Direitista Ivan Duque é eleito presidente da Colômbia
18 de junho de 2018
Candidato uribista venceu no segundo turno com promessa de alterar o acordo de paz assinado com as Farc em 2016. Duque obteve 54% dos votos, frente a 42% de seu oponente de esquerda Gustavo Petro.
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O candidato direitista Iván Duque foi eleito neste domingo (17/06) o novo presidente da Colômbia, com 53,98% dos votos, frente a 41,81% obtidos por seu oponente de esquerda, Gustavo Petro. Duque chega à presidência do país com o partido de direita conservadora Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.
As eleições foram as primeiras no país desde a assinatura do acordo de paz com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2016, pacto que encerrou o mais longo conflito armado da América Latina.
Em seu discurso de vitória, Duque declarou querer construir consensos e unir o país, após uma campanha eleitoral polarizada, e prometeu "correções" no acordo de paz histórico que permitiu desarmar as Farc e transformar a ex-guerrilha em partido político. As vítimas do conflito devem estar no centro de qualquer alteração, afirmou.
Aos 41 anos, Duque se tornará o presidente mais jovem da Colômbia quando assumir o cargo, no dia 7 de agosto. Será também a primeira vez que o país terá uma mulher na vice-presidência, a conservadora Marta Lucía Ramírez.
Além das mudanças no acordo de paz, o novo presidente tem na agenda também o combate ao narcotráfico. A produção de cocaína na Colômbia aumentou, e grupos armados estão disputando rotas de tráfico antes controladas pelas Farc.
Em seu discurso de vitória, Duque afirmou que um presidente não faz milagres, mas prometeu trabalhar com comerciantes, sindicalistas, empresários, juízes, indígenas e afrocolombianos para buscar "a transformação da Colômbia em um país próspero".
O rival Gustavo Petro concedeu a derrota, mas disse que ter conquistado 8 milhões de votos – frente aos 10 milhões de Duque – em um país conservador foi um grande feito. "Que derrota? Oito milhões de colombianas e colombianos livres, de pé. Aqui não existe derrota. Por enquanto não seremos governo", escreveu Petro, do movimento Colômbia Humana, no Twitter.
"Aceitamos a vitória dele, é o presidente da República da Colômbia. Não vamos pedir ministérios, nem embaixadas. Hoje, somos oposição a esse governo que vai ser formado", disse o candidato derrotado em discurso a apoiadores.
Em referência a Uribe, padrinho político de Duque, Petro pediu que o novo presidente "rompa com as forças mais anacrônicas" da política do país.
Farc oferece diálogo
A Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), o partido político surgido após a desmobilização da guerrilha, se ofereceu para dialogar com o presidente eleito e comemorou que as eleições tenham decorrido em "ausência de fatos violentos, um fato sem precedentes na história do país".
"A Farc expressa sua disposição de se reunir com o presidente eleito para expôr seus pontos de vista sobre a implementação do acordo de paz", anunciou o líder do partido, Rodrigo Londoño.
Conhecido como "Timochenko" na sua época de combatente, Londoño lembrou que se o novo presidente não implementar os acordos "a única coisa que vai conseguir será levar o país a um novo ciclo de múltiplas violências ".
Também destacou que houve um "aumento significativo de eleitores", já que a participação rompeu a barreira do abstencionismo, com 53% de comparecimento às urnas, um marco pouco habitual no país.
De Washington para Bogotá
O presidente eleito Iván Duque passou a maior parte de sua carreira nos Estados Unidos. Estudou em Harvard e trabalhou no Banco Interameticano de Desenvolvimento, em Washington. Ele foi escolhido para um assento no senado em 2014 pelo ex-presidente e atual senador Alvaro Uribe, forte oponente do acordo de paz.
Após votar neste domingo, Uribe disse que Duque era a melhor garantia de que a Colômbia não se tornaria uma vítima do "socialismo destrutivo", fazendo referência à crise da vizinha Venezuela.
Além do influente padrinho político, o presidente eleito também recebeu apoio da extrema direita e dos evangélicos na Colômbia. Duque é um conservador contrário ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à eutanásia e à descriminalização das drogas.
Guinada em relação a Santos
As ideias de Duque se opõem em vários aspectos às do presidente cessante, Juan Manuel Santos. Além das alterações no acordo com as Farc, Duque também diverge de Santos quanto às condições para o diálogo com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última das cerca de 30 guerrilhas que atuaram na Colômbia.
Ao longo da campanha, Santos não havia manifestado apoio a nenhum dos candidatos, a quem qualificou como "opositores" de seu governo. Mesmo assim, como havia prometido, telefonou para Duque uma hora depois de se confirmar sua vitória e lhe ofereceu "toda a colaboração do governo para fazer uma transição ordenada e tranquila".
