História da montadora que começou fabricando o Fusca e hoje é a segunda maior do mundo é também a saga de uma família. A atual disputa entre Wolfgang Porsche e Ferdinand Piëch é mais um capítulo dessa novela.
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No Brasil, a saga da família que controla a Volkswagen daria material suficiente para uma novela: poder, influência e intrigas há de sobra. Nessa história, o presidente-executivo Martin Winterkorn é apenas um coadjuvante, um mero empregado, ainda que muito bem pago. Com uma renda anual de cerca de 16 milhões de euros, ele está no topo da lista de salários dos principais executivos alemães.
Pois basta uma frase da família para colocar em xeque todo o poder do executivo que comanda a segunda maior montadora de automóveis do mundo: "Eu me distanciei de Winterkorn", afirmou, de passagem, o patriarca Ferdinand Piëch em entrevista à revista alemã Der Spiegel.
Uma declaração assim, sem nenhuma acusação concreta, que poderia passar despercebida num outro contexto, tem um peso enorme se a empresa for a Volkswagen e o autor da frase, Piëch – ele preside o conselho de administração da VW, o seleto grupo de pessoas que controla a empresa. Até 2002, Piëch foi, ele próprio e por quase uma década, presidente-executivo, o mesmo cargo ocupado hoje por Winterkorn.
Depois do ataque de Piëch, Winterkorn recebeu o apoio de Wolfgang Porsche, que também faz parte do conselho de administração da Volkswagen. Segundo Porsche, a declaração de Piëch era uma opinião pessoal, que não teria sido combinada com a família, nem em forma nem em conteúdo.
Quando fala em família, Piëch está se referindo aos ramos Porsche e Piëch, pois Wolfgang Porsche e Ferdinand Piëch têm o mesmo avô. E eles, ou seja, "a família", detêm a maioria das ações da Volkswagen, garantindo pouco mais de 50% do direito de voto e 32% do capital.
As origens
O avô era Ferdinand Porsche. Em 1938, ele projetou para os nazistas a fábrica da Volkswagen e o protótipo do carro que seria o maior símbolo da empresa, o Fusca. Mais tarde, foi preso pelos Aliados, mas nunca foi condenado.
Após a Segunda Guerra Mundial, o governo militar da zona de ocupação britânica assumiu o controle da fábrica da Volkswagen, entregando-o ao estado da Baixa Saxônia em 1949 – entre outros, com a condição de conceder grande influência aos sindicatos.
Em 1960, a Volkswagen tornou-se uma sociedade anônima, sendo privatizada, mas o estado da Baixa Saxônia manteve uma parcela de 20% das ações.
Paralelamente, a partir do escritório de engenharia fundado por Ferdinand Porsche em 1930 originou-se a fabricante de carros esportivos Porsche em Stuttgart. Nesse empreendimento, desde o início as famílias Porsche e Piëch detiveram o controle, mais ou menos de forma igualitária.
Além disso, na austríaca Salzburg, elas fundaram uma empresa comercial denominada Porsche Holding, responsável pela revenda de carros da Porsche e da Volkswagen para a Áustria e, mais tarde, para o sul da Europa. As famílias ainda recebiam royalties pelos milhões de Fuscas vendidos em todo o mundo.
Disputas já houve várias na família. Em 1972, quando a situação ficou especialmente turbulenta, os Porsche e os Piëch chegaram a um acordo para se retirar dos negócios das suas empresas familiares, que, desde então, são dirigidos por executivos empregados.
Em 1992, Wendelin Wiedeking tornou-se o presidente da Porsche. Um ano depois, era a vez de Ferdinand Piëch assumir a presidência da Volkswagen, que estava então no vermelho. Naquela época, as famílias Piëch e Porsche possuíam somente uma pequena parcela das ações da VW.
No entanto, a partir de 2005, elas passaram a aumentar paulatinamente essa cota – por meio da Porsche, que elas controlavam desde o início. Para separar a participação acionária na Volkswagen da própria produção de carros esportivos, as famílias fundaram a Porsche Automobil Holding (que não deve ser confundida com a importadora de carros austríaca Porsche Holding). As ações ordinárias com direito a voto da Porsche Automobil Holding são controladas exclusivamente por membros das famílias Porsche e Piëch.
