Diretoria do "Oscar francês" renuncia por filme de Polanski
14 de fevereiro de 2020
Organizadores do prêmio César anunciam decisão após protestos contra indicações para filme do controverso cineasta, acusado de estupro. Em manifesto, atores e diretores pedem reformas na Academia de Cinema da França.
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Todos os membros da diretoria da Academia de Artes e Técnicas de Cinema da França, responsável pela maior premiação do cinema francês, o César, pediram demissão nesta quinta-feira (13/02), após mais de 200 atores, produtores, diretores e personalidades da indústria cinematográfica exigirem em manifesto uma reforma profunda na instituição.
Os organizadores do prêmio, considerado o "Oscar francês", enfrentam fortes críticas após o filme O oficial e o espião, do controverso diretor Roman Polanski, encabeçar a lista de indicações para o César, a ser entregue no dia 28 de fevereiro.
As renúncias ocorrem duas semanas antes da cerimônia de gala da premiação, com 12 indicações para o filme de Polanski sobre Alfred Dreyfus, um militar francês de origem judaica acusado de espionar para a Alemanha nos anos 1890.
Polanski lançou seu novo filme na França no ano passado, dias após uma atriz francesa acusá-lo de tê-la estuprado em 1975, quando ela tinha 18 anos. O diretor franco-polonês, hoje com 86 anos, nega as acusações.
Nos Estados Unidos, o cineasta é acusado de estupro de uma jovem de 13 anos, é considerado persona non grata em Hollywood desde 1978 e foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em 2018.
Ele rejeitou a acusação de estupro, mas reconheceu, após acordo com a promotoria, ter tido relação sexual com uma menor de idade. Pouco antes do anúncio da sentença, ele foi viajou a Paris. Ele foi detido na Suíça há alguns anos e ficou oito meses sob prisão domiciliar, até que em 2010 o país recusou o pedido de extradição dos EUA.
"No intuito de honrar homens e mulheres que fizeram o cinema acontecer em 2019, para recuperar a serenidade e assegurar que o festival de filmes permaneça como tal, o quadro de diretores tomou a decisão unânime de renunciar", diz um comunicado da academia. "Essa decisão coletiva permitirá a renovação completa de todo o quadro de diretores."
Em carta aberta publicada na última quarta-feira, mais de duas centenas de membros da indústria cinematográfica francesa denunciaram a "deficiência" da academia e a "opacidade" de suas decisões.
Eles reclamaram que os estatutos do César não são atualizados há muito tempo e que os quase 5 mil membros da academia não têm direito de votar ou influenciar as decisões.
A inclusão do filme de Polanski na premiação do César também havia sido condenada pelo Secretaria da Igualdade da França, organizações feministas e críticos de cinema. Inicialmente, a academia francesa afirmara que não deveria tomar "posições moralistas" ao avaliar os filmes.
Vários grupos feministas haviam exigido que os membros da academia rejeitassem o filme de Polanski, intitulado J'accuse na França, e convocaram protestos em frente ao local da cerimônia de premiação, o auditório Salle Pleyel, em Paris.
Os organizadores afirmaram que vão pedir ao Centro Nacional de Cinema, agência do Ministério da Cultura, que indique um mediador para supervisionar a reforma em seus estatutos e governança. Anteriormente, a academia havia anunciado medidas para aumentar a representação feminina entre seus membros e quadro diretivo.
O histórico de Polanski voltou a chamar atenção após o surgimento do movimento #MeToo, que denuncia abusos e assédios sexuais na indústria cinematográfica. O movimento ganhou força após surgirem várias acusações contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein, que enfrenta julgamento em Nova York por estupros e agressões sexuais.
Na história da sétima arte, não faltam projetos fracassados e obras-primas idealizadas por diretores renomados que nunca conseguiram ser exibidas – de Stanley Kubrick a Orson Welles e Alfred Hitchcock.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Napoleon', de Kubrick: jamais filmado
Um épico sobre Napoleão Bonaparte era para ser o filme mais elaborado de Stanley Kubrick, mas o projeto fracassou apesar do roteiro e dos figurinos já prontos. Para os produtores, um fator de desistência foi o malogro financeiro da megaprodução 'Waterloo', de Sergei Bondarchuk. Mas os preparativos de Kubrick não foram em vão: uma parte do material foi usada em seu filme 'Barry Lyndon' (1975).