Santos se despede da presidência da Colômbia com uma taxa de aprovação abaixo de 20%, apesar de um prêmio Nobel da Paz e do recente ingresso do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
FF/efe/ap
Cronologia do conflito e do processo de paz na Colômbia
Acordo com as Farc foi alcançado após décadas de luta armada e tensões sociais na Colômbia. País trabalha agora na implementação do pacto e na reintegração de ex-guerrilheiro à sociedade.
Foto: Imago/Agencia EFE
Longo caminho da violência à paz
As décadas de violentas tensões sociais, que chegam ao fim com o novo acordo de paz na Colômbia, têm origem na luta no campo, que opôs trabalhadores rurais e proprietários de terras desde os anos 1920. As hostilidades se intensificaram a partir da década de 1960.
Foto: Reuters/J. Vizcaino
1940-1950: A Violência
Enfrentamentos sangrentos entre liberais e conservadores provocam milhares de mortes. O assassinato do liberal Jorge Elíecer Gaitán (foto), em 1948, gera protestos que ficaram conhecidos como "El Bogotazo", dando início ao período denominado "La Violencia". Membros do Partido Comunista são perseguidos, o Exército ocupa povoados e reprime os "lavradores comunistas".
Foto: Public Domain
1964: Farc e ELN
São fundadas as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), contra a concentração de terras, e o Exército de Libertação Nacional (ELN), fruto da radicalização do movimento estudantil e apoiado por adeptos da Teologia da Libertação, que prega a opção pelos pobres. O padre Camilo Torres (foto), guerrilheiro, é morto em combate. O governo colombiano recebe ajuda dos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
1970-1980: M-19 e negociações fracassadas
Surgem outros movimentos clandestinos como o M-19, que protagonizou a trágica ocupação do Palácio da Justiça em 1985 (foto), com mais de 350 reféns. A retomada do prédio pelas Forças Armadas deixa 98 mortos e 11 desaparecidos. O governo abre negociação pela primeira vez com as Farc e o ELN, mas o entendimento fracassa devido ao assassinato do ministro da Justiça.
Foto: Getty Images/AFP
Meados dos anos 80: Paramilitares
Surgem numerosos grupos paramilitares de ultradireita, a serviço de grandes proprietários de terras, contra os ataques rebeldes. Ao longo do tempo, vários desses grupos se envolvem com cartéis de droga. Quatro candidatos presidenciais e numerosos políticos de esquerda são assassinados por paramilitares entre 1986 e 1990.
Foto: Carlos Villalon/Liaison/Getty Images
1989: Desmobilização do M-19
O movimento M-19 entrega as armas em outubro de 1989, optando por disputar o poder como um partido político. Seu líder, Carlos Pizarro, candidata-se a presidente. Em 1990, ele é morto durante a campanha eleitoral.
Foto: picture alliance/Demotix/K. Hoffmann
1996: Esquadrões da morte
Grupos paramilitares se reúnem no movimento Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) e formam "esquadrões da morte" com até 30 mil membros.
Foto: AP
1998-99: Presidente Pastrana tenta negociar
Eleito em 1998, o presidente Andrés Pastrana inicia negociação com as Farc. Conversa também com o ELN (foto) e a AUC. Um vasto território até então controlado pelas Farc, no sul do país, comemora o recuo do grupo. Um massacre interrompe as conversas com a AUC.
Foto: picture-alliance/dpa
2002: Ingrid Betancourt e Álvaro Uribe
Depois que as Farc sequestram um avião, o governo interrompe o diálogo. Em 23 de fevereiro é sequestrada a candidata à presidência Ingrid Betancourt (foto). Álvaro Uribe ganha as eleições em maio, intensifica o combate militar e repudia qualquer entendimento. Ele é reeleito em 2007 e Betancourt, libertada em 2008.
Foto: AFP/Getty Images
2003-06: Recuo dos paramilitares e anistia
Após longas negociações, aproximadamente 32 mil paramilitares da AUC se rendem (foto). Até 2014, cerca de 4.200 deles são julgados por violações dos direitos humanos. Muitos retomam as armas. Em junho de 2005 é aprovada a Lei de Justiça e Paz, uma ampla anistia para membros dos esquadrões da morte.
Foto: picture-alliance/dpa
2007-08: "Falsos positivos"
Políticos de direita, acusados de vínculo com os paramilitares, são detidos em 2007 pela primeira vez. Aliados de Uribe também são atingidos. Em setembro de 2008 é revelado o escândalo batizado de "falsos positivos": entre 2004 e 2008, mais de 3 mil pessoas foram mortas pelo Exército para adulterar a estatística de guerrilheiros eliminados. Centenas de militares foram julgados até agora.