A tomada de controle
Por meio da holding, Wiedeking tentou, a partir de 2008, o que parecia impossível: a pequena montadora de carros esportivos queria incorporar a gigante Volkswagen. Para tal, Wiedeking contava com o apoio de Wolfgang Porsche, o presidente do conselho de administração da Porsche Automobil Holding.
Ferdinand Piëch, que na época já era o presidente do conselho de administração da Volkswagen, teria sido contra a incorporação. O ousado plano acabou fracassando devido à crise financeira, que impossibilitou um financiamento dos empréstimos que a Porsche fez para comprar ações da Volkswagen e, assim, assumir o controle da gigante.
Em vez disso, aconteceu o contrário: a Volkswagen incorporou a Porsche, que se tornou a 12ª marca da empresa. Piëch triunfou sobre Porsche. No entanto, ambos saíram vencedores, pois a empresa familiar Porsche Automobil Holding tornou-se então a principal acionista da Volkswagen, detendo mais da metade das ações com direito a voto.
Mesmo assim, sem a anuência do estado da Baixa Saxônia, a família não pode decidir nada. Embora detenha apenas 20% das ações com direito a voto, o estado pode bloquear decisões importantes – uma particularidade que nem duas ações da Comissão Europeia na Corte Europeia de Justiça conseguiram alterar.
Apesar disso, a atual disputa em torno do futuro direcionamento da Volkswagen é sobretudo um assunto de família, mais uma rodada na luta interminável entre os primos Ferdinand Piëch (nascido em 1937) e Wolfgang Porsche (nascido em 1943). O local de reunião dos seis diretores do núcleo do conselho de administração da Volkswagen é Salzburg. Ambos os primos possuem uma residência na cidade.
Modelos brasileiros da Volkswagen
O primeiro veículo totalmente projetado e desenvolvido pela VW do Brasil foi a Brasília, lançada em 1973. Desde então, a Volkswagen lançou diversos modelos nacionais, como o Gol, Parati, Voyage, Fox e tantos outros.
Foto: Volkswagen do Brasil
Protótipo
A partir de 1959, os engenheiros da Volkswagen alemã passaram a trabalhar num protótipo sucessor do Fusca: o EA 97. No entanto, a concorrência interna do Tipo 3, como também do Audi 60, fez com que a VW desistisse de produzir o modelo na Alemanha. Em vez de esquecê-lo para sempre, ele foi desmontado e embarcado para o Brasil, onde deu origem ao primeiro carro "nacional" da Volkswagen.
Foto: DW/C. Albuquerque
VW Variant
No entanto, antes de chegar ao destino brasileiro, o navio e sua carga afundaram. Foi preciso mais de um ano para o resgate e a limpeza. Em 1968, a VW do Brasil retrabalhou o design do sedã, cujos faróis assumiram linhas retilíneas. O resultado desse desenvolvimento: o VW 1600, a Variant (1969) e o fastback TL (1970).
Foto: Volkswagen do Brasil
VW 1600
A linha VW 1600/Variant/TL possuía motor traseiro refrigerado a ar e plataforma do Fusca. As formas retangulares do VW 1600, no entanto, não convenceram a todos. O modelo saiu de linha em 1971. Já a perua Variant e o fastback TL ajudaram a solidificar a posição da VW no mercado brasileiro, como sucessores do Fusca. Somente da Variant, a VW do Brasil produziu quase 257 mil unidades até 1977.
Foto: Volkswagen do Brasil
VW Brasília
O primeiro veículo totalmente projetado e desenvolvido pela VW do Brasil foi a Brasília, lançada em 1973. A Brasília também foi um modelo de grande sucesso da Volkswagen no país, alcançando cerca de 950 mil unidades produzidas nos nove anos em que esteve no mercado. Foi projetada para aliar a robustez do Fusca ao conforto de um carro com maior espaço interno e design mais moderno.
Foto: Volkswagen do Brasil
SP2
Com o mercado fechado às importações, poucos eram os carros esportivos brasileiros. Isso levou a VW do Brasil a desenvolver o SP1 e o SP2, versão que prevaleceu no mercado. Mas o alto preço e a baixa performance do motor não convenceram: o carro saiu de linha em 1976. Produzido em pequena escala, ele é hoje um cobiçado item de colecionador. Na foto: um SP2 (1973) no Museu da VW em Wolfsburg.
