DNA revela descendente direto de duas espécies de hominídeos
23 de agosto de 2018
Análise de fragmento de osso de 90 mil anos mostra que uma jovem de cerca de 13 anos era filha de mãe neandertal e pai de grupo conhecido como denisovan. Cientistas comemoram descoberta inédita.
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Cientistas afirmam ter encontrado remanescentes de uma jovem pré-histórica que seria filha de mãe neandertal e de pai que pertencia a outro grupo de humanos conhecido como denisovans.
Um fragmento de osso de 90 mil anos de idade encontrado numa caverna no sul da Sibéria possibilitou a descoberta inédita de um descendente direto desses dois grupos, afirma o estudo publicado nesta quarta-feira (22/09) pela revista científica Nature.
A filha, a quem os cientistas da Universidade de Oxford deram o nome de Denisova 11, tinha pelo menos 13 anos de idade quando morreu por razões desconhecidas.
As espécies humanas Homo neanderthalensise Homo denisova desapareceram há cerca de 40 mil anos. O primeiro grupo viveu na Europa e na Ásia, enquanto o segundo foi encontrado apenas na caverna onde o fragmento foi recolhido.
Estudos genéticos já mostravam a ocorrência do cruzamento entre os dois grupos, da mesma forma como ocorreu com o Homo sapiens, deixando um traço no DNA nos humanos atuais. Entretanto, o estudo divulgado pela Nature é o primeiro a identificar um filho de pais neandertal e denisovan.
"Havia anteriormente provas de cruzamentos entre diferentes hominídeos ou grupos antigos de humanos", afirma Vivian Slon, pesquisadora do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária de Leipzig e uma das autoras do estudo. "Mas essa é a primeira vez que encontramos um descendente direto de primeira geração", destacou.
"É fascinante encontrar uma prova direta dessa mistura", diz Svante Paabo, geneticista do Instituto Max Planck e coautor do estudo.
Ele se diz surpreso com a descoberta, por haver relativamente poucos vestígios de grupos de outras espécies humanas que coexistiram com o Homo sapiens. Encontrar sinais de um descendente dos grupos neandertal e denisovan, que são mais distintos entre si do que quaisquer outros grupos humanos atualmente existentes, parece um raro golpe de sorte, afirmou.
"O simples fato de termos encontrado esse indivíduo de origem mista neandertal e denisovan sugere que o cruzamento entre raças ocorria com mais frequência do que pensávamos", diz Slon. "Eles devem ter tido filhos juntos com alguma frequência, ou não teríamos essa sorte", completa Paabo.
Um Homo sapiens encontrado na Romênia, de 40 mil anos, com traços de um ancestral neandertal de algumas gerações anteriores, reforça essa noção. Provas mais decisivas do cruzamento entre grupos diferentes estão nos genes dos humanos atuais. Cerca de 2% do DNA de indivíduos não africanos em todo o mundo se origina dos neandertais.
Os remanescentes dos denisovan estão bastante espalhados, mas de modo desigual. "Encontramos traços de DNA denisovan – menos de 1% – em toda a Ásia e nos indígenas nativos da América", explica Paabo. "Os aborígenes australianos e as pessoas da Papua Nova Guiné possuem cerca de 5%."
A nova descoberta pode ajudar a responder à questão de por que os neandertais desapareceram há cerca de 40 mil anos, após terem se espalhado por partes da Europa Central e Ocidental. Especula-se que tenha sido por doenças, mudanças climáticas, genocídio pelas mãos dos Homo sapiens ou uma combinação desses fatores.
Os mais antigos artefatos feitos por humanos, de 40 mil anos atrás, foram encontrados na Suábia, no sul da Alemanha. As seis cavernas onde objetos foram localizados são candidatas a patrimônio cultural da Unesco.
Foto: LAD, Y. Mühleis
A Vênus de Hohle Fels
Descoberta em 2008, a figura de Vênus da gruta de Hohle Fels data de 35 mil anos atrás. A mais antiga representação de figura humana é o mais conhecido dos 50 artefatos encontrados nas grutas da Suábia. Esculpida em marfim de mamute, a estatueta de 6 cm tem seios volumosos. Um pequeno aro substitui a cabeça, uma indicação de que a peça tenha sido usada como pingente.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
A caverna Hohle Fels
Os arqueólogos encontraram a figura feminina nesta caverna. A maioria dos artefatos encontrados representa animais e remonta ao período aurignaciano (início do paleolítico superior) um tempo em que o neandertal e o homo sapiens viveram, em parte, lado a lado, e procuravam abrigo em cavernas. Já naquela época havia inúmeras grutas na região de Schwäbische Alb (montanhas da Suábia).
