Documentário mostra lado emotivo e familiar de Schumacher
Silke Wünsch
23 de setembro de 2021
Filme sobre o heptacampeão de Fórmula 1 relembra sucessos e desafios de um corredor frio e calculista, destacando também o lado humano do piloto alemão. Mas seu estado de saúde permanece um mistério.
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O documentário Schumacher, que estreou na Netflix, apresenta o lendário piloto de corridas às pessoas mais jovens e o traz de volta à memória de todos aqueles que quase já o haviam esquecido. O filme não explica nada, não justifica nada, não pressiona a glândula lacrimal – apenas descreve. Conta a história de um menino da Renânia, região no oeste da Alemanha, que sempre desejou, e conseguiu, se tornar um grande piloto de corridas.
O estado de saúde do heptacampeão mundial de Fórmula 1 é segredo guardado cuidadosamente pela família e por amigos próximos e permanece um mistério desde o grave acidente sofrido nos Alpes Franceses no final de 2013, do qual não se recuperou até hoje.
Aos 4 anos, Schumacher se senta pela primeira vez em um mini kart originalmente de pedais, adaptado pelo pai com um motor. Isso fascina o pequeno Michael. Ele praticamente cresceu na pista de kart gerenciada pelos pais. Ele disputa corridas e se torna um competidor fantástico, tem um estilo de direção inconfundível e chama a atenção de caçadores de talentos. O jovem Michael nunca pensara que uma dia participaria do circo da Fórmula 1 – algo normalmente só possível com muito dinheiro. Mas isso é garantido por patrocinadores que acreditam no talento do jovem piloto e o levam a classes de corrida cada vez mais altas.
Em 1991, finalmente participa de sua primeira corrida de Fórmula 1 em Spa, na Bélgica. Termina em sétimo na qualificação, mas não chega a terminar a corrida. Mesmo assim, prova sua capacidade na principal categoria do automobilismo e mostra que não tem medo de grandes pilotos, como Ayrton Senna e Nelson Piquet. A performance do jovem talentoso e autoconfiante fascina a todos, e até mesmo as estrelas da categoria se surpreendem.
Ascensão meteórica
A Benetton contrata Schumacher. Ele ganha sua primeira corrida de F1 em 1992, e seu primeiro título mundial em 1994. Nunca um piloto havia sido tão jovem, tão combativo. Senna, considerado uma lenda absoluta, sofre um acidente fatal nesta temporada – e agora é Schumacher o número 1.
O documentário mostra, além da ascensão quase meteórica de Schumacher, momentos polêmicos do campeão – seu estilo de direção intransigente também era perigoso para seus oponentes. Os contratempos também não ficaram de fora – e a longa e dura luta de Schumacher na Ferrari, que duraria cinco anos antes que ele finalmente garantisse o campeonato mundial para a equipe italiana, por cinco anos consecutivos.
A equipe de filmagem entrevistou muitos de seus colegas – incluindo seus rivais Mika Häkkinen, David Coulthard e Damon Hill. Nomes poderosos da Fórmula 1 de então também dão seu depoimento: Bernie Ecclestone, Flavio Briatore, Ross Brawn e muitos outros.
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Família permanece unida
Mas são os membros da sua família que contam as histórias mais pessoais. Sua mulher, Corinna, seu pai, Rolf, seu irmão Ralf, seu filho Mick e sua filha Gina. Aqui falam aqueles que continuam tentando aceitar o fato de que Michael Schumacher provavelmente nunca mais vai se recuperar. Ele está lá, segundo a esposa, mas diferente de antes. "Ele me mostra ainda hoje, todos os dias, como continua forte", diz Corinna Schumacher. O filho Mick, que também corre na Fórmula 1 desde este ano, daria tudo pelo momento em que pudesse conversar sobre automobilismo com o pai.
Mais do que isso, o filme não revela. A família quer ser deixada em paz, antigamente Michael costumava proteger a todos, e agora sua família o protege. Filmes e fotos particulares são mostrados, mas tudo termina com o acidente de esqui em Méribel, na França.
A pessoa por trás do volante
O documentário mostra naturalmente um herói da Fórmula 1, o maior piloto de corrida de todos os tempos. Muitas cenas grandiosas e quase icônicas da carreira de Schumacher são mostradas, vitórias e derrotas, no inferno chuvoso de Barcelona, sob o sol forte de Monza.
Mas a pessoa Michael Schumacher é que costuma ficar em primeiro plano. A fria máquina de precisão atrás do volante dá lugar ao cara carregado de emoções que irrompe em lágrimas em uma entrevista, que obviamente ama a mulher e para quem os filhos são o que há de mais precioso.
O filme, que não conta nada de novo, mantém o cuidado de não entrar demais na privacidade da família. É uma homenagem a uma lenda do automobilismo cheio de belas e espetaculares imagens. Um trabalho que mostra respeito por um homem que desapareceu dos olhos do público por quase oito anos devido a um trágico acidente. O único reparo é que uma trilha sonora menos dramática e agridoce teria feito bem ao documentário.
O legado incontestável de Michael Schumacher
Sete títulos mundiais, 91 vitórias e muitos recordes na principal categoria do automobilismo. O alemão continua sendo o piloto que mais conquistou prêmios.
Foto: picture-alliance/Sven Simon/E. Kremser
Tudo começa no kart
Nascido em 3 de janeiro de 1969, Schumacher (segundo da esq.) começa, como muitos pilotos de F1, no kart. Com 12 anos, tira carteira de piloto da categoria. Ele vence diversos campeonatos alemães e europeus antes de passar para outras modalidades a partir de 1987. Mas ele continua sempre fiel ao kart, onde atua como mentor de seu irmão, Ralf, que posteriormente também consegue atuar na Fórmula 1.
