Djokovic aguarda decisão detido em hotel da Austrália
15 de janeiro de 2022O destino do tenista sérvio Novak Djokovic, número 1 do mundo, será selado menos de 24 horas antes do começo do Aberto da Austrália, na segunda-feira.
Ele aguarda detido em um hotel de Melbourne, na Austrália, uma audiência neste domingo (16/01), que decidirá se o tenista poderá ou não seguir no país ou se será deportado. Se isso ocorrer, ele ficará três anos sem poder pisar na Austrália e, portanto, sem jogar a competição a qual já ganhou nove vezes.
O tenista de 34 anos só pode sair do hotel para conversar com seus advogados e para participar da audiência.
A saga da estadia de Djokovic na Austrália já dura 10 dias, com uma nova reviravolta nesta sexta-feira, quando seu visto foi cancelado pela segunda vez, apesar de um tribunal anular o primeiro cancelamento.
"Hoje eu exerci meu poder de cancelar o visto do senhor Novak Djokovic por motivos de saúde e ordem, com base no interesse público", disse o ministro australiano da Imigração, Alex Hawke Hawke, em comunicado.
Poucas horas depois, a equipe jurídica de Djokovic solicitou uma liminar para que ele pudesse permanecer na Austrália e buscar o décimo título do Aberto.
A Austrália tem uma política que não permite o ingresso de quem não é cidadão australiano ou não mora no país e que não esteja totalmente vacinado contra a covid-19. Isenções médicas - como a que Djokovic argumentou ter apresentado - são aceitas, mas o governo australiano disse que o tenista não forneceu justificativa adequada para tal isenção.
Djokovic anunciou publicamente que não se vacinou. Ele, portanto, queria entrar na Austrália com uma permissão especial, justificando que teve a covid-19 em dezembro, o que permitiria sua entrada no país. No entanto, há inconsistências em seu exame positivo que pode, inclusive,ter sido manipulado, de acordo com o revista alemã Der Spiegel.
Além disso, ele mentiu no formulário de entrada na Austrália, fato pelo qual culpou seu agente.
Maioria é contra permanência de Djokovic
A maioria dos cidadãos australianos ouvidos pela mídia local é contra a permanência do tenista no país. Muitos afirmam, ainda, que ele já deveria, inclusive, ter sido mandado embora há muito tempo, criticando a demora do ministro da Imigração em agir.
"O governo não fez nada e um problema se transformou em crise. É uma vergonha internacional para a Austrália", disse o líder da oposição Anthony Albanese.
Em sua defesa, Hawke disse que não queria cometer nenhum erro e verificou todos os fatos cuidadosamente.
Os advogados de Djokovic argumentam que a decisão é "irracional" e que o tenista serve de "bode expiatório" para todas as pessoas não vacinadas.
Agitação civil e mau exemplo
Em documentos pedindo sua deportação, as autoridades australianas argumentaram que a presença de Djokovic no país "pode fomentar o sentimento antivacinação". Para Hawke, a presença do tenista na Austrália poderia incitar "agitação civil" e encorajar outros a evitar a imunização contra covid-19.
Hawke admitiu que Djokovic significava um "risco insignificante para aqueles ao seu redor". No entanto, ele é visto por alguns como "um talismã de uma comunidade de sentimento antivacina".
De acordo com Hawke, a postura de se negar a se vacinar, de mentir no formulário e até mesmo de participar de eventos após ter afirmando testar positivo contra covid-19 pode incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo.
Reações na Sérvia
O tratamento de Djokovic provocou reações ferozes na Sérvia, país natal do tenista e onde ele é visto como herói nacional.
Nas redes sociais, o presidente da Sérvia, Aleksandar Vučić, falou em "assédio" e "caça às bruxas política" visando "o melhor tenista do mundo". O Ministério das Relações Exteriores da Sérvia afirmou que Djokovic foi "atraído para a Austrália para ser humilhado".
Entenda o caso
Djokovic chegou a Melbourne em 5 de janeiro para disputar o Aberto da Austrália. Cético da vacinação, ele viajou sem apresentar comprovante de imunização, amparado apenas por uma isenção médica que havia sido concedida pelos organizadores do torneio e autoridades estaduais de Melbourne. O governo federal, responsável pelas fronteiras internacionais e pelos vistos, não participou do processo de isenção. Para obter sua isenção, Djokovic argumentara que havia tido covid-19 em 16 dezembro e que havia se recuperado.
O anúncio da isenção, feito pelo próprio atleta em suas redes sociais, imediatamente provocou críticas na Austrália, onde mais de 90% das pessoas com mais de 16 anos receberam duas doses de vacina contra a covid-19. Melbourne também teve o lockdown mais longo do mundo para conter o coronavírus, e recentemente um surto da nova variante ômicron levou os números de casos a níveis recordes.
Antes mesmo de Djokovic desembarcar em Melbourne, as autoridades federais do país avisaram que ele precisaria justificar essa isenção, ou seria colocado "no próximo avião para casa". Após o desembarque, o tenista teve sua entrada no país recusada e ficou retido no aeroporto de Melbourne sob a alegação de não ter mostrado "evidências adequadas para atender aos requisitos de entrada no país".
Depois de permanecer oito horas no aeroporto e ter seu visto cancelado, Djokovic foi colocado em um hotel especial da imigração australiana.
Na última segunda-feira, Djokovic ganhou tempo ao conseguir reverter o cancelamento do visto nos tribunais. O juiz do caso entendeu que o governo australiano não respeitou um prazo concedido inicialmente a Djokovic para que o tenista apresentasse sua defesa.
No entanto, mesmo perdendo a disputa judicial, o governo australiano avisou que ainda tinha poder para cancelar o visto de Djokovic por meio de uma medida executiva. Foi o que finalmente aconteceu nesta sexta-feira.
le (ots)