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Divisões minam oposição na Venezuela

Evan Romero-Castillo (mas)21 de maio de 2014

Com grupos em defesa até de solução militar para a crise nacional, rixas políticas se acentuam dentro do movimento antichavista e podem pôr em risco a força dos protestos pacíficos nas ruas.

Foto: REUTERS

O mês de maio tem sido particularmente difícil para os adversários do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez (1999-2013). Os eventos ocorridos nas últimas semanas têm mostrado um novo marco na conturbada história da oposição no país.

O dia 8 de maio deixou isso claro. Na ocasião, líderes e simpatizantes da oposição amanheceram unidos pela indignação quando descobriram que as forças de segurança haviam destruído um acampamento onde manifestantes pacíficos passavam a noite. E a discórdia que reina dentro da heterogênea oposição ficou mais uma vez evidente antes do anoitecer.

A subsecretária de estado para assuntos do hemisfério ocidental, Roberta Jacobson, disse que pessoas ligadas à Mesa da Unidade Democrática (MUD) – a maior coalizão opositora – pediu a Washington que não aplicasse sanções aos funcionários do governo da Venezuela pela violação dos direitos dos manifestantes.

Embora Jacobson tenha se retratado um pouco depois, alegando que havia se confundido, o estrago havia sido feito: o MUD, cujo diálogo com o establishment chavista era mal visto por alguns setores da oposição, foi acusado de "colaboracionismo".

Vários subgrupos

O jornalista venezuelano Luis Carlos Diaz, cujo blog recebeu o prêmio BOB da Deutsche Welle em 2013, resumiu os acontecimentos de 8 de maio em uma mensagem no Twitter: "Eles conseguiram transformar um dia de repressão e prisões em um projeto de lei contra o MUD."

Agora, a questão é se os políticos e partidos de oposição da Venezuela voltarão a se apoiar após esse último confronto.

Henrique Capriles Radonski é dirigente do Primeiro JusticiaFoto: Reuters

"Alguns analistas acreditam que ainda há a possibilidade de eles criarem uma síntese estratégica, persistente em suas negociações com o governo, sem renunciar aos protestos pacíficos, que são legítimos", diz o cientista político Victor M. Mijares.

Essa conciliação de vontades pode exigir um grande esforço. Afinal, como explica Mijares, pesquisador do instituto alemão Giga, de Hamburgo, a composição da oposição venezuelana é mais complexa do que parece.

O cientista político Fernando Mires, professor emérito da Universidade de Oldenburg, diz o mesmo: "Os opositores do chavismo não se dividem em apenas dois grupos. Existem alguns que apostam em uma solução militar para a crise nacional, ignorando que as condições não são apropriadas para uma saída que não seja constitucional."

Líderes neutralizados

"Há outra opção 'leal', personificada pelo MUD, que respeita as regras do jogo estabelecidas na Constituição de 1999 e está disposta a dialogar com o Executivo. Há uma oposição 'semileal', que assumiu uma posição mais combativa em relação ao governo e pede os protestos nas ruas, mas ao mesmo tempo tem, ou aspira, ocupar cargos no governo, sem prejudicar o sistema jurídico pós-Chavez. E há uma oposição 'desleal', composta por aqueles que aplaudem a queda, por qualquer meio, do que eles consideram uma evidente ditadura. O MUD é o grupo mais bem organizado e tem a maior base eleitoral", diz Mijares.

A oposição 'semileal', representada por partidos como o Vontade Popular, atravessa uma grave crise porque dois de seus líderes foram neutralizados. O atual prefeito de Caracas, António Ledezma, permanece politicamente ativo. Leopoldo López, do Voluntad Popular, foi preso sobre a acusação de "incitação ao crime" após a convocação das manifestações em 12 de fevereiro.

O atual prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, segue politicamente ativoFoto: picture-alliance/dpa

María Corina Machado foi destituída de seu cargo de deputada utilizando um processo controverso. Segundo Mijares, a oposição "desleal" é composta por políticos e grupos marginais com visões de extrema direita ou radicalmente liberais.

"O governador de Miranda, Henrique Capriles, adversário de Chávez e Maduro nas duas últimas campanhas presidenciais, demonstra intuição e inteligência para concentrar suas energias em articular um discurso que atraia os setores economicamente desfavorecidos, tradicionalmente considerados chavistas. Seu projeto político é a longo prazo, mas eu o parabenizo porque a oposição está perdida se não ganhar a confiança do 'chavismo social', ou seja, dos ativistas e lideres comunitários excluídos da luta pelo poder que se realiza no âmbito do 'chavismo político'", conclui Mires.

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