Diretor de "Charlie Hebdo" clama por liberdade de expressão
7 de janeiro de 2017
Dois anos após ataque terrorista à sede do jornal satírico, chefe da publicação afirma que jornalistas não abrirão mão de sua paixão. Jornal foi alvo de islamistas por publciar charges do profeta Maomé.
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O diretor do jornal satírico francês Charlie Hebdo, Laurent Sourisseau, conhecido como Riss, reivindicou neste sábado (07/01) o direito da publicação à liberdade de expressão, apesar da ameaça terrorista, dois anos depois do ataque jihadista que deixou 12 mortos em sua sede, em Paris.
"Não vamos abrir mão do nosso ofício. Não vamos abrir mão da nossa paixão. Que nossas vidas não se vejam ditadas por esta violência", declarou em entrevista concedida à emissora RTL.
Riss, baleado durante o ataque de 7 de janeiro de 2015 e que substituiu o falecido Charb como diretor, considera que a forte vigilância policial que lhe rodeia desde então é "um mal necessário".
O jornal lançou na última quarta-feira um número especial no qual reforçava que o atentado cometido na redação foi um "crime político".
"Os que foram assassinados eram personalidades comprometidas, que defendiam ideias precisas, formas de expressão particulares, como as ilustrações satíricas. , disse.
O cartunista comentou que o dia 7 de janeiro passou a ser uma data simbólica: "Todos os dias são um pouco 7 de janeiro. Nós o temos na memória e é difícil esquecê-lo."
Na quinta-feira passada, foi realizada uma homenagem oficial – liderada pela prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo – às vítimas do Charlie Hebdo, assim como às do ataque a um mercado judaico em Paris ocorrido dois dias depois, no qual morreram três pessoas.
Há exatos dois anos os irmãos Said e Cherif Kouachi, fundamentalistas islâmicos, invadiram a redação do jornal e dispararam contra a equipe da publicação. Além de Charb, os cartunistas Cabu, Wolinski e Tignous estavam entre mortos. Após o ataque, o slogan "Je suis Charlie" viralizou mundo afora.
O jornal era considerado há muito tempo um possível alvo de extremistas islâmicos por publicar charges do profeta Maomé.
LPF/efe/afp
A arte responde ao terror
Desde janeiro de 2015, ataques terroristas tentam desestabilizar as sociedades pacíficas, não só na Europa. Diversos artistas têm reagido, com músicas, desenhos ou vídeos, com consolo ou provocação.
Foto: Reuters/R. Krause
Primeiro sinal de paz
No dia seguinte aos atentados de novembro de 2015 em Paris, que deixaram mais de 130 mortos, a cidade estava de luto. Mas logo uma multidão se reuniu quando Davide Martello começou a tocar, diante de um dos alvos, o clube Bataclan, "Imagine", de John Lennon, num piano trouxera da Alemanha. Mais tarde o músico comentaria: "Eu queria estar lá para tentar consolar e dar um sinal de esperança."
Foto: Getty Images/AFP/K. Tribouillard
Quando faltam palavras
Em seguida ao caos de uma tragédia, uma simples imagem pode ser um consolo eloquente. Igualmente após os atos terroristas de Paris, o artista gráfico francês Jean Jullien postou nas redes sociais o símbolo da paz, incorporando nele o contorno da Torre Eiffel. Logo o desenho se consagrou como ícone da solidariedade com as vítimas.
Foto: Jean Jullien
Desenhos como arma
O papel dos artistas nem sempre é pacífico. O caricaturista francês Charb era famoso por suas charges ofensivas sobre temas religiosos, inclusive o islamismo. Depois que radicais muçulmanos o abateram e a seus colegas na redação do tabloide "Charlie Hebdo", em janeiro de 2015, manifestantes usaram os desenhos irreverentes para desafiar os atacantes e seus apoiadores.
Foto: Getty Images/E. Cabanis
Música entre ruínas
O pianista sírio-palestino Aeham Ahmad também foi alvo da fúria terrorista. Tendo estudado música em Damasco e Homs, ele passou grande parte da vida num alojamento de refugiados. O vídeo em que toca piano numa rua bombardeada da Síria atraiu atenção internacional no Youtube. Depois que militantes do "Estado Islâmico" (EI) incendiaram seu instrumento, Ahmad refugiou-se na Alemanha, onde hoje vive.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Catarse teatral
A noção do filósofo grego Aristóteles de catarse, a purgação das emoções, no teatro, continua provando sua validade. A dramaturga austríaca Elfriede Jelinek elaborou a peça "Wut" (Raiva) ainda em choque devido aos atentados de 2015 em Paris. O título não se refere apenas à fúria dos atacantes, mas também ao ódio de algumas das reações, e à agonia dos que se veem presos entre os dois extremos.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Fürst
"Même pas peur"
Em 13 de março de 2016, militantes da Al Qaeda fuzilaram 19 pessoas numa praia da cidade Grand-Bassam, na Costa do Marfim. Dez dias mais tarde um grupo de cantores pop nacionais divulgou um vídeo para retomar seu espaço de vida. "Même pas peur" (Nem deu medo) é o nome da canção, cujas palavras de desafio ganham força extra na dança em meio à areia branca, livre de qualquer sinal de sangue.
Foto: DW/J.-P. Scholz
Apenas cor e linhas
Nem todas as reações artísticas à violência são literais. As cores vivas e formas dinâmicas da arte abstrata de Guillaume Bottazzi falam por si, contrapondo-se aos atentados de 22 de março de 2016 em Bruxelas. No fim de outubro, o artista começou a realizar um mural na Place Jourdan da capital belga, como memorial permanente às vítimas.
Foto: DW/M. Kübler
Homenagem gigantesca e colorida
O americano Jeff Koons é um dos artistas mais ricos do mundo, que contrata operários para construir seus projetos. Numa cerimônia em novembro, em Paris, ele apresentou seus planos para uma enorme escultura: "Bouquet of Tulips 2016", doada em homenagem às vítimas dos múltiplos atentados terroristas de 2015, na capital francesa, será instalada diante do Palais de Tokyo.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Euler
Together Berlin!
Em 20 de dezembro de 2016, dia seguinte ao ataque com um caminhão a uma feira natalina de Berlim, que custou 12 vidas, o Portão de Brandemburgo foi iluminado com as cores da bandeira alemã. Três dias mais tarde, o local foi palco do show de música "Together Berlin!", sinal de resistência à tentativa dos terroristas de instaurar medo e insegurança na sociedade pacífica.