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Disputa interna ameaça implodir partido de Bolsonaro

18 de outubro de 2019

Crise no PSL ganha novos capítulos com vazamento de áudios, batalha pela liderança da legenda na Câmara e derrotas duras para o presidente. Bolsonaro tira posto de Joice, e Eduardo e Flávio são destituídos de diretórios.

O presidente Jair Bolsonaro
"Vou implodir o presidente", disse o líder do PSL na Câmara, que ainda chamou Bolsonaro de "vagabundo"Foto: Reuters/A. Machado

A disputa de poder dentro do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, foi elevada a novos níveis nestas quarta e quinta-feira (17/10), com áudios vazados, uma guerra de listas para definir o líder da legenda na Câmara e duras derrotas para o chefe de Estado.

Tudo ocorre em meio a uma barulhenta briga entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE), pelo controle do partido, o que agravou a divisão da legenda. A crise interna eclodiu na semana passada em meio a trocas de farpas entre os dois.

Bolsonaro sofreu uma primeira derrota com a manutenção, nesta quinta-feira, do deputado Delegado Waldir (GO) como líder da bancada do PSL na Casa. Na véspera, aliados do governo haviam tentado tirar Waldir do posto para entregá-lo ao deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente.

Segundo as regras da Câmara, a mudança do líder de um partido na Casa é oficializada com um documento direcionado ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e assinado pela maioria absoluta dos parlamentares da legenda. O PSL tem atualmente 53 deputados.

Assim, uma lista com 27 assinaturas foi protocolada na quarta-feira pela ala bolsonarista, pedindo a substituição de Waldir por Eduardo. Segundo a imprensa brasileira, Bolsonaro atuou pessoalmente para influenciar o processo.

Ainda na quarta, o filho do presidente chegou a se pronunciar como novo líder da bancada no Salão Verde da Câmara. Mas não durou muito: aliados de Bivar logo protocolaram outra lista pela manutenção de Waldir, essa com 32 assinaturas.

Como as duas listas somavam 59 assinaturas, e o PSL possui somente 53 deputados, a área técnica da Câmara precisou conferir os documentos. Nesta quinta, após a contagem dos nomes, a Casa validou a lista em apoio ao Delegado Waldir.

Segundo a Secretaria-Geral da Câmara, a lista da ala de Bivar possui 29 assinaturas válidas. Já a lista enviada pelos bolsonaristas tinha apenas 26 nomes que bateram com o cartão de assinaturas preenchido por cada deputado ao assumir o mandato. O grupo do presidente chegou a protocolar uma terceira lista, também com 27 assinaturas, mas só 24 foram validadas.

Assim, ficou valendo o documento apresentado pelos apoiadores de Waldir, já que era o único que continha assinaturas de mais da metade dos deputados do PSL.

Nomes como os dos deputados Coronel Chrisóstomo (RO), Daniel Silveira (RJ) e Luiz Lima (RJ) apareceram em ambas as listas adversárias. Nesta quinta, Waldir disse a jornalistas que esses parlamentares não serão expulsos, mas podem ser sancionados legalmente.

"Vou implodir o presidente"

Para piorar a crise, foi vazado um áudio de Waldir afirmando que vai "implodir" o governo de Bolsonaro, em conversa gravada no gabinete do deputado na quarta-feira.

"Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo", afirma Waldir no áudio, revelado pelo site R7.

Ao jornal O Globo, o deputado Daniel Silveira assumiu a autoria da gravação. Conhecido por ter quebrado uma placa com o nome de Marielle Franco durante a campanha de 2018, ele afirmou ter agido como um "infiltrado" na reunião entre deputados que atuaram para manter Waldir como líder da bancada.

"Eduardo [Bolsonaro] sabia. Eu fiz isso porque queria saber o que o grupo estava articulando contra o presidente. Eu comuniquei o Eduardo, o Felipe Barros (PSL-PR), o Carlos Jordy (PSL-RJ), todos eles. Meu apoio é incondicional ao presidente Bolsonaro, custe o que custar", disse Silveira ao jornal carioca. Segundo ele, Bolsonaro ouviu a gravação.

O deputado afirmou ainda ter identificado uma espécie de conspiração contra o chefe de Estado, por isso resolveu gravar. "Vi que estava tendo uma retaliação ao presidente Jair, que parecia conspiração, isso é inadmissível. É perigoso para a nação, a nação inteira pagaria por uma vaidade de um líder, e isso não pode acontecer", declarou.

Mais tarde, aos ser questionado sobre o áudio, Waldir recuou, afirmando que a declaração foi dada num "momento de emoção". Ele disse não ter nada contra o presidente e que é possível "pacificar" a bancada do PSL, segundo noticiou o portal G1.

"Nós somos Bolsonaro. Nós somos que nem mulher traída. Apanha, não é? Mas mesmo assim ela volta ao aconchego", afirmou. "Não tem nenhuma ruptura, não tem nenhuma perseguição, não tem nada."

