Domenico Scala, presidente da comissão de auditoria da Fifa, assegura à imprensa que, se houver provas de compra de votos, ambos os países podem perder o direito de sediar próximos Mundiais de futebol, em 2018 e 2022.
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Em entrevista ao jornal suíço SonntagsZeitung, o presidente da comissão de auditoria da Fifa, Domenico Scala, esclareceu mais uma vez neste domingo (07/06) as condições para que sejam revistas as concessões da Copa do Mundo de 2018 à Rússia e 2022 ao Catar.
"Caso haja provas de que a concessão só foi possível graças à compra de votos, então a escolha pode ser anulada. Até agora, estas provas não foram fornecidas", observou.
O suíço disse não ter conhecimento de investigações do Ministério Público contra o demissionário presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, no contexto das escolhas das sedes dos próximos Mundiais de Futebol ou do recente escândalo de corrupção.
"Não tenho nenhum conhecimento sobre investigações. Na condição de presidente da comissão de auditoria, a Fifa me informaria, caso soubesse de averiguações", explicou Scala.
Suas observações vêm em meio ao escândalo de corrupção envolvendo 14 dirigentes da Fifa e empresários do marketing esportivo, acusados pela Justiça dos EUA de participarem de um esquema de propinas que se estendeu pelos últimos 20 anos, totalizando 150 milhões de dólares em subornos.
O escândalo, que também envolve uma investigação suíça sobre as escolhas das sedes das Copas do Mundo em 2018 e 2022, na Rússia e no Catar, levou à renúncia de Blatter, na semana passada, somente quatro dias após sua reeleição para um quinto mandato.
Na última quinta-feira, o Reino Unido afirmou estar disposto a sediar a Copa do Mundo de 2022, caso a concessão venha a ser retirada do Catar, cuja escolha tem sido marca por constantes controvérsias.
Em abril, a Fifa descartara uma nova votação para as sedes dos Mundiais de 2018 e 2022, insistindo que os países-sede não seriam alterados.
CA/dpa/afp
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.