do casamento. Assim, muitas pessoas se casaram logo depois da meia-noite de 9 de janeiro (2018), como Craig Burns e Luke Sullivan (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/P. Hamilton
E no Brasil?
Na foto, as brasileira Roberta Felitte e Karina Soares posam após casarem em dezembro de 2013, no Rio. Em maio daquele ano, o Brasil regulamentou o casamento gay por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mas, apesar de cartórios não poderem se recusar a casar pessoas do mesmo sexo, a norma não tem força de lei e pode ser contestada por juízes.