Foto: H. Parow-Souchon
O vale do rio Ach
Durante a era do gelo havia poucas florestas nesta região, coberta de estepes e habitada por mamutes e renas. Hoje em dia, a área, que tem mais de duas mil cavernas, é coberta por bosques. Seis das grutas onde aconteceram os achados espetaculares são candidatas a patrimônio cultural da humanidade. A candidatura foi oficializada no início do ano passado pelo estado alemão de Baden-Württemberg.
Foto: LAD, Chr. Steffen
Instrumento musical pré-histórico
O ser humano já fazia música há 40 mil anos. A prova são três flautas encontradas no abrigo rochoso Geißenklösterle, no sul da Alemanha, em 2009. A mais bonita delas, feita de marfim, pode ser vista junto com a Vênus no Museu da Pré-História da cidade alemã de Blaubeuren. O abrigo rochoso Geißenklösterle está bloqueado por uma cerca, mas, como não é muito profundo, pode ser visto a partir de fora.
Foto: Claus Rudolph, Urmu
Gruta Sirgensteinhöhle
A gruta Sirgensteinhöhle, de 42 m de comprimento, é aberta a visitantes e fecha só no inverno europeu, para a proteção dos morcegos que ali vivem. Os arqueólogos descobriram que o homem pré-histórico permanecia principalmente na entrada da caverna, onde fazia fogo, trabalhava e dormia. Há 500 anos, acreditava-se que na caverna havia vivido um monstruoso ciclope (gigante imortal com um só olho).
Foto: LAD, M. Steffen
Vale do rio Lone
As três outras grutas indicadas a patrimônio da humanidade ficam no vale do rio Lone, perto de Heidenheim. Elas se chamam Vogelherd, Hohlenstein Stadel e Bockstein. Da mesma forma como no vale do Ach, os sítios são área protegida. Não podem ser feitas alterações na área sem consentimento das autoridades de defesa do patrimônio. Sem essa garantia, a candidatura à Unesco não teria chance.
Foto: LAD, O. Braasch
A gruta Hohlenstein Stadel
As escavações nas cavernas da Suábia começaram no século 19. Os arqueólogos descobriram ali restos de fogueiras, armas, ferramentas e adornos feitos de pedra, chifre, marfim e osso. Em 1861, foram encontrados na gruta Hohlenstein 10 mil ossos de ursos. Apenas uma parte da caverna é aberta a visitantes.
Foto: Museum Ulm
Figura com traços humanos e de leão
A maior peça encontrada na gruta Hohlenstein Stadel é este artefato em marfim, de 31 cm de altura. Na foto, ele é visto de diferentes perspectivas. A peça, que faz parte do acervo do museu em Ulm, foi reconstruída quase completamente a partir de mais de 300 pedaços. Os arqueólogos não conseguiram identificar se se trata de homem ou mulher, por isso o chamam "Löwenmensch", "humano leão".
Foto: LAD, Y. Mühleis
Gruta Vogelherd
A localização da gruta Vogelherd era perfeita para o homem pré-histórico porque oferece uma ótima vista para o vale. Já se podia avistar os perigos de longe. Ou localizar a caça. Ali foram encontradas dez pequenas figuras de animais feitas de marfim de mamute. Um leão e uma figura de mamute podem ser vistos no parque temático arqueológico que fica junto à caverna.
Foto: LAD, Th. Beutelspacher
Cavalo selvagem
Uma figura de cavalo selvagem de cerca de cinco centímetros é considerada a principal peça encontrada na gruta Vogelherd. Seu pescoço curvado e as formas redondas e elegantes refletem a habilidade artesanal do homem pré-histórico. Ele está exposto no castelo de Tübingen, juntamente com outros achados das cavernas.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
Gruta Bockstein
No rochedo Bockstein, no vale do Lone, há várias cavernas que podem ser acessadas. Os artefatos encontrados apontam que ali já moraram neandertais há mais de 60 mil anos. Em julho próximo, a Unesco vai decidir se "as cavernas com a mais antiga arte da era do gelo" virarão patrimônio cultural da humanidade.