O deputado Eduardo Bolsonaro: tentativa da ala bolsonarista de torná-lo líder da bancada acabou frustradaFoto: Getty Images/AFP/S. Lima

Áudio de Bolsonaro

O vazamento de outro áudio já havia causado polêmica na véspera, dessa vez trazendo o próprio presidente como personagem. Na quarta-feira, a revista Época divulgou a gravação de uma conversa em que Bolsonaro pede o apoio de parlamentares do PSL para tirar Waldir da liderança.

"Estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, e colocar o outro. A gente acerta", disse o mandatário a um interlocutor desconhecido.

"A maneira como tá, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? O poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra muda."

Segundo a Época, o áudio foi gravado de maneira oculta no Palácio do Planalto na quarta-feira. Bolsonaro reagiu afirmando que, se seu telefone foi grampeado, tratou-se de uma "desonestidade". Questionado se articulou para destituir Waldir do posto de líder da bancada, ele respondeu que "não trata publicamente desse assunto". "Converso individualmente", declarou.

Joice Hasselmann retaliada

A guerra pela liderança do PSL na Câmara respingou ainda na deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que vem se distanciando de Bolsonaro nos últimos tempos e, em mais um sinal de contrariedade ao governo, foi um dos nomes que assinou a lista em apoio a Waldir.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro decidiu remover a deputada do posto de líder do governo no Congresso e substituí-la pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Com isso, o Planalto passa a ter dois líderes emedebistas – Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) é líder do governo no Senado.

"Minha alforria chegou. Cansei de fazer discurso para consertar as besteiras deste governo", afirmou Joice em entrevista a Valdo Cruz, colunista do portal G1 e da GloboNews. "A ingratidão impera neste governo", completou a deputada.

Eleita para seu primeiro mandato em 2018, com 1 milhão de votos, a parlamentar do PSL havia sido escolhida como líder do governo no Congresso em fevereiro deste ano, pelo próprio Bolsonaro.

Filhos destituídos de diretórios do PSL

Além da manutenção de Waldir na liderança do PSL na Câmara, o presidente sofreu mais uma derrota nesta quinta-feira em meio à disputa pública com Bivar.

Os filhos de Bolsonaro – o deputado Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) – foram destituídos dos comandos dos diretórios da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente.

Segundo o jornal Estado de S. Paulo, Eduardo deixou de ter acesso ao sistema da sigla pelo menos desde segunda-feira. O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) confirmou que os dois foram desligados nesta semana, embora Bivar tenha dito que ainda não assinou as destituições.

Além disso, a deputada Bia Kicis (PSL-DF), aliada do presidente, também teria sido retirada da presidência do PSL no Distrito Federal, em mais uma perda para a ala bolsonarista.

Crise no PSL

A crise instalada dentro do partido eclodiu após declarações públicas recentes de Bolsonaro, que desencadearam uma troca de farpas entre o presidente e Luciano Bivar.

Na semana passada, Bolsonaro recomendou a um apoiador que "esquecesse" o PSL e afirmou que Bivar "está queimado para caramba" em seu estado, Pernambuco. "Esquece esse cara. Esquece o partido", disse o presidente na saída do Palácio da Alvorada.

Bivar reagiu afirmando que a fala de Bolsonaro foi "terminal". "Ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido", declarou o presidente do partido.

Oficialmente, o grupo de Bolsonaro no PSL mantém o discurso de que está insatisfeito com Bivar por causa da falta de transparência no comando da sigla e a eclosão das suspeitas em torno das candidaturas de fachada em Pernambuco.

Ainda assim, o próprio presidente da República vinha insistindo em manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também é suspeito de comandar um esquema similar de candidaturas laranjas em Minas Gerais.

Já os apoiadores de Bivar acusam o grupo do presidente de querer controlar a gorda fatia do fundo partidário que cabe ao PSL desde que a sigla se tornou a segunda maior bancada da Câmara. O fundo deve chegar a 110 milhões de reais neste ano.

Independentemente do motivo da disputa, a fala de Bolsonaro sobre Bivar na última semana acabou detonando uma crise interna na legenda.

Nos dias que se seguiram, a imprensa brasileira revelou que Bolsonaro e seus aliados próximos no PSL planejam deixar a sigla. Porém, o plano ainda esbarra nas regras eleitorais, já que os deputados bolsonaristas que resolverem eventualmente deixar a legenda correm o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.

Ao jornal O Globo, a advogada eleitoral de Bolsonaro, Karina Kufa, disse que o presidente tem travado conversas com dirigentes de pelo menos cinco partidos. Por outro lado, a ala pró-Bivar já estaria articulando uma possível fusão entre o PSL e o DEM caso Bolsonaro deixe mesmo a legenda, afirmou o Estado de S. Paulo

EK/ots/dw

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