1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cinema e comida

14 de fevereiro de 2010

O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, fala sobre o projeto Cinema Culinário, que une as paixões pela gastronomia e pela sétima arte e apresenta uma série de filmes relacionados ao tema comida.

Dieter Kosslick, diretor da BerlinaleFoto: AP

Deutsche Welle: Como surgiu o interesse pela culinária?

Dieter Kosslick: Eu venho do sul da Alemanha, então é óbvio que tenho um contato com comida. Porque lá a mãe cozinha todos os dias, o que é algo que hoje em dia não acontece mais com tanta frequência. No sul da Alemanha, comida é um tema corriqueiro. Em Baden e em Wüttemberg, os grandes temas são a comida e o tempo. E limpeza, claro. Eu sempre fui confrontado com bolos e pães – na nossa casa havia uma padaria. Minha mãe me deixava lá pela manhã, quando ia para o trabalho, e me pegava à tarde. Eu fui praticamente criado na padaria.

Mas foi 20 anos depois, como estudante, que eu comecei, aos poucos, a me ocupar com comida. Eu tive a sorte de conhecer em Munique, como estudante, o senhor Siebeck, o grande crítico gastronômico. Na companhia dele visitei e testei os novos restaurantes estrelados dos chefs Witzigmann e Koch. E foi lá que eu conheci uma cozinha completamente diferente. E eu também me ocupei com comida quando trabalhei como redator na revista Konkret. Lá as coisas seguiram numa direção completamente diferente, porque eu, pela primeira vez, fiquei sabendo como os conglomerados do setor alimentício agem.

Você também mudou para o outro lado do fogão, passou a mexer propriamente com os ingredientes?

Sim, mas eu não sou um desses malucos que cozinham por hobby. Agora tem uma revista, chamada Beef, direcionada para esse público-alvo maluco, de pessoas que ganham 5 mil euros por mês e gastam 6 mil euros numa faca, apesar de eles não serem capazes de cozinhar nada. Eu não pertenço a esse grupo. Eu também não tenho uma cozinha de milhares de euros.

Mas é algo que simplesmente acontece quando a pessoa começa a se ocupar de ingredientes e de outras coisas relacionadas à comida e à bebida, então acaba-se aprendendo essa bela arte. Eu não tive que aprender tudo do começo. Eu conhecia isso da minha mãe, que também deixou sua coleção de receitas. Então isso não é algo novo, também não é a paixão da minha vida, mas eu gosto de cozinhar e gosto de fazer isso com meu filho e meus colegas da Berlinale. Nós cozinhamos juntos e isso é um passatempo coletivo muito agradável.

Kosslick e estudantes numa sessão de cinema culinárioFoto: picture alliance / dpa

Na Berlinale você conseguiu unir a culinária e o cinema...

Sim, isso levou bastante tempo. Eu e meu amigo Thomas Struck, que agora dirige o projeto Cinema Culinário, queríamos evitar de qualquer maneira criar um reduto de gourmets, do tipo que enche a barriga e passa a noite discutindo se 80 graus é a melhor temperatura para as beterrabas serem cozinhadas a vapor... Isso nós não queríamos. Nós queríamos fazer algo com cinema, e também com a filosofia que encontramos no Slow Food, uma organização internacional que se preocupa com boa comida. Estamos no quarto ano consecutivo do projeto e alcançamos mais ou menos o que queríamos. Nós mostramos filmes que dão apetite e são divertidos.

Há uma relação entre cinema e gastronomia. É preciso pensar não apenar nos filmes mais famosos, como A Comilança, há outros exemplos...

É claro que há essa relação, filmes que usam a gastronomia no seu roteiro, do ponto de vista dramatúrgico. Mas há também outra relação. Há muitos processos que são muito semelhantes no cinema e na gastronomia. É preciso escolher os ingredientes com cuidado. É preciso ter uma receita. É preciso cozinhar bem. É preciso saber vender, fazer marketing. É preciso ter um público instruído quando se quer vender algo bom. Esse é um nível. Na cozinha, é preciso muita precisão, é preciso manter o ritmo. Também um cardápio deve ter uma certa composição, assim como um filme.

Também num metanível há uma relação entre boa comida e os filmes de um festival. Na verdade ambos lutamos por diversificação e também por variedade. Há muitas cozinhas diferentes e muitos festivais diferentes. Há muitas cozinhas regionais e muitos cinemas regionais. Um festival de cinema não é nada além de uma luta pela biodiversidade. Ou seja, queremos mostrar os filmes mais variados durante dez dias – e não dez filmes em todos os cinemas do mundo.

Autor: Jochen Kürten (np)
Revisão: Alexandre Schossler

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque