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China

11 de outubro de 2010

Autoridades chinesas impedem visita de diplomata da UE à esposa do dissidente Liu Xiaobo, vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Ela continua só podendo deixar sua casa em Pequim sob escolta policial.

Liu Xia, em PequimFoto: AP

Incumbido pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, o diplomata Simon Sharpe, da delegação europeia na China, tentou em vão fazer uma visita, em Pequim, a Liu Xia, esposa de Liu Xiaobo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

"Eles nos impediram de entrar no complexo residencial onde ela vive. E não nos explicaram nada", disse Sharpe, que, em suas próprias palavras, já teria se encontrado várias vezes com ela na cidade. O diplomata tinha como missão cumprimentar e felicitar Liu Xia pelo prêmio internacional concedido a seu marido em Oslo.

Celular destruído

A Human Rights, organização norte-americana de defesa dos direitos humanos, disse ter a informação de que Liu Xia só pode, no momento, deixar sua casa em companhia de uma viatura policial. Seu celular e o de seu irmão foram destruídos, afirmaram representantes da organização.

A também norte-americana Freedom Now comunicou em seu site, no fim de semana, que as autoridades chinesas não acusam Liu Xia de ter cometido qualquer delito, mas mesmo assim a impedem de sair de casa.

Liu Xiaobo, em abril de 2008Foto: AP/Kyodo News

A própria Liu Xia confirmou através da rede Twitter estar sob prisão domiciliar: "Amigos, estou de volta à casa. No dia 8 de outubro fui confinada a prisão domiciliar", notificou a própria nesta segunda-feira (11/10) a partir de seu endereço no Twitter. "Não sei quando poderei ver alguém", disse ela, contando também ter podido visitar seu marido no último domingo. "Vi Xiaobo. A notícia do prêmio chegou a ele na noite do dia 9 de outubro" disse Liu Xia.

Dezenas de detenções

Liu Xiaobo, condenado a cumprir uma pena de 11 anos de prisão por "subversão ao poder público", dedicou o Nobel da Paz que recebeu aos "mártires da Praça da Paz Celestial", ao lado dos quais o escritor, ainda jovem, participou de protestos em 1989.

Após a notícia da premiação de Liu Xiaobo, a polícia da China iniciou uma política linha-dura contra os amigos do escritor e quaisquer pessoas que o apoiam. Houve dezenas de detenções no país, muitas prisões domiciliares e o registro de diversos desaparecidos.

Pelo menos 20 ativistas foram detidos durante uma festa na noite da última sexta-feira. No decorrer do fim de semana, houve mais uma série de detenções. Os telefones celulares de diversos dissidentes foram desligados ou temporariamente suspensos. Embora a premiação do escritor tenha despertado elogios em todo o mundo, a mídia chinesa destacou apenas as reações iradas do governo do país contra a escolha do escritor para o Prêmio.

"Vida alheia"

Jornalistas tentam se aproximar do prédio onde mora Liu Xia em PequimFoto: AP

Liu Xia conheceu o marido nos círculos literários de Pequim no início dos anos 1980. Segundo ela, a repressão policial faz há muito parte da vida do casal, marcada pelo medo e pela desesperança.

"Quando Xiabo ainda estava em casa, eu vivia uma vida estranha, não a minha própria. Eu lia muito, todo tipo de livro, mas tinha apenas quatro ou cinco amigos de verdade, meus amigos antigos, na minha vida real. Vivi sem celular e sem computador. Eu tinha a impressão de que nada do lado de fora tinha alguma coisa a ver comigo. Eu vivia uma vida alheia", resumiu Liu Xia.

Embora tenha sempre preferido evitar o espaço público, Liu Xia foi por muito tempo o ponto de ligação de seu marido com o mundo exterior. Ela possui permissão para visitá-lo uma vez por mês na prisão localizada a 500 quilômetros ao noroeste de Pequim.

SV/dw/dpa/apd/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer

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