DNA de Beethoven confirma: gênio musical não está nos genes
2 de abril de 2024
Análise genética do cabelo de um dos compositores e pianistas mais célebres do mundo revela apenas predisposição musical discreta. Mas a falha não é de Beethoven, e sim das predições baseadas exclusivamente na genética.
Anúncio
A genética não basta para explicar o gênio musical de Ludwig van Beethoven (1770-1827), concluiu um estudo recente do Instituto Max Planck de Estética Empírica (MPIEA), dedicado à pesquisa de como e por que se cria arte, e o que a interpretação, vivência e avaliação artísticas implicam.
O ponto de partida foi o exame do DNA contido numa mecha de cabelo do compositor natural de Bonn, na Alemanha, tendo em vista "a pontuação poligênica, um indicador da predisposição genética a um certo traço de comportamento", explica Laura Wesseldijk, principal autora do estudo realizado em cooperação com o Instituto Max Planck de Psicolinguística (MPI-PL) de Nijmegen, na Holanda, e publicado pela revista Current Biology.
O parâmetro-alvo do sequenciamento genético foi a sincronização temporal, tradicionalmente relacionada com a habilidade musical em geral. O fato de Beethoven exibir uma pontuação poligênica discreta para a musicalidade veio como uma surpresa – mas não tanto, para os cientistas envolvidos.
"Antes de realizar qualquer análise, nós pré-registramos o estudo e enfatizamos que não tínhamos nenhuma expectativa prévia de como Beethoven se sairia", observa Wesseldijk. "Em vez disso, nossa meta era usar o caso como um exemplo dos desafios de fazer predições genéticas sobre um indivíduo que viveu mais de 200 anos atrás."
Então Beethoven era antimusical?
"É claro que seria errôneo deduzir a partir da baixa pontuação poligênica que as habilidades musicais de Beethoven não eram excepcionais", explicita o coautor Simon Fisher, do MPI-PL.
Anúncio
A discrepância entre a predição baseada no DNA e o gênio musical de Beethoven – além de criador, também um pianista-prodígio – seria, antes, uma lição valiosa, "demonstrando que se deve ser cético quando, por exemplo, alguém afirma que uma prova genética pode determinar de modo confiável se uma criança será especialmente dotada para a música ou outra área".
O MPIEA conclui: "no total, a constatação de que Ludwig van Beethoven, um dos músicos mais célebres da história da humanidade, tinha uma predisposição genética um tanto baixa para a sincronização temporal ressalta as limitações das predições da pontuação poligênica no nível individual."
"Embora seja de esperar que a predição baseada na pontuação poligênica vá se tornar mais precisa no futuro, é importante lembrar que características humanas complexas, inclusive as habilidades musicais, não são determinadas apenas pelos genes ou pelo meio ambiente, mas antes definidas por sua interação complexa."
av/le (KNA, ots)
Quem foi Ludwig van Beethoven?
O que distinguiu o mestre compositor? Qual dos seus trabalhos marcou a história da música? Como ele era? Conheça melhor o grande compositor alemão que completaria 250 anos em 2020.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
O gênio musical
Ainda criança, Ludwig van Beethoven (1770-1827) era um prodígio. Dizem que seu pai, que queria fazer dele um segundo Mozart, tinha métodos de aprendizado bastante rigorosos. Ludwig tocou seu primeiro concerto aos sete anos. Suas primeiras composições, aos 12. A genialidade só seria evidenciada em obras posteriores, por extrapolarem padrões conhecidos até então, e que continuam inspirando até hoje.
Foto: DW
Estrela já em seu tempo
Hoje, Beethoven é um dos compositores mais ouvidos e interpretados do mundo. Ele já era famoso em vida, o que não era o caso de outros músicos excepcionais de seu tempo. Pense, por exemplo, no triste destino de Mozart, que foi enterrado num túmulo anônimo. Por outro lado, 20 mil pessoas assistiram ao funeral de Beethoven - metade da população do centro da cidade de Viena na época.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Primeiro artista freelancer
Nos períodos barroco e pré-clássico, compositores como Bach, Haydn ou Händel normalmente eram empregados da corte de um príncipe ou rei - ou em uma igreja. Mas com Beethoven não foi assim: ele conseguiu montar um círculo de mecenas que o apoiavam financeiramente com regularidade. Além disso, ganhava dinheiro com os concertos e a publicação de composições.
Foto: picture-alliance / akg-images
Gênio respeitado
Sua obra ainda é fonte constante de inspiração para os músicos. Seus trabalhos incluem nove sinfonias, cinco concertos para piano, o concerto para violino, 16 quartetos de cordas, 32 sonatas para piano, a ópera "Fidelio", a Missa em dó maior op. 86 e a Missa solemnis op. 123. Seus cadernos com manuscritos meticulosos foram preservados, pois Beethoven costumava desenhar e anotar suas ideias.
Foto: picture alliance/H. Lohmeyer/Joker
A fatídica "Quinta"
Ta-ta-ta-taaaa. Quatro notas sem melodia – ultrajante para a época! Hoje, é sinônimo de Beethoven, e a "Sinfonia do Destino" é uma das obras eruditas mais tocadas. No entanto, na sua estreia, em 1808, a "Sinfonia nº 5 em dó menor, opus 67" não foi bem recebida: os sons incomuns deixaram o público perplexo. Além disso, a orquestra havia ensaiado muito pouco e o teatro não estava aquecido.
Foto: picture-alliance/akg-images
O clássico: "Para Elisa"
Uma música que cativa há 200 anos: seja em filme, em espera de telefone, como toque, no elevador ou caminhão de gás. "Para Elisa" é uma das peças de piano mais populares do mundo. Não está claro até hoje quem era Elisa. Beethoven se apaixonou muitas vezes, geralmente sem reciprocidade. Ele nunca teve esposa ou família. A obra pode ter sido dedicada à cantora de ópera Elisabeth Röckel.
Foto: picture-alliance/akg-images
A insuperável "Nona"
As sinfonias são feitas para a interpretação por uma orquestra. Para cantores até então não havia lugar no palco. Como Beethoven não se importava muito com convenções, ele inventou algo novo em sua nona e última sinfonia. Assim, no último movimento, não há apenas cantores, mas também um coral. Parte da "Sinfonia n° 9 em ré menor, op. 125, Coral" tornou-se o hino oficial da União Europeia em 1972.
Foto: akg-images/picture alliance
Além da surdez
É inimaginável: um compositor que já não ouve a própria música. Os problemas auditivos de Beethoven começaram antes mesmo de ele fazer 30 anos. Isso ameaçou não só a sua carreira, mas também a sua vida social. Durante um tratamento em 1802, ele até teve pensamentos de suicídio. Mas o amor pela música o trouxe de volta - seguiram-se 25 anos altamente produtivos.
Beethoven nasceu em Bonn, onde teve as suas primeiras atuações, incentivadores e mentores. Hoje, Bonn se considera A cidade de Beethoven, com o museu Casa de Beethoven e seu amplo arquivo, e o festival anual Beethovenfest. Aos 22 anos, Ludwig mudou-se para Viena, onde encontrou inúmeros apoiadores. Aqui ele também teve aulas de composição com Joseph Haydn. Beethoven morreu em Viena em 1827.