Organização ambientalista que representa primata que tirou foto de si mesmo e fotógrafo dono da câmera encerram batalha judicial. Caso gerou discussão sobre direitos autorais e dos animais.
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Quando um macaco tira uma selfie, a quem devem ser atribuídos os direitos autorais sobre a imagem? Nesta segunda-feira (11/09), um fotógrafo e uma organização de defesa dos animais chegaram a um acordo para encerrar uma batalha judicial envolvendo a famosa foto de um macaco chamado Naruto.
O acordo foi fechado entre o fotógrafo David Slater e advogados da organização Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais (Peta), que representavam o macaco. A disputa pelos direitos autorais abrangia um conjunto de fotografias, que incluem a famosa selfie do macaco, utilizada inúmeras vezes por meios de comunicação e nas redes sociais.
Os ativistas defendiam que os direitos das imagens pertenciam ao macaco Naruto, uma vez que o próprio animal as teria registrado com a câmera do fotógrafo. Com o acordo, Slater concordou em doar 25% dos rendimentos futuros obtidos com as fotografias para instituições de caridade dedicadas à proteção de espécies do gênero Macaca na Indonésia, onde a selfie foi tirada.
Ambas as partes concordaram em encerrar o litígio num tribunal de apelação. A batalha judicial foi iniciada quando a Peta entrou com um processo contra Slater há dois anos. Uma corte havia decidido em primeira instância a favor do fotógrafo, levando a organização ambientalista a apresentar um recurso.
Os advogados de Slater se recusaram a dizer quanto dinheiro a foto gerou até o momento ou se o fotógrafo vai ficar com os 75% restantes dos rendimentos futuros das imagens.
"A Peta e David Slater concordaram que esse caso levanta questões importantes e inovadoras sobre expandir os direitos legais para animais não humanos, um objetivo que ambos apoiam e que vão manter em seus respectivos trabalhos para seja atingido", disseram ambas as partes em comunicado conjunto.
No processo em nome do animal iniciado pela Peta, a organização requeria o controle financeiro das imagens em benefício do macaco. "Naruto tem o direito de possuir e se beneficiar dos direitos autorais [...] do mesmo modo e na mesma medida em que qualquer outro autor", sustentava a organização.
Por sua vez, o fotógrafo argumentou que os direitos autorais das imagens cabiam a sua empresa, a Wildlife Personalities. As imagens foram feitas em 2011 durante uma viagem de Slater para Sulawesi, na Indonésia, após o fotógrafo deixar uma câmera na floresta. Naruto teria ficado intrigado com seu próprio reflexo na lente e acabou tirando a famosa selfie.
RC/ap/dpa
Homens e macacos aos olhos da arte
Cientificamente, distância entre seres humanos e macacos é mínima. Seria a cultura a fronteira de ouro? Exposição "Ape Culture" em Berlim apresenta interpretações artísticas e científicas sobre a questão.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
O macaco humano
O mundo da arte adora mostrar macacos filosofando sobre a condição humana. Os primatas se tornaram monumentos literários na obra de escritores como E.T.A Hoffmann, Wilhelm Hauff e Franz Kafka. Na foto, Koko, a gorila falante, se tornou mundialmente famosa nos anos 1970. Um documentário de Barbet Schroeder (1978) mostra o treinamento de Koko, que mais parecia uma lavagem cerebral.
Foto: Les Films du Losange (Detail)
A bela e a fera
A Casa das Culturas do Mundo em Berlim faz um apanhado sobre os primatas na arte. Aqui, o chimpanzé torna-se amante da mulher de um diplomata na comédia "Max, meu amor" (1986). O diretor japonês Nagisa Oshima (1932-2013) ironiza as mudanças na condição social das mulheres. Considerado "o maior romance primata do cinema desde King Kong", Max satiriza a cultura extraconjugal da elite parisiense.
Foto: 2015 STUDIOCANAL GmbH, Berlin
O pensador
As ciências naturais e a cultura popular ilustram como a nossa percepção em relação aos macacos mudou radicalmente com o passar do tempo. O artista Klaus Weber lança um olhar crítico sobre a imagem dos macacos. Em sua colagem fotográfica "Beulen" (2008) cabeças de pessoas ilustres brotam como balões de quadrinhos do corpo de um primata de plástico que posa como pensador.
Foto: Klaus Weber
Realidade reinterpretada
O projeto "Flota Nfumu" (2009), de Filip Van Dingenen, foi inspirado no gorila albino "Floco de neve", o mais famoso residente do zoológico de Barcelona entre 1966 e 2003. Suas expressões faciais incrivelmente humanas o transformaram em um ícone pop. A instalação de Van Dingenen é composta por retratos que crianças fizeram de Nfumu, nome verdadeiro do macaco.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
Macacos e o poder
O deus macaco Hanuman é uma importante figura na cultura javanesa. No teatro de rua ele se comporta como mestre e senhor que ensina aos espectadores normas sociais. Em seu filme parcialmente surrealista "Macaco mascarado" (2014), os cineastas Anja Dornieden e Juan David González Monroy questionam as condições de trabalho e as relações de poder entre os macacos javaneses e seus donos.
Foto: Anja Dornieden & Juan David González Monroy (Detail)
Máscara humana
O curta-metragem do artista francês Pierre Huyghe foi inspirado em um vídeo do YouTube. O filme intitulado "Macaco Fuku-chan de peruca e máscara trabalha num restaurante" (2014) mostra um macaco em um restaurante de Tóquio com uma fantasia que o faz parecer uma menina. No filme de 19 minutos, o macaco usa uma máscara humana e imita os movimentos do clássico Teatro Nô japonês.
Foto: Marian Goodman Gallery, New York; Hauser & Wirth, London; Esther Schipper, Berlin; Anna Lena Films, Paris (Detail)
Visões de uma primata
A partir de 1968, os filmes da série "Planeta dos macacos" criaram um novo mundo de fantasia, cujas imagens se estabeleceram como parte da cultura pop, especialmente nos Estados Unidos. O vídeo de Coco Fusco "TED Etologia: Visões Primatas da Mente Humana" (2015) mostra uma palestra da pesquisadora Dr. Zira, chimpanzé feminista do filme.
Foto: Coco Fusco, TED Ethnology
O macaco em mim
Em sua obra, Erik Steinbrecher trabalha com imagens de camadas múltiplas e trocadilhos de palavras. A instalação "AFFE" (2015) é constituída de materiais naturais e inorgânicos. A escultura dá espaço para o espectador olhar sua própria imagem com outro significado. </br></br> A exposição "Ape Culture" está em cartaz na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, até 6 julho.