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Brecht, sua vida, obra e mulheres na Berlinale

Jochen Kürten
10 de fevereiro de 2019

Produzido para a TV em duas partes, filme combina documentário e cenas com atores para ilustrar trajetória de um dos maiores dramaturgos alemães do século 20. Em foco, as tumultuadas relações amorosas de Bertolt Brecht.

Ator Tom Schilling representa Brecht em minissérie alemã
Ator Tom Schilling representa Brecht jovem na minissérieFoto: Stefan Falke/WDR

O cineasta Heinrich Breloer acredita que "todos nós carregamos conosco imagens diversas de Bertolt Brecht". Para confirmar a tese, ele lança na Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, seu olhar próprio sobre o dramaturgo e poeta alemão. Trata-se de uma produção para TV em duas partes, que irá ao ar no país no fim de março.

Juntamente com o colega Horst Königstein, morto em 2013, Breloer é considerado o criador do docudrama, uma forma híbrida, hoje estabelecida, entre filme de ficção e documentário. Ele alcançou maestria nesse gênero, sendo muito elogiado por suas produções a respeito de personalidades e acontecimentos políticos, históricos e culturais.

Especialistas elogiam o docudrama justamente por sua "forma aberta". Eles mostram a "realidade" por trás da ficção e ao mesmo tempo enriquecem o documento cinematográfico com um nível interpretativo adicional. E aqui é possível ver paralelos com o trabalho brechtiano, já que também o dramaturgo defendia uma cultura teatral "aberta", em que os espectadores não se sentissem seguros dentro de uma ilusão.

"Assim como Brecht leva os atores até o proscênio para falarem de seus papéis, quebrando, assim, a ilusão, esse distanciamento também ocorre quando eu interrompo a representação cênica com a documentação", comenta o diretor sobre a relação entre conteúdo e forma em sua nova produção.

Burkhart Klaussner como Bertolt Brecht mais velhoFoto: WDR/Nik Konietzny

Na primeira parte de Brecht, o espectador é confrontado com o autor durante a República de Weimar, quando ele ascende a astro do teatro alemão, primeiro como adolescente que, na escola secundária, lia em público seus ensaios antipatrióticos; depois como jovem e selvagem gênio da poesia, celebrando na peça Baal  a si mesmo e ao teatro enquanto máquina de emoções.

Por fim, ele aparece como o criador de Tambores na noite  e A Ópera dos Três Vinténs, a qual se torna o maior sucesso teatral da República de Weimar. Ao fim da primeira parte da minissérie, o ano é 1933, a tomada de poder pelos nacional-socialistas. Brecht está a caminho de seu primeiro exílio, em Praga.

A segunda parte o encontra nos primeiros anos do pós-guerra. Na Alemanha Oriental, sob regime comunista, ele é festejado por uns como grande inovador, enquanto outros o olham com desconfiança. Breloer explora com sensibilidade o fato de o ator ter amigos e inimigos em ambas as Alemanhas, de admiradores públicos aos guardiães da ideologia unificada socialista.

Em nenhuma época ou lugar de sua vida ele é um homem sobre quem haja uma opinião unânime. Pois, até mesmo na Alemanha Ocidental do pós-guerra, havia tanto patrocinadores quanto uma maciça frente contra o fundador do teatro Berliner Ensemble, que sempre se definiu como "comunista".

Ficção na ficção: Adele Neuhauser (dir.) como Helene Weigel representa Mãe CoragemFoto: WDR/Michael Praun

O que eleva o docudrama de Heinrich Breloer acima de uma bem comportada narrativa biográfica é o olhar sobre a vida privada do também ativista político. O tema "Brecht e as mulheres" se estende sobre todos os 180 minutos do filme, e o cineasta o coloca sob uma luz bastante crítica. Não como um misógino, mas sim como mulherengo que pouco ligava para moral e empatia.

"Amigos e colaboradores que já viram o filme dizem que tiveram que pensar constantemente no movimento #MeToo, é quase inevitável", conta Breloer. De fato: Elisabeth Hauptmann, Ruth Berlau, Marianne Zoff, Paula Banhölzer, Regine Lutz e, é claro, a atriz Helene Weigel acompanharam o autor durante anos, por vezes vivendo ao mesmo tempo com ele, e todas sofriam com a situação.

Um dos pontos fortes da série em duas partes é Breloer não evitar explorar essas arestas de caráter de Bertolt Brecht, e sim entrelaçar com elegância os diferentes aspectos biográficos: vida e obra, amor e refinamento poético.

Nem todos apreciarão essa decisão, contudo, alguns talvez percebam como íntima e pessoal demais essa penetração na vida particular, tantos anos após a morte do artista. Outros gostarão, justamente, que Brecht desça um pouco do "pedestal". Para o diretor Heinrich Breloer, a resposta é fácil: "Todos nós carregamos conosco imagens diversas de Brecht."

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