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'Divisão do Kosovo é caixa de Pandora'

Fabian Schmidt (av)15 de agosto de 2007

Erhard Busek é o coordenador da União Européia no Pacto de Estabilidade para o Sudeste Europeu. Em entrevista à DW-RADIO, ele comenta as atuais tentativas de definir o estatuto do Kosovo.

Manifestações em Pristina, KosovoFoto: AP

A troika (trio) de mediadores para o Kosovo, composta por enviados da União Européia, Estados Unidos e Rússia, iniciou, na semana passada, seus 120 dias de conversações. Estas têm como alvo encorajar Belgrado e Pristina a resolver a questão do estatuto do Kosovo. Após apenas três dias, a troika declarou não poder excluir uma divisão da província num setor albanês e num sérvio. Em 10 de dezembro os enviados deverão apresentar seu relatório à Organização das Nações Unidas.

Desde 2002, o austríaco Erhard Busek é o coordenador da União Européia no Pacto de Estabilidade para o Sudeste Europeu. Ele fala sobre o Kosovo à DW-RADIO.

DW-RADIO:

Sr. Busek, em face da resistência por parte dos albaneses do Kosovo, quão realista é a perspectiva de uma divisão da província?

Erhard BusekFoto: dw-tv

Erhard Busek:

Até o momento, só houve propostas às quais várias pessoas foram contrárias. Neste sentido, não há nenhuma proposta, mas esta não é uma solução. Qualquer consenso a que se chegue possivelmente não será aceito por ambas as partes conflitantes. Mas é necessário ter uma solução com que se possa viver. Entre as más soluções, esta pelo menos é uma possível. Ou se alcança uma espécie de aproximação, ou então se decide conflituosamente numa ou noutra direção, arcando com todas as conseqüências.

Vários observadores insinuaram que um consenso não é possível. Que perspectiva vê para os próximos 120 dias de diálogos?

A perspectiva é bastante clara. Se existir algum ponto onde haja uma aproximação, onde a distância diminua, aí há uma possibilidade. Não se devem esperar grandes acordos. A outra "solução" é, naturalmente, um processo de reconhecimento unilateral. Porém esta opção tem a sua própria problemática, que já começa dentro da União Européia.

Os mandatos da Missão das Nações Unidas no Kosovo (UNMIK) e da Força da Otan para o Kosovo (KFOR) se originam na Resolução 1244 da ONU. Agora é difícil para estas instituições ir além de suas possibilidades...

Um reconhecimento unilateral se daria sem a ONU, é preciso ter isso em vista. Muitos temem tal opção, e com boas razões. Há também o problema de a UE representar um papel significativo na formação das instituições no Kosovo. Mas com base em que mandato cumprirá estas funções? Aqui começam os problemas conseqüenciais.

O que ocorreria então com a KFOR se a ONU não mais estivesse envolvida?

Isto, o senhor deve perguntar àqueles que são pelo reconhecimento unilateral.

Então, na sua opinião, um reconhecimento unilateral não é realizável, ou não é desejável?

Não desejável. Tudo é realizável, pois a política é sabidamente a arte do possível.

Até o momento, o Grupo de Contato [Internacional] refutava, por princípio, a divisão. Contudo agora ele próprio nomeou a troika de negociação. Será que virá a se afastar de seus princípios?

Premiê kosovar Agim Ceku, (2º à dir.) e os membros da troikaFoto: AP

Também aqui a política é a arte do possível. Os princípios foram sempre mencionados devido aos "casos paralelos". Penso ser necessário estabelecer claramente que a questão do Kosovo, em si, não produza soluções para casos paralelos, que ela é um problema ímpar. Até agora é o único caso de uma intervenção da Otan, coisa que jamais ocorrera. [...] Trata-se antes de uma questão para o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Também há opiniões sérvias que admitem uma espécie de divisão, sob determinadas condições. A troika certamente teve uma razão para a proposta emergir novamente.

Muitos observadores consideraram a República Srpska um precedente. O senhor não concorda?

Não vejo um precedente, de forma alguma, pois está óbvio que a situação era outra. Bósnia e Herzegóvina também sempre foram uma república constituinte, na Iugoslávia de Tito. É uma tradição com outras origens. Por outro lado, nem sempre achei que Belgrado ficaria tão feliz em ter ainda mais este problema.

No Kosovo, uma divisão geográfica clara não é possível, de forma alguma...

Exato, esta é uma solução de maioria. Os sérvios de outras partes do Kosovo ficariam para trás. Não se deve esquecer que também os albaneses do Vale de Presevo teriam exigências em relação à Sérvia e exigiriam correção das fronteiras. Seja como for, é abrir uma caixa de Pandora.

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