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Diocese italiana critica homenagem a Bolsonaro

29 de outubro de 2021

Prefeitura de vilarejo que é terra natal de ancestral de Bolsonaro planeja conceder título de cidadão honorário ao presidente. Para Diocese de Pádua, homenagem é motivo de "grande constrangimento".

Presidente Jair Bolsonaro
Bolsonaro deve ir ao vilarejo na próxima segunda para receber tributoFoto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

A Diocese de Pádua, na Itália, divulgou nesta sexta-feira (29/10) nota afirmando que a concessão de uma homenagem pelo vilarejo Anguillara Veneta ao presidente Jair Bolsonaro é motivo de "grande constrangimento".

Anguillara Veneta é o local onde nasceu Vittorio Bolzonaro, um dos bisavôs do presidente. Na última segunda-feira, a câmara de vereadores da pequena cidade de 4 mil habitantes aprovou a concessão do título de cidadão honorário a Bolsonaro. O presidente chegou à Itália na quinta-feira para participar da reunião de cúpula do G20 e deve ir ao vilarejo na próxima segunda para receber a homenagem.

A prefeita de Anguillara Veneta, Alessandra Buoso, é filiada ao partido de ultradireita Liga Norte, chefiado pelo ex-ministro Matteo Salvini, que regularmente troca elogios com Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro.

Após o anúncio da concessão do título, a Diocese de Pádua, que engloba Anguillara Veneta, divulgou uma nota com o título Laços com o Brasil, apelo a Bolsonaro.

"Não é segredo que a concessão da cidadania honorária criou um grande constrangimento, ligado ao respeito pelo principal cargo no querido país brasileiro e as tantas e fortes vozes de sofrimento que sempre nos chegam, e não podemos ignorar, pois são gritadas por amigos, irmãos e irmãs", diz o comunicado oficial da Diocese de Pádua.

A nota também menciona que, nos últimos meses, os bispos brasileiros "estão denunciando fortemente a violência, o abuso, a exploração da religião, a devastação ambiental e 'o agravamento de uma grave crise de saúde, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia'".

"A Diocese de Pádua, tornando-se porta-voz de um sentimento generalizado e em virtude do vínculo que une o Brasil com a nossa terra, aproveita a oportunidade da possível passagem do presidente Bolsonaro por Anguillara Veneta para pedir-lhe sinceramente que seja um promotor de políticas respeitosas da Justiça, da saúde e do meio ambiente, especialmente para apoiar os pobres."

Segundo a imprensa italiana, Bolsonaro não será recebido pelos líderes locais da igreja, como ocorre durante visitas de autoridades notáveis à região.

Há duas semanas, um grupo que se autointitula Padres Antifascistas divulgou um manifesto acusando Bolsonaro de ter profanado o Santuário de Nossa Senhora Aparecida em 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil. Na ocasião, durante uma missa que contou com a presença de Bolsonaro, o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, afirmou que "pátria amada não pode ser pátria armada". Mais tarde, o presidente tentou minimizar a observação de dom Orlando, afirmando que antes do seu governo "só bandido tinha arma de fogo".​

Críticas

A homenagem provocou indignação em parte da classe política local e ativistas. Nesta sexta-feira, a prefeitura de  Anguillara Veneta foi alvo de pichações com frases como "Fora Bolsonaro", em protesto contra a homenagem. O ato foi executado por ativistas do grupo ambientalista Rise Up 4 Climate Justice. Alguns membros do grupo também jogaram fezes no prédio.

"Depois de saber da notícia de que a prefeita de Anguillara Veneta, da Liga Norte, concederá cidadania honorária a Bolsonaro, presidente do Brasil que visitará Pádua, como ativistas e ativistas do 'Levante pela Justiça Climática', não pudemos deixar de nos fazer ouvir", divulgou o grupo.

Nesta semana, a parlamentar Vanessa Camani, integrante da assembleia legislativa regional do Vêneto, também lançou uma campanha nas redes sociais contra o título de cidadão a Bolsonaro: "Não à cidadania a um racista, misógino e negacionista", protestou a integrante da direção nacional do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.

"Faz arrepiar a proposta da prefeita de Anguillara Veneta de conferir a cidadania honorária a Bolsonaro, conhecido pelos elogios à ditadura militar, pelo desprezo e ofensas a mulheres e homossexuais, pelas ameaças de prisão aos adversários políticos, ou pelas grotescas acusações contra ONGs pelos incêndios que devastaram a Amazônia", escreveu a deputada no Facebook.

Na postagem, Camani também condena a "obscena gestão de emergência da covid-19, que colocou Bolsonaro entre os protagonistas do negacionismo mundial". "Por favor, nos explique, prefeita de Anguillara, por qual desses motivos Bolsonaro merece ser cidadão honorário?", ironizou.

O secretário regional do Partido Democrático, Alessandro Bisato, também se pronunciou sobre a proposta da prefeitura: "Tal como aquele soldado japonês na ilha do Pacífico, sem saber do fim das hostilidades, a administração do município na área de Pádua não entende o declínio do populismo", declarou o político, citado pelo jornal Il Fatto Quotidiano.

"Pior, pressiona pelo reconhecimento público de um político alérgico à democracia e aos direitos civis, um negacionista da covid-19 e antivacina. Graças à política de Bolsonaro, os brasileiros hoje estão mais pobres, menos seguros e nas garras da covid."

A prefeita da Anguillara Veneta, Alessandra Buoso, por outro lado, afirmou em sua defesa que a homenagem não tem motivação política. "Pensei nas pessoas da minha cidade que emigraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à presidência, levando o nome de Anguillara Veneta ao mundo", disse a prefeita em entrevista à agência de notícias italiana Ansa.

Questionada sobre os crimes imputados a Bolsonaro pela CPI da Pandemia, a política italiana afirmou não estar ciente das acusações. O relatório final da comissão no Senado brasileiro foi apresentado na semana passada.

jps/md (ots, DW)

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