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Documenta 14 deixa saudades em Atenas

Andrea Kasiske ca
16 de julho de 2017

Parte ateniense da maior mostra mundial da arte contemporânea chega ao fim. No início, nem taxistas sabiam onde ela acontecia, mas aos poucos gregos se entregaram à arte. Em Kassel, exposição vai até meados de setembro.

Documenta 14 in Athen Rasheed Araeen
Na obra de Rasheed Araeen, comida é servida gratuitamente em AtenasFoto: Getty Images/AFP/L. Gouliamaki

"É uma pena que em breve isso não vai mais existir", disse uma senhora idosa com uma imponente trança de cabelos brancos. Ela estava falando da comida gratuita servida numa tenda colorida de um pavilhão na praça da prefeitura de Atenas. O que ela talvez não soubesse é que se tratava de um projeto artístico do paquistanês Rasheed Araeen. E talvez ela também não se importasse. Assim como muitos outros necessitados, ali, ela possui cadeira cativa.

"Como interessada imparcial da Documenta, é preciso ter coragem para sentar-se à mesa e 'tirar' a comida daqueles que dela mais precisam", formulou uma visitante alemã o seu desconforto com a obra.

Mas, agora, depois de cem dias, chega ao fim neste domingo (16/07) na capital grega a parte ateniense da maior mostra mundial de arte contemporânea que acontece a cada cinco anos em Kassel. Pela primeira vez, a Documenta se dividiu em duas locações. Na cidade alemã, ela poderá ser visitada até 17 de setembro.

"Aprendendo de Atenas"

Adam Szymczyk, diretor artístico da Documenta, ousou elaborar uma mostra em duas locaçõesFoto: picture-alliance/dpa/U. Zucchi

"Aprendendo de Atenas" foi como se chamou o tão comentado e questionado lema da 14ª edição da Documenta. E agora, mesmo no final da mostra, parece que ninguém consegue explicar do que isso realmente se trata. Para Marina Fokidis, assessora de curadoria da mostra dupla, "muitos teriam levado essa frase ao pé da letra". Segundo ela, ninguém tinha em mente uma ideia de "lição".

Documenta na Grécia: contemporâneo x clássico

06:50

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Como ateniense, para ela, o importante foi aprender mutuamente em ambas as equipes organizacionais – a extenuante luta pela arte e por artistas. Um processo que já havia começado, de qualquer forma, em 2014, quando o diretor artístico da Documenta 14, Adam Szymczyk, expôs as suas ideias em primeiras conversas com artistas e instituições em Atenas.

Fokidis afirmou não concordar com a crítica de que a Documenta teria "exoticizado" Atenas. "Uma 'poornografia' [em alusão a 'poor', pobre em inglês] era justamente o que não queríamos; não queríamos fazer uma exposição nem dedicada à crise nem às relações grego-alemãs", disse ela quase indignada. Mas a mostra não conseguiu se livrar nem de uma coisa nem da outra, mas por que deveria?

Arte e locação se mesclam em Atenas

Uma antiga fábrica, no sudoeste de Atenas, onde nazistas executaram 75 combatentes da resistência grega se tornou palco para uma performance e um projeto de filme com escolares do bairro. A mostra em Atenas teve uma ligação direta com o lugar, com a situação histórica e atual. Resta então a pergunta, o que fica da Documenta?

Para o coreógrafo Kostas Tsioukas, é claro que ela vai continuar. Durante três meses, ele dançou diante das colunas do Museu Arqueológico no porto ateniense de Pireu, aconchegando-se em esculturas, meditando sobre o mármore. Seu projeto conjunto de dançarinos e artistas performáticos foi tão bem-recebido que o museu pretende continuar a colaboração.

Arte contemporânea se encontra com Antiguidade no Museu Arqueológico de PireuFoto: DW/A. Kasiske

"Documenta deixa um grande vácuo"

Para Atenas, trata-se de uma novidade, pois a Antiguidade ainda é considerada o verdadeiro bem cultural, enquanto a arte contemporânea continua deixada de lado. E essa situação não deverá mudar tão rapidamente, explicou Eleni Kountouri, diretora de NEON, a terceira grande fundação privada de apoio à arte contemporânea na Grécia, além das fundações Onassis e Niarchos.

"A Documenta deixa um grande vácuo", afirmou Kountouri. A diretora explicou que agora existe um 'hype' em torno de Atenas, também impulsionado pela Documenta, e que ela está recebendo atualmente muitas solicitações de contatos de galerias e artistas gregos e das muitas iniciativas jovens locais.

No entanto, ela disse não acreditar que esse 'hype' vá ter um impacto sobre a formação de artistas ou financiamento da arte. "O Ministério da Cultura grego não tem dinheiro e, em matéria de arte contemporânea, é simplesmente ignorante", lamentou a diretora da fundação NEON.

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