Foto: DW/C. Albuquerque
VW Gol
Na década de 1980, com o parque automobilístico brasileiro consolidado, a Volkswagen iniciou a produção da série que se tornaria seu maior sucesso de vendas e que deu origem aos modelos Gol, Parati, Saveiro, Voyage e Fox. Lançado em 1980, o Gol é o modelo de maior êxito da marca VW no Brasil, com 7 milhões de unidades produzidas e 26 anos consecutivos na liderança de vendas.
Foto: Volkswagen do Brasil
Novo Gol
Em 1980, o Gol era vendido apenas com motor movido a gasolina ou álcool. Em 1988, a VW lançava o Gol GTI, o primeiro automóvel brasileiro com injeção eletrônica. Ele também foi o primeiro carro do Brasil com propulsor bicombustível (2003). Em 2013, o Gol passou a adotar o padrão mundial de identidade da Volkswagen, composto pelas barras horizontais e faróis com linhas retangulares.
Foto: Volkswagen do Brasil
VW Parati
No início da década de 1980, a VW do Brasil lançou a chamada Família BX (Gol, Saveiro, Voyage e Parati). Em 1982, o lançamento da versão station wagon (perua) do Gol marcou o fim da produção da VW Brasília e da Variant. A princípio, ela deveria se chamar "Angra". Para evitar uma correlação com as usinas nucleares localizadas naquela cidade fluminense, optou-se então pelo nome Parati.
Foto: Volkswagen do Brasil
VW Parati 2013
Com a queda de vendas e a concorrência do SpaceFox, uma das maiores surpresas da linha 2013 apresentada pela VW foi a manutenção da Parati em sua palheta de produtos, pois seu fim já havia sido especulado em 2012. A VW Parati 2013 é um dos modelos mais antigos da Volkswagen ainda em vendas no país. Assim como a Kombi, muito acreditam que sua produção também deverá se encerrar este ano.
Foto: Volkswagen do Brasil
Voyage
O VW Voyage foi lançado no Brasil em 1981. O design desse sedã compacto baseado no Gol seguia a tendência dos carros da VW fabricados na Europa durante a década de 1970. A parte mecânica era a do Passat fabricado no Brasil. Apesar de manter o nome, o Voyage mudou radicalmente ao longo dos anos e, com 30 anos de história, a primeira geração já virou peça de colecionador.
Foto: Volkswagen do Brasil
Novo Voyage
Em 2008, a VW do Brasil lançava a nova geração do Voyage. Juntamente com o então Novo Gol, ele inaugurou um novo padrão de qualidade, economia e desempenho no segmento de carros de entrada. Já o Novo Voyage (2013) passou por mudanças na traseira e dianteira. Assim como os modelos anteriores, ele se baseia na plataforma do Gol e se destina principalmente ao mercado sul-americano.
Foto: Volkswagen do Brasil
Saveiro
Lançada em 1982, a VW Saveiro é a versão picape do Gol. A inspiração do nome veio da embarcação destinada ao transporte de mercadorias. Inicialmente, a picape foi fabricada com motor refrigerado a ar, mas logo em 1985 a concorrência fez com que a VW mudasse para a refrigeração a água. Até 2002, a VW Saveiro foi o utilitário leve mais vendido no Brasil.
Foto: Volkswagen do Brasil
Saveiro Cross
Assim como o Gol, a atual geração da VW Saveiro estreia a nova identidade visual da Volkswagen em 2013. A Saveiro Cross, picape top de linha que na foto aparece na versão 2010, fica com formas mais discretas. Mas a grande novidade está no lançamento da Nova Saveiro Cabine Dupla. A falta da cabine dupla ainda era o ponto fraco da VW na disputa pela liderança desse segmento de mercado.
Foto: Volkswagen do Brasil
Fox BlueMotion
Este é o terceiro modelo da VW do Brasil com tecnologia BlueMotion. Sua aerodinâmica aliada a modificações mecânicas e aos pneus de baixa resistência ao rolamento proporcionam economia de combustível, reduzindo assim o impacto no meio ambiente. O VW Fox BlueMotion é mais caro que o Fox 1.6 tradicional, mas é uma boa opção para quem quer contribuir para a sustentabilidade do planeta.