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Gerhard Richter

14 de setembro de 2011

O pintor Gerhard Richter ocupa, há anos, o primeiro lugar na lista de best-sellers do mercado internacional de artes. Um documentário observa o artista, de perto, em seu ateliê.

Foto: Piffl Medien

"As imagens fazem o que elas querem", diz o pintor numa cena do documentário Gerhard Richter – Painting (Gerhard Richter – Pintura), deixando claro um princípio importante de seu trabalho: o artista, hoje com 79 anos, deixa muita coisa a cargo do acaso.

Seus quadros são o resultado de um processo longo e em aberto. De forma semelhante ao reboco de um pedreiro, ele vai passando a tinta em camadas. Às vezes com um pincel, outras com uma espátula raspadeira gigante. Com esse enorme utensílio de trabalho, ele distribui a tinta em grandes superfícies sobre a tela.

A diretora Corinna Belz observou o pintor durante vários meses com a câmera – nos ateliês dele de Hahnwald, bairro nobre de Colônia, e no centro da cidade, e na preparação de exposições na própria Colônia, em Londres e em Nova York. A cineasta volta o olhar também para o início da trajetória do artista, nascido em Dresden, que mudou-se para o Oeste em 1961 e passou mais de 20 anos sem regressar ao território da Alemanha Oriental.

Carreira no Oeste

Raspadeira é uma das ferramentas importantes para o trabalho do artistaFoto: Piffl Medien

A arte que servia de propaganda ao regime nazista, bem como aquela patrocinada pelo Estado na antiga Alemanha Oriental, com suas mensagens estereotipadas, tiraram do artista a crença na pintura. Dois anos após sua fuga de Dresden, Richter expôs, pela primeira vez, seus trabalhos em Düsseldorf, a cidade que havia escolhido para viver na então Alemanha Ocidental.

Ele define sua arte como "realismo capitalista". A cor cinza, que viria a dominar no famoso ciclo Stammheim, já marcava, naquele momento inicial, uma série de pinturas monocromáticas dos anos 1970. Richter afirmou certa vez que o cinza corresponde à negação do testemunho, à falta de imagem e de opinião.

Na Alemanha Ocidental, o artista fez uma carreira alucinante, sendo hoje considerado um dos pintores contemporâneos mais conceituados do mundo. Suas obras estão expostas em museus de diversos países e colecionadores brigam para pagar cifras milionárias por elas. Além do mercado internacional de arte, também a Igreja Católica já mostrou seu apreço pelo pintor, ao convidá-lo, em 2007, para projetar um vitral na fachada da nave transversal da Catedral de Colônia.

O artista trabalhando

O pintor frente à telaFoto: Piffl Medien

Por essa ocasião, a diretora Corinna Belz pôde filmar o artista de perto, e acabou assim ganhando sua confiança. Somente por causa disso o documentário já é um testemunho extraordinário, já que o artista, conhecido pela sua aversão à mídia, abre raramente seu ateliê para desconhecidos e praticamente nunca concede entrevistas. Em Gerhard Richter – Painting, o espectador pode passar 101 minutos literalmente ao lado do pintor.

A câmera mostra os movimentos de seu pincel, observa como ele empurra uma raspadeira gigante sobre a tela ou como arranha, propositalmente, as tintas. As rugas vão se sobrepondo, criam nuances não esperadas ou constituem uma superfície opaca sobre camadas secas de tinta. Richter observa, espera e deixa as obras agirem sobre ele.

Ele somente para quando nada mais está errado em uma pintura, diz o pintor ao amigo e crítico de arte Benjamin Buchloh, que o visita no ateliê no bairro Hahnwald, em Colônia. De início, completa Richter, ele "borra" a tinta sobre a tela, para então "reagir". Esse processo, contudo, assinala o artista em conversa com Buchloh, não ocorre automaticamente, sem um plano.

Imagens que falam por si

Gerhard RichterFoto: Piffl Medien

Richter conta com a ajuda de dois assistentes no trabalho. Eles filtram as tintas, auxiliam a distribuir os quadros nas paredes. Uma diretora de ateliê coordena questões relacionadas a exposições, transporte e mantém jornalistas indesejados longe do artista. Richter prepara minuciosamente suas exposições. Antes de expor, ele dependura miniaturas de fotos de suas obras em maquetes que ele mesmo constrói dos museus e galerias que vão abrigar as obras posteriormente.

Assim ele define o lugar de cada quadro na exposição. É comum ver o artista com uma câmera digital, fazendo fotos de suas obras. Desta forma, ele parece querer tomar distância do original, a fim de poder vê-lo a partir de outra perspectiva. Richter é, de qualquer forma, de poucas palavras. No documentário, ele responde às perguntas da diretora Corinna Belz com poucas frases.

Ele parece querer se proteger de qualquer interpretação de suas obras, negando-se, assim, a comentar sobre o significado de seu trabalho para a história da arte. Em vez disso, prefere reagir com respostas superficiais. "Pintar é algo reservado", diz Richter numa das cenas do filme.

O que faz do documentário interessante não é presença intelectual dessa obra de peso internacional, mas sim o indisfarçável olhar sobre o processo da pintura. Ele quase parece um procedimento administrativo, quando Gerhard Richter, vestindo um terno elegante, produz quadro a quadro, sem deixar cair nenhum pinguinho de tinta em sua roupa.

Autora: Sabine Oelze (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque

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