DNA de 4.500 anos atrás apoia teoria migratória na África
9 de outubro de 2015
Genoma antigo do continente africano é sequenciado pela primeira vez e corrobora tese de que houve corrente migratória do oeste da Eurásia para o Chifre da África há cerca de 3 mil anos.
Anúncio
O DNA extraído do crânio de um homem enterrado há mais de 4.500 anos numa caverna da Etiópia tem ajudado a esclarecer a ascendência dos africanos modernos, além de fortalecer a teoria de que agricultores migraram da Eurásia para o Chifre da África há cerca de 3 mil anos.
"Esse é o primeiro genoma de um homem primitivo encontrado na África a ser sequenciado", afirma o geneticista Marcos Gallego Llorente, da Universidade de Cambridge, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, publicado na revista Science.
A demora se explica pelas altas temperaturas da África – outras análises do tipo se limitavam a regiões de temperaturas mais baixas, como o Ártico. Segundo os cientistas, por sorte o clima dentro da caverna etíope era frio e seco o suficiente para preservar o DNA por todo esse tempo.
"Com um genoma primitivo, temos uma janela aberta diretamente para o passado distante. O genoma extraído de um único indivíduo pode fornecer o retrato de toda uma população", explica outro autor da pesquisa, Andrea Manica, também da Universidade de Cambridge.
O genoma agora sequenciado permite aos cientistas saber como era o DNA da população local centenas de anos antes desse movimento migratório. O resultado da pesquisa corrobora a teoria de que agricultores migraram da Eurásia para a África há cerca de 3 mil anos, já que esse DNA de 4.500 anos não tem traços de ancestrais da Eurásia.
O genoma do africano primitivo, apelidado de Mota pelos pesquisadores, mostrou que essa migração "foi duas vezes mais significativa do que se pensava e afetou a composição genética de populações em todo o continente africano", diz a equipe, em nota.
O evento, conhecido como o "refluxo da Eurásia", ocorreu quando pessoas vindas do oeste dessa região, como do Oriente Médio e da Ásia Menor, ocuparam a área conhecida como Chifre da África, no nordeste do continente – inversamente ao movimento que levou os primeiros humanos a deixarem a África, há cerca de 100 mil anos.
Ao comparar o antigo genoma com o DNA de africanos modernos, os pesquisadores descobriram que as atuais populações do leste da África têm 25% de ascendência eurasiana por conta dessa onda migratória. Os povos do leste e do sul devem pelo menos 5% de seu genoma ao evento.
Manica afirma que a pesquisa foi uma grande passo para a ciência, mas ainda não trouxe respostas para a seguinte pergunta: "O que levou essas pessoas a migrarem assim tão de repente?".
EK/rtr/afp/ap
Os dez destaques científicos de 2014 na "Science"
Revista especializada "Science" elege as dez mais importantes descobertas e invenções do ano. No topo da lista está a missão Rosetta, com o robô Philae.
Foto: ESA via Getty Images
Significativo como o pouso na Lua
A maior conquista científica do ano foi a missão Rosetta, com o desembarque da sonda Philae no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, em 12 de novembro. Com 20 instrumentos a bordo, a missão visa explorar as origens da vida na Terra e a formação do universo.
Foto: ESA/Rosetta/Philae/CIVA
Primeira pincelada humana
Mesmo que o pincel na época fosse diferente, as primeiras pinturas rupestres conhecidas têm cerca de 40 mil anos de idade. Elas foram descobertas este ano numa caverna de calcário na ilha indonésia de Celebes. Até então, as mais antigas amostras de pinturas humanas eram as da Europa.
Foto: Anthony Dosseto 2013
Primeiro organismo semissintético
Pesquisadores do Instituto Scripps, nos Estados Unidos, conseguiram em 2014 ampliar a sequência química do DNA de uma bactéria. Acrescentando duas bases artificiais às quatro subunidades de uma cadeia de DNA já existente, eles modificaram o material genético de um organismo vivo. Seu objetivo era descobrir se o DNA ampliado também apresenta novas capacidades.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Warmuth
Parentesco entre dinossauros e pássaros
Várias equipes de pesquisa investigaram a conexão entre aves e dinossauros. Uma constatação é que provavelmente os répteis primeiro desenvolveram uma estrutura física mais leve, facilitando sua busca de abrigo e alimento. Numa fase posterior de desenvolvimento, já como aves, conseguiram levantar então voo com a ajuda das asas.
Foto: picture-alliance/dpa
Esperança na terapia da diabetes
Dois grupos de pesquisadores criaram métodos para imitar as células beta. No pâncreas, elas cuidam que a produção de insulina seja suficiente para controlar o nível de açúcar no sangue. Em pacientes com diabetes tipo 1, essas células são destruídas pelo próprio corpo. e por isso eles têm que receber insulina. Agora há esperança de desenvolver um tratamento para a doença.
Foto: Fotolia/Dmitry Lobanov
Fonte da juventude para ratos
Pesquisadores descobriram que quando a proteína GDF11, retirada do sangue de camundongos de laboratório jovens, é injetada em animais mais velhos, os músculos e cérebro destes se regeneram. Outros cientistas, que usaram sangue e plasma, conseguiram provar que a memória das cobaias melhorou. Agora estão sendo feitos experimentos para deter o mal de Alzheimer com a ministração de plasma sanguíneo.
Foto: picture-alliance/dpa/Marks
Cérebro programável
Com um feixe de laser, é possível reprogramar células de memória geneticamente modificadas de camundongos. Através da técnica conhecida como optogenética, foi possível até substituir más experiências por boas. Agora, os pesquisadores de Stanford esperam também poder curar doenças cerebrais dessa maneira.
Foto: psdesign1/Fotolia.com
Cérebro humano num chip
Chips neuromórficos são microprocessadores que imitam o cérebro humano através de circuitos eletrônicos. Especialistas em informática da IBM conseguiram dar um passo importante nesse sentido. O novo chip, chamado TrueNorth, é especializado em reconhecer padrões e identificar objetos.
Foto: gemeinfrei
Robôs inteligentes
Diversos especialistas em informática conseguiram desenvolver robôs munidos de inteligência de enxame. A tal ponto, que as máquinas foram capazes de construir estruturas simples independentemente, sem ajuda humana. Nesse procedimento, o aspecto mais importante é a cooperação dos próprios robôs entre si.
Foto: picture-alliance/dpa
Satélites do laboratório estudantil
Estudantes dão os últimos retoques no minissatélite que construíram. Esses satélites em forma de cubo existem há algum tempo. Mas 2014 foi um ano de sucesso histórico, com 75 deles sendo lançados em órbita terrestre. Os equipamentos são ideais para realizar tarefas de pesquisa bem específicas, mas não têm espaço para muitos instrumentos.