Após 548 dias de restrições e com mais de 70% da população imunizada, a Dinamarca diz adeus às medidas anticovid. Com cerca de 500 casos diários, o governo não considera mais a covid-19 "uma doença socialmente crítica".
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A Dinamarca se tornou o primeiro país da União Europeia (UE) livre de quaisquer restrições relacionadas à pandemia do novo coronavírus. Após 548 dias com restrições e graças a alta taxa de vacinação, a Dinamarca completou nesta sexta-feira (10/09) a volta gradativa à normalidade com a suspensão do último entrave social no país – a obrigatoriedade de apresentar um comprovante digital de vacinação em casas noturnas.
Os números de novas infecções diminuíram na Dinamarca à medida que as taxas de vacinação aumentavam. Mais de 80% da população acima de 12 anos está totalmente imunizada. Ou, em outros números, 73% da população de 5,8 milhões de habitantes está vacinada.
A partir da meia-noite, o governo dinamarquês não considera mais a covid-19 "uma doença socialmente crítica". As autoridades insistem que o coronavírus está sob controle, com cerca de 500 casos diários. No final de agosto, o ministro da Saúde da Dinamarca, Magnus Heunicke, afirmou que "a epidemia está sob controle", mas advertiu que "não estamos fora da epidemia" e que "o governo agirá de acordo assim que necessário".
Governo diz que não irá hesitar em caso de aumento de infecções
A Dinamarca é atualmente o único país europeu sem restrições anticoronavírus, embora não tenha sido o primeiro a suspendê-las. A Islândia chegou a retornar à plena normalidade em junho, mas viu-se forçada a reimplementar algumas medidas de segurança sanitária após um aumento de casos.
"Não diria que é muito cedo. Abrimos a porta, mas também dissemos que podemos fechá-la se necessário", disse Soeren Riis Paludan, professores de virologia da Universidade de Aarhus, a segunda maior cidade dinamarquesa.
Jens Lundgren, professor de doenças virais do Hospital Universitário de Copenhague disse que o governo estará "bastante disposto" a reintroduzir restrições caso o número de novas infecções voltasse a subir. Lundgren apontou que os clubes noturnos foram os últimos locais livres de restrições porque "é a atividade associada com o maior risco de transmissão".
"O mundo está no meio de uma pandemia e nenhum de nós pode afirmar que estamos além da pandemia", disse Lundgren, que descreveu a Dinamarca como sendo "uma ilha isolada" onde a campanha de vacinação funcionou. "Ninguém deve ter a ilusão de que superamos isso."
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Show com público de 50 mil pessoas
O ponto de guinada para o começo da flexibilização das restrições na Dinamarca veio quando uma maioria considerável da população na faixa etária acima de 50 anos tinha recebido as duas doses dos imunizantes, segundo constatou Riis Paludan.
A Dinamarca introduziu o chamado passaporte da covid-19 em março como parte de um programa de flexibilização gradual. Em 1º de agosto, o governo eliminou a exigência do comprovante em museus e eventos internos com menos de 500 pessoas – posteriormente aboliu a medida também para grandes eventos.
Desde 14 de agosto, o uso de máscaras não é mais obrigatório no transporte público. Em 1º de setembro, as boates foram reabertas, os limites de pessoas em reuniões públicas foram removidos e deixou de ser obrigatório mostrar qualquer comprovante de vacinação em restaurantes, estádios de futebol, academias ou no cabeleireiro.
Neste sábado, um show em Copenhague com lotação esgotada receberá 50 mil pessoas – o primeiro na Europa desde a eclosão da pandemia.
No entanto, o uso de uma máscara segue obrigatório nos aeroportos e as pessoas são aconselhadas a usá-las quando estiverem no médico ou em centros de exames e hospitais. O distanciamento social segue recomendado e as restrições rígidas de entrada ao país seguem em vigor para não dinamarqueses nas fronteiras.
OMS: coronavírus estará presente por anos
Mas enquanto o país escandinavo mira para um futuro pós-pandemia livre de restrições, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que somente as vacinas podem não ser suficientes para acabar com a pandemia e que o coronavírus causar da covid-19 pode estar presente por anos.
De acordo com Hans Kluge, chefe da OMS na Europa, os imunizantes ajudam a prevenir doenças graves e a morte, mas o coronavírus deve persistir por anos, pois sofre mutações. "Devemos antecipar como adaptar gradualmente nossa estratégia de vacinação à transmissão endêmica e reunir um conhecimento realmente precioso sobre o impacto de doses adicionais", disse Kluge em coletiva de imprensa em Copenhague.
pv (ap, afp)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine