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Dissonância sobre destino de Assad marca abertura da conferência de paz

22 de janeiro de 2014

No primeiro dia do encontro Genebra II, governo e oposição da Síria trocam acusações e insultos. EUA e Alemanha dizem que fim da guerra passa por saída do ditador. Rússia insiste na não interferência.

Ahmad al-Jarba, da Coalizão Nacional Síria (e) e o chanceler Walid Muallem: frentes endurecidasFoto: Reuters & Fabrice Coffrini/AFP/Getty Images

Devido à complexidade da situação e aos choques de interesses entre os diferentes negociadores, são modestas as expectativas em torno da conferência internacional pela paz na Síria. Ele foi aberta nesta quarta-feira (22/01) na cidade suíça de Montreux, prosseguindo em Genebra a partir da sexta-feira. Seus participantes provêm de 40 países e quatro organizações internacionais.

Logo após o início do evento, em seu primeiro encontro em pessoa, representantes do governo e da oposição síria no exílio entraram em choque frontal. O ministro do Exterior Walid Muallem e o presidente da Coalizão Nacional Síria da Oposição e das Forças Revolucionárias, Ahmad al-Jarba, se responsabilizaram mutuamente pelo derramamento de sangue na guerra civil.

Neste primeiro dia de negociações, o futuro político do ditador sírio, Bashar al-Assad, se cristalizou como o pomo da discórdia em Montreux.

Oposicionistas "terroristas"

Segundo Muallem, as forças oposicionistas seriam compostas por "terroristas", que usam civis como escudo humano e pretendem levar a Síria à desgraça. A decisão sobre a legitimidade do chefe de Estado, afirmou, cabe unicamente ao povo. O chefe da diplomacia síria alertou, ainda, sobre o perigo de um alastramento do conflito por toda a região.

Jarba, por sua vez, acusou Assad de perseguir com violência implacável suas "ideias loucas". Ele lembrou que as tropas do regime esmagaram com brutalidade armada os protestos de 2011, iniciados pacificamente. O líder da Coalizão Nacional Síria adiantou que não aceitará qualquer conversa no sentido da permanência no poder de Assad, que ele considera responsável por crimes contra a Humanidade.

Na mesma linha, o secretário de Estado americano, John Kerry, exigiu a deposição do presidente sírio. A seu ver, Assad não pode estar representado no almejado governo de transição, pois perdeu a legitimidade como dirigente, por suas atrocidades contra a população civil.

Sem esperanças de milagre

Kerry conta, nesse ponto, com o pleno apoio do ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier. Após o primeiro dia da conferência, apelidada de "Genebra II", ele declarou: "Só haverá uma saída: chegar a um governo interino de que não participem aqueles que têm as mãos sujas de sangue."

Steinmeier não tem dúvidas de que a responsabilidade pela guerra civil – que já dura três anos e fez mais de 130 mil vítimas – cabe sobretudo ao regime de Assad, por investir brutalmente contra manifestantes pacíficos. No entanto, ele ressaltou que ainda se precisa de Damasco como parceiro de negociação, a fim de que se possa levar auxílio humanitário a pelo menos parte da população síria.

Ministro alemão Frank-Walter Steinmeier: palavras claras e poucas ilusõesFoto: picture-alliance/dpa

O ministro alemão já considerou uma vitória o fato de as duas delegações sírias terem permanecido em Montreux, depois das pesadas acusações mútuas. "É óbvio que os nervos estavam à flor da pele", comentou. Ao mesmo tempo, relativizou as esperanças em relação à conferência de paz: "Não vão acontecer milagres, nestes dias."

Moscou firme

Atualmente, a Rússia conta entre os poucos aliados de Assad, ao lado do Irã e do movimento radical libanês Hisbolá. Encabeçando a delegação russa em Montreux, o ministro do Exterior Serguei Lavrov enfatizou que os países estrangeiros não têm o direito de interferir em questões internas da Síria.

Ele admitiu que as negociações não serão fáceis nem levarão rapidamente a uma solução pacífica. Ainda assim, afirmou, a conferência precisa dar fim ao "trágico conflito" na Síria, para impedir seu alastramento por todo o Oriente Médio. Lavrov insistiu que o Irã deveria tomar parte no encontro – sugestão rechaçada pelos Estados Unidos, seu aliados e grande parte da oposição.

Pouco antes do início da convenção, a eventual presença de Teerã foi um ponto de conflito e quase obstáculo à realização do encontro promovido pelas Nações Unidas. Num prazo de menos de 24 horas, talvez por excesso de otimismo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convidou e – sob pressão dos EUA e da Coalizão Nacional Síria – desconvidou o Irã. O incidente abalou seriamente a credibilidade de Ban como mediador na crise síria.

Em declaração à agência de notícias estatal iraniana Irna, o presidente Hassan Rohani revelou considerar a conferência fracassada antes mesmo de ter começado: devido à ausência de protagonistas importantes no conflito, ela seria incapaz de resolver a crise na Síria.

Palácio Montreux, local da primeira parte da conferência de pazFoto: DW/D. Hodali

Diante do Palácio Montreux, onde se realiza o encontro, centenas de adeptos de Bashar al-Assad se manifestaram, clamando: "Com nossa alma e nosso sangue nós te defendemos, oh Bashar." No entanto, o grande pivô da crise síria não conta entre os participantes da conferência na Suíça. Assad não só rejeita, até o momento, todas as exigências de que renuncie, como recentemente chegou a acenar com a possibilidade de concorrer nas eleições presidenciais programadas para este ano.

AV/dpa/afp/rtr/epd

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