Disparada de casos põe em xeque volta às aulas na França
31 de agosto de 2020
Enquanto país registra mais de 5 mil casos diários, 13 milhões de alunos deverão voltar às escolas. Governo trata retorno como chave para economia e sociedade, mas não esconde preocupação – e possível mudança nos planos.
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"Não vamos nos enganar: a gente sabe que, com 25 alunos na sala, vai ser impossível controlar todos o tempo inteiro", admite a professora Cecile Cluchier, que trabalha em Antony, um subúrbio de Paris. Sua escola reabre nesta terça-feira (01/09), após meses de restrições devido à pandemia. E ela tem certeza: não vai ser possível controlar se todas as crianças estão lavando as mãos com regularidade e mantendo distância.
Cluchier não está isolada em sua preocupação. A disparada no número de casos de covid-19 na França está levando as autoridades do país a questionar a viabilidade da volta às aulas como planejado. Só no último sábado, foram mais de 5.400 novas infecções. Na sexta-feira, o país havia registrado 7.379 novas infecções, o número mais alto desde 31 de março. Na quinta-feira anterior, a cifra havia superado 6 mil.
A França planeja uma reabertura das escolas, com comparecimento obrigatório para seus quase 13 milhões de alunos, para esta terça-feira (01/09). As autoridades estavam relutantes em prorrogar ainda mais a data, preocupadas com o fato de que a pandemia acentuou a discrepância de aprendizado entre alunos ricos e pobres, além de ter sobrecarregados os pais, cuja atividade é necessária para reanimar a economia. Mas o fato de o país voltar a registrar milhares de casos de covid-19 por dia gerou preocupação.
No domingo, o ministro da Educação Jean-Michel Blanquer admitiu ao Journal du Dimanche que algumas escolas permanecerão fechadas em regiões do país onde a nova onda de contágios está mais forte. Ele disse que aberturas e fechamentos estão sendo decididos com base em uma análise diária da situação de cada parte do país.
No sábado, médicos franceses publicaram uma carta conjunta em que classificam as medidas do governo para as escolas como não rígidas o suficiente. Eles defendem a obrigatoriedade de máscaras para crianças a partir de seis anos de idade e uma combinação de educação presencial e à distância.
As escolas francesas se preparam para retomar, em grande parte, com o ensino normal, com máscaras necessárias durante todo o dia apenas para maiores de 11 anos e com algumas restrições de movimentação e reunião. Professores terão sempre que usar máscaras.
Outros países europeus estão adotando um modelo diferente. Na Alemanha, por exemplo, para reduzir o risco de infecção, em alguns estados os alunos foram divididos em grupos fixos com várias turmas, que não devem se encontrar nas dependências da escola. Na Dinamarca, há também turmas menores e mais professores, com mistura de aulas presenciais e on-line.
Quando as escolas reabriram em maio pela primeira vez na França, cabia aos pais decidir se mandariam os filhos de volta ou não. Mas agora, em setembro, o país voltará à norma da escolaridade obrigatória para todos. Quem quiser continuar com as aulas em casa deverá passar por um processo de registro junto às autoridades locais.
A situação do coronavírus varia regionalmente na França. O governo classificou 21 departamentos como áreas de risco. Essas chamadas zonas vermelhas estão localizadas sobretudo na costa mediterrânea e ao redor da capital Paris. Vários países têm no momento alerta de viagens para regiões francesas e exigem quarentena ou testes de quem volta de lá.
O presidente Emmanuel Macron advertiu contra o fechamento geral das fronteiras, que segundo ele não é a maneira correta de controlar a pandemia. "Não vamos repetir os erros de março sobre esta questão", disse. Mas a França está tentando combater a epidemia com medidas duras. Em cidades como Paris e Estrasburgo, as máscaras são agora obrigatórias nas ruas. Além disso, a capital francesa planeja em breve disponibilizar centrais de testes gratuitos em toda a cidade.
O governo enfatiza repetidamente que quer evitar a imposição de restrições em todo o país. O premiê Jean Castex já disse que a situação atual não é comparável à situação de março e abril, já que se está testando muito mais do que naquela época. Segundo o porta-voz do governo Gabriel Attal, a "marca histórica" de 900 mil testes por semana foi quebrada no sábado.
A França já registrou mais de 30.500 mortes pelo coronavírus e mais de 315 mil infecções desde o início da epidemia.
RPR/afp/ap/ots
Volta às aulas em ritmo de pandemia
Enquanto a covid-19 recrudesce, escolas procuram proteger seus alunos. Com máscaras, distanciamento, termômetros e até cubículos de plástico. Dos EUA à Nova Zelândia, da Tunísia à Suécia. E um 'Kit Abraço' brasileiro.