Foto: picture-alliance/Hoch2/Ronco
Estreia na Fórmula 1
Pode ser surpresa para alguns o fato de Michael Schumacher não ter começado sua carreira de Fórmula 1 na Benetton, mas na Jordan. Mas, em 1991, ele só largou pelo time fundado por Eddie Jordan (esq.) numa única corrida, no Grande Prêmio da Bélgica em Spa-Francochamps. Problemas na embreagem obrigaram o piloto de 22 anos a abandonar a prova ainda na primeira volta.
Foto: picture-alliance/Panimages
Chegada à Benetton
Cinco corridas depois, Michael Schumacher volta a competir na Fórmula 1, depois de ser contratado pela Benetton. Em seu primeiro ano na categoria, ele consegue quatro pontos, ficando na posição 14 no campeonato de 1991.
Foto: picture alliance / dpa
Primeira vitória num Grande Prêmio
Um ano após a estréia na F1, ele ganha em Spa-Francorchamps seu primeiro Grand Prix, no circuito que mais tarde ele diz ser seu preferido. Na imagem, o britânico Nigel Mansell campeão da temporada de 1992, ajuda Schumacher a levantar a taça. Schumi termina aquele ano com 53 pontos, no terceiro lugar.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA
Primeiro título mundial
Apenas dois anos depois, Michael Schumacher deixa todos os seus concorrentes para trás pela primeira vez. Mas a temporada de 1994 foi marcada pela morte de Ayrton Senna e de Roland Ratzenberger em Ímola. Mesmo assim, Schumi comemora seu primeiro título em Adelaide, na Austrália, com sua equipe Benetton. Em 1995, ele conquista o bicampeonato.
Foto: picture-alliance/Panimages
Ferrari
Em 1996, Schumacher vai para a Ferrari. Após um longo período sem títulos no início de sua carreira com a equipe italiana, ele vive os anos mais bem-sucedidos na Fórmula 1, com cinco títulos seguidos entre 2000 e 2004. Nos anos anteriores, Schumacher havia voltado a fazer da Ferrari uma equipe de ponta, ganhando o primeiro campeonato da equipe desde o título de Jody Scheckter, em 1979.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Melchert
Manobras pouco nobres
Michael Schumacher também passava dos limites. Na última corrida de 1997, ele jogou seu carro contra o de Jacques Villeneuve, quando o canadense tentava uma ultrapassagem. Schumi vai parar na caixa de brita. Villeneuve termina a prova em terceiro e se torna campeão mundial. A FIA desqualifica Schumacher como punição pela manobra, tirando todos os pontos obtidos pelo alemão naquela temporada.
Foto: picture-alliance/ASA/LAT Photographic
Última vitória em GPs
Em 1° de outubro de de 2006, Schumi venceu seu último Grande Prêmio. Em Xangai, foi a 91ª vitória de sua carreira na Fórmula 1. No final daquela temporada, o piloto se aposentava da modalidade, aos 37 anos. Ela terminara o ano como segundo colocado. Em 2007, ele assumiu o posto de conselheiro na Ferrari.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Breloer
Jogador de futebol apaixonado
Não somente nos pedais, mas também no gramado Michael Schumacher prova ter muito talento nos pés. Torcedor do Colônia e jogador apaixonado, ele participa de partidas com famosos, sempre fazendo bonito com a bola. Quando passa o Natal em sua casa em Trysil, na Noruega, chega mesmo a treinar e jogar com o time de terceira liga Nybergsund IL.
Foto: JOHN THYS/AFP/Getty Images
Desafiando limites sobre duas rodas
Em 2008, ele concorre como piloto amador numa série de corridas de moto, sofrendo alguns tombos (foto). No começo de 2009 em Cartagena, um acidente faz com que ele quebre uma costela e sofra leve traumatismo cranioencefálico. As sequelas da queda fazem com que ele descarte um retorno à Fórmula 1 em agosto de 2009, quando deveria substituir Felipe Massa após um acidente sofrido pelo brasileiro.
Foto: Getty Images
Volta às pistas
Em 2010, Michael Schumacher retorna à Fórmula 1 pela Mercedes, mas com sucesso limitado. No Grande Prêmio da Europa em 2012 em Valencia, na Espanha, Schumi consegue o terceiro lugar. Com 43 anos e 173 dias, ele é o piloto mais velho a chegar ao pódio. Após a temporada de 2012, ele se aposenta definitivamente da Fórmula 1.
Foto: Getty Images/C. Mason
O acidente de esqui
Em 29 de dezembro de 2013, Michael Schumacher perde o controle ao andar de esqui nos Alpes franceses e bate a cabeça contra uma rocha. Apesar do capacete, ele sofre graves ferimentos na cabeça. Após diversas operações e coma induzido, seus assessores anunciam que Schumi voltou à consciência em junho de 2014. Desde então, ele vive recluso em sua mansão em Gland, na Suíça.
Foto: Getty Images
Um terceiro Schumacher da F1?
Michael não era o único membro da família na Fórmula 1. Seu irmão mais novo, Ralf, corre entre 1997 e 2007 pela Jordan, Williams e Toyota e ganha seis corridas. O filho de Michael, Mick (foto) vence em 2018 o Campeonato Europeu de Fórmula 3 e deve ir para a Fórmula 2. Uma ascensão para a Fórmula 1 poderia ser possível.