Acordo internacional que inclui a Rússia prevê fim de hostilidades e entrega imediata de ajuda humanitária. Kerry diz que governo Assad e rebeldes devem se reunir em Genebra "o quanto antes".
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Reunidos em Munique, na Alemanha, diplomatas concordaram nesta quinta-feira (11/02) em "cessar as hostilidades" na Síria e ampliar o acesso de ajuda humanitária no país.
O acordo de cessar-fogo deve entrar em vigor em uma semana, informou o secretário de Estado americano, John Kerry, após uma rodada de conversas entre 17 países, inclusive a Rússia.
Segundo Kerry, todas as nações participantes concluíram que as negociações de paz devem acontecer o mais rápido possível. O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse que o "real teste" será todas as partes envolvidas honrarem seus compromissos.
O cessar-fogo, no entanto, não vale para o grupo "Estado Islâmico" (EI), nem para os extremistas da Frente al-Nusra. Lavrov disse que os ataques aéreos contra os jihadistas vão continuar.
O encontro em Munique reuniu ministros e outros representantes de países como Alemanha, França, Líbano, Reino Unido, Turquia, Arábia Saudita, além das Nações Unidas.
"Concordamos em acelerar e expandir a entrega de ajuda humanitária começando imediatamente", disse Kerry. "A entrega vai começar nesta semana, primeiro em áreas onde há necessidade mais urgente, e depois a todas as pessoas que estão necessitadas ao redor do país, principalmente em áreas sitiadas ou de difícil acesso."
Kerry acrescentou que negociações entre rebeldes e o governo de Bashar al-Assad devem ser realizadas em Genebra "o quanto antes". A intenção é alcançar um cessar-fogo de longo prazo, afirmou o secretário.
O Comitê de Altas Negociações (HNC) – coalizão que reúne políticos e grupos armados de oposição sírios – recebeu o anúncio de forma positiva, mas disse que só irá participar das negociações se o cessar-fogo for de fato implementado.
"Se virmos ação e implementação, nos veremos muito em breve em Genebra", afirmou o porta-voz Salim al-Muslat.
Desde o início de fevereiro, mais de 500 pessoas foram mortas na província síria de Aleppo numa ofensiva de Assad contra rebeldes, com apoio de ataques aéreos da Rússia.
KG/afp/rtr/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.