Foto: Getty Images/L. DeCicca
Tailândia: Aula na caixa de plástico
Os cerca de 250 alunos da Escola Wat Khlong Toey têm que ficar atrás de cubículos de acrílico e manter as máscaras de proteção durante as aulas. Diante de cada sala de aula encontram-se pias e saboneteiras, à entrada do edifício estão aparelhos para medir a temperatura. As severas medidas mostram resultado: desde meados de julho não se registraram novos contágios de covid-19 na escola.
Foto: Getty Images/L. DeCicca
Alemanha: Máscaras e disciplina
A Renânia do Norte-Vestfália, estado mais populoso da Alemanha, é o único onde é obrigatório usar máscara nas instituições de ensino mesmo durante as aulas. É preciso disciplina, e as alunas e alunos da Escola Primária Petri, em Dortmund, dão o exemplo. Como o ano letivo começou em 12 de agosto, ainda é cedo para avaliar o efeito da medida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Fassbender
Índia: Aula pelos alto-falantes
Esta escola do lugarejo de Dandwal, no estado de Maharashtra, Oeste da Índia, também pensou nos que não possuem acesso à internet em casa. Para recuperar as matérias perdidas, os escolares podem escutar aulas pré-gravadas através de alto-falantes, ao ar livre e mantendo distanciamento. Maharashtra foi duramente atingido pela pandemia do coronavírus.
Foto: Reuters/P. Waydande
Nova Zelândia: Livre do coronavírus? Quase.
Estas meninas da capital neozelandesa, Wellington, estão felizes de poder ir às aulas. A situação é diferente em Auckland: após 102 dias com o país aparentemente livre de novas infecções, na segunda semana de agosto foram detectados quatro casos na metrópole. Fecharam-se escolas e todos os estabelecimentos comerciais não essenciais, os cidadãos foram instados a permanecer em casa.
Foto: Getty Images/H. Hopkins
Suécia: Diferente também nas escolas
Na Suécia ainda são férias de verão, mas essa imagem de fim de semestre no Ginásio Nacka, em Estocolmo, é bem simbólica do caminho alternativo escolhido pelo país escandinavo na luta contra o coronavírus: ao contrário da maioria das demais nações, não se impôs nem obrigatoriedade de máscara nem fechamento de escolas e outros estabelecimentos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/TT/J. Gow
Territórios Palestinos: Recomeço após cinco meses
As aulas voltaram também nesta escola em Hebron, Cisjordânia, cerca de 30 quilômetros ao sul de Jerusalém, ainda que de máscaras e, em alguns casos, também luvas. Apesar do rosto coberto, a alegria da professora pelo reencontro é visível: as escolas da região estavam fechadas desde março devido à epidemia, tendo Hebron como epicentro.
Foto: Getty Images/AFP/H. Bader
Tunísia: Máscaras desde maio
Esta classe em Túnis já dava o exemplo desde cedo. Em março, diversas escolas da Tunísia ficaram fechadas por diversas semanas. O governo investiu em aulas particulares e ofertas educacionais na televisão e na internet. No terceiro trimestre voltam as aulas normais no país norte-africano, com máscara compulsória.
Foto: Getty Images/AFP/F. Belaid
Congo: Aula, só de cabeça fria
Não é uma arma o que se aponta para a cabeça desse adolescente de Kinshasa, capital do Congo. Pelo contrário, no subúrbio chique de Lingwala, as autoridades tomam todo cuidado com a segurança sanitária dos alunos: eles só podem ingressar na Escola Reverend Kim após ter sua temperatura medida, e respeitando a obrigatoriedade de máscara protetora.
Foto: Getty Images/AFP/A. Mpiana
EUA: Duro aprendizado no campeão de infecções
Também nos Estados Unidos a medição da temperatura corporal agora faz parte do dia-a-dia escolar. E são urgentemente necessárias medidas para conter a covid-19 na maior potência mundial, pois o número de novos contágios e óbitos continua crescendo, no país mais severamente atingido pandemia.
Foto: picture-alliance/Newscom/P. C. James
Brasil: "Kit Abraço" contra a saudade
Maura Silva é professora de uma escola pública da Zona Oeste do Rio de Janeiro, na proximidade de algumas grandes favelas. Para minorar pelo menos um pouco o sofrimento de seus pequenos protegidos, ela criou o "Kit Abraço", que permite matar as saudades com segurança. Aqui, ela visita um aluno em casa e o ajuda a colocar as luvas, antes de se abraçarem.