Foto: Taschen
Falta de sorte para os filmes de Eisenstein
No início dos anos 1930, o famoso diretor Sergei Eisenstein planejou, mas acabou não conseguindo filmar uma obra intitulada 'Que viva Mexico!' em Hollywood. Uma segunda tentativa, um filme sobre a história do México, também não teve êxito. O material filmado acabou sendo usado em vários documentários.
Foto: Icestorm
Orson Welles e seus projetos incompletos
Orson Welles talvez seja o mestre dos filmes inacabados. O número de obras clássicas é superado pelo de projetos nunca finalizados. O mais célebre deles é 'The Other Side of the Wind' ('O outro lado do vento'). Welles começou a filmá-lo nos anos 1980, mas morreu antes de as filmagens terminarem. A plataforma online Netflix restaurou e completou o filme, que deverá ser lançado também no cinema.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
O último filme de Marilyn Monroe
Quando as filmagens começaram em 1962, ninguém sabia que este seria o último filme de Marilyn Monroe. Dirigido por George Cukor, 'Something's Got To Give' parece ter sido condenado ao fracasso porque Monroe abandonou a produção diversas vezes. Lee Remick foi escalada para substituí-la, mas foi vetada pelo ator principal, Dean Martin. Um documentário posterior mostra 37 minutos da obra inacabada.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Hell', experiência com cores
A icônica atriz alemã Romy Schneider deveria ter estrelado um famoso filme inacabado: 'L'Enfer' ('O Inferno'), de Henri-George Clouzot (1964). A produção se tornou um pesadelo, inclusive porque Clouzot teve um infarto. Posteriormente, o diretor usou alguns takes sensacionais de Schneider em seu último filme. Em 2009, foi lançado um documentário explorando por que 'O Inferno' nunca foi finalizado.
Foto: Kinowelt
Jerry Lewis e os palhaços chorões
De Jerry Lewis, 'The Day the Clown Cried' é um dos projetos mais misteriosos da história do cinema. O objetivo era narrar uma história da Alemanha nazista por meio do humor. O comediante americano dirigiu e estrelou o drama de 1972. Apesar de finalizado, o filme nunca foi exibido publicamente devido a problemas legais e à insatisfação de Lewis com o resultado.
Foto: STF/AFP/Getty Images
A megalomania de Francis Ford Coppola
Francis Ford Coppola também trabalhou em vários projetos que nunca avançaram. Entre eles, 'Megalópolis', de 1984 – o script de 200 páginas sobre uma disputa entre um arquiteto e um prefeito em relação ao futuro de Nova York nunca foi transformado em filme.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Rebours
Sonho não realizado: 'Leningrado'
Nos anos 1980, o diretor italiano Sergio Leone, habituado a épicos (a foto o mostra no set de filmagens de 'Era uma vez no Oeste' em 68), queria filmar uma obra sobre o cerco dos nazistas a Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial. O filme nunca foi realizado, uma vez que o diretor morreu em 1989, aos 60 anos, devido a problemas cardíacos.
Foto: picture-alliance/dpa/Cinecitta Press Office
Alfred Hitchcock e mais sonhos frustrados
Até o "mestre do suspense" Alfred Hitchcock não conseguiu finalizar todas as suas ideias. No final dos anos 1950, ele queria filmar 'No Bail for the Judge' (algo como 'Sem fiança para o juiz'), baseado no livro homônimo de Henry Cecil. Estrelado por Audrey Hepburn, o filme era sobre um juiz acusado de assassinar uma prostituta. Mas houve problemas, Hepburn recuou e Hitchcock tocou outros projetos.
Foto: Imago/Granata Images
Final feliz: 'The Man Who Killed Don Quixote'
As filmagens do lendário projeto sobre Dom Quixote, de Terry Gilliam, começaram em 2000, apenas para serem adiadas e interrompidas repetidamente por uma série de razões. Com o passar dos anos, os atores e até a história mudaram. O filme finalmente estreou nas telas de cinema no Festival de Cannes de 2018.
Foto: Diego Lopez Calvin/Tornasol Films/Carisco Producciones