Foto: Jesús Abad Colorado
2012: Iniciados diálogos de paz com Farc
Ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos é eleito presidente da Colômbia em junho de 2010. Dois anos depois, entra em vigor a Lei de Vítimas e Restituição de Terras, para compensar os deslocados pelos combates. Em novembro têm início oficialmente os diálogos de paz entre governo (foto) e as Farc.
Foto: Reuters
2014-15: Santos reeleito e prazo para a paz
Santos se reelege em 2014. O governo colombiano anuncia conversações con o ELN. Enquanto isso, entendimentos com as Farc são interrompidos e reabertos devido a ações militares de ambos os lados. Em 23 de setembro de 2015, em Havana, Santos e Rodrigo Londoño Echeverri (Timochenko), líder das Farc, concordam com a meta de assinar um termo de paz em até seis meses.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ernesto
2016: Diálogos de paz com ELN
Em 30 de março, Frank Pearl, representante do governo da Colômbia, e Antonio García, chefe da delegação do ELN (foto), anunciam em Caracas o início de um processo formal de diálogos de paz. Em relação às Farc, desacordos levam ao adiamento da assinatura do acordo de paz definitivo, cujo prazo expira em 23 de março.
Foto: Reuters/M. Bello
Junho de 2016 - Dia da paz
Acordo de paz entre o governo colombiano e as Farc foi finalmente concluído. A decisão foi recebida com entusiasmo tanto pela população do país, como pela comunidade internacional. O cessar fogo definitivo foi assinado em Cuba em 23 de junho com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e outros presidentes e observadores.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/A. Ernesto
Agosto de 2016 - Acordo histórico
Em 24 de agosto, governo e Farc selaram o acordo final que encerra as negociações de paz realizadas em Havana nos últimos quatro anos. Ele foi assinado pelos chefes das equipes de negociação de ambas as partes, Humberto de la Calle, pelo governo, e Luciano Marín, conhecido como "Ivan Márquez", representando a guerrilha, assim como pelos embaixadores de Cuba e Noruega, fiadores no processo.
Foto: Reuters/E. de la Osa
Setembro de 2016 – Assinatura
Três dias após os líderes das Farc ratificarem por unanimidade o acordo de paz, o documento foi assinado pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e pelo número um do grupo armado Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como Timochenko, em Cartagena, em 26 de setembro. Numa cerimônia que lembrou as vítimas da guerra, o líder guerrilheiro pediu perdão pelo sofrimento causado durante o conflito.
Foto: Reuters/J. Vizcaino
Outubro de 2016 – Não
Em 2 de outubro, os colombianos foram às urnas decidir sobre o futuro do acordo de paz. Em resultado surpreendente, 50,22% dos eleitores rejeitaram o documento. Apenas 37% dos colombianos participaram do plebiscito, ou seja, cerca de 13 milhões dos 34 milhões de eleitores.
Foto: picture alliance/AP Photo/A. Cubillos
Outubro de 2016 - Nobel da Paz para Santos
Apenas cinco dias depois do referendo sobre o acordo as Farc, os apoiadores do processo de paz foram reconhecidos internacionalmente. O presidente colombiano Juan Manuel Santos foi homenageado com o Prêmio Nobel da Paz. A cerimônia de premiação foi realizada em dezembro de 2016 em Oslo.
Foto: Getty Images/AFP/T. Schwarz
Novembro de 2016 - Ratificação no Parlamento
Após uma série de alterações no texto original do acordo de paz, o Parlamento colombiano ratificou o pacto em 30 de novembro de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/G. Legaria
Junho de 2017 - Desarmamento
A entrega das armas pelos guerrilheiros das Farc ocorreu em três fases sob a supervisão da ONU. Em 27 de junho de 2017, Santos declarou: "Hoje é, para mim e para todos os colombianos, um dia especial, um dia em que trocamos as armas por palavras."
Foto: picture-alliance/dpa/A. Pineros
Agosto de 2017 - As novas Farc
As Farc desarmadas selaram num congresso em 27 de agosto de 2017 o abandono da luta armada e sua reformulação como partido político. O ex-líder guerrilheiro Rodrigo Londoño (foto) foi eleito presidente do partido. Sua saúde fragilizada, no entanto, impediu que ele se candidatasse às eleições presidenciais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Vergara
Março de 2018 - Farc nas eleições
Pela primeira vez desde o fim da luta armada, representantes das Farc participam de eleições legislativas em 11 de março de 2018. Apesar de o partido das Farc só ter recebido 50 mil votos, ele obteve cinco assentos em cada uma das duas casas legislativas, como determinou o acordo de paz. O partido conservador do antigo presidente Álvaro Uribe foi o grande vencedor do pleito.