Oscar 2007
26 de fevereiro de 2007Cerca de 1,5 milhão de pessoas já viram A Vida dos Outros na Alemanha. E é assim que deve ser, na opinião de seu diretor. Para Florian Henckel von Donnersmarck, um poeta pode se dar ao luxo de escrever para um pequeno círculo de leitores, mas um cineasta que não pense no público não terá a menor chance.
Apesar de haver afirmado que o sucesso de um filme não depende de propagandas e campanhas, o cineasta de 33 anos muito batalhou, promovendo sua obra de cinema a cinema, para conseguir boa aceitação nos EUA e conquistar a estatueta.
Entre o político e o privado
A Vida dos Outros retrata a influência destruidora da Stasi, o serviço secreto da antiga Alemanha Oriental, na vida privada dos cidadãos da época em que havia dois Estados alemães. Von Donnersmarck, todavia, não chegou a conhecer a República Democrática da Alemanha.
Nascido, em Colônia, o diretor passou a infância e juventude entre Nova York, Berlim, Frankfurt e Bruxelas, tendo estudado, inicialmente, em Oxford e depois na Escola de Cinema e Televisão de Munique. Nos anos de 1990, Florian von Donnersmarck fez estágio de direção com o cineasta inglês Richard Attenborough.
Em seu primeiro longa-metragem, nunca um diretor alemão conseguiu a façanha de Florian von Donnersmarck. Contemplado com sete Lolas, A Vida dos Outros já havia sido a sensação do Prêmio do Cinema Alemão do ano passado, sendo considerado também o melhor filme do continente pelo Prêmio Europeu de Cinema, em 2006.
Vitória inesperada, mas merecida
A Vida dos Outros é um filme elegante e preciso. Como perfeccionista aplicado, Von Donnersmarck domina cada centímetro quadrado da tela, seguindo a tradição do classicismo cenográfico de um Alfred Hitchcock. Durante cinco anos, o diretor dedicou-se à minuciosa pesquisa histórica sobre o tema, aprofundando-se durante meses nos detalhes, sem fazer concessões. Amor pelo cinema e força de vontade não lhe faltaram.
Quanto ao seu cinema, Florian Henckel afirma que ele não pertence a universidades: "Para mim, é muito importante manter a emoção direta de um filme e trabalhar com o espectador. Eu quero transmitir uma experiência cinematográfica bastante emotiva. Não acredito em cinema elitista".
Para a conquista do Oscar, Von Donnermarck dedicou-se ao duro trabalho mental e corporal de, nas últimas semanas, divulgar seu filme nos cinemas norte-americanos, apesar de haver declarado que ganhar ou perder estaria fora do seu âmbito de controle. O diretor não contava, necessariamente, com a merecida vitória.
Campeão mundial
Na vida e nos sets de filmagem, Von Donnersmarck é gentil e atencioso. Ele escuta sorridente o que os colegas mais experientes sugerem, fazendo, no final das contas, aquilo que mais lhe apraz.
Modesto e autoconfiante, a autoridade do cineasta de dois metros de altura não vacila nem mesmo ao subir ao palco para receber o Oscar. Na entrega do prêmio da Academia, Florian Henckel declarou: "Ao receber o Oscar, sinto-me como um Jürgen Klinsmann [antigo treinador da seleção de futebol alemã] que tivesse, realmente, vencido a Copa